Ao atacar Dino, Bolsonaro deu mais um tiro no pé e elevou o maranhense ao posto de adversário mais importante

 

Flávio Dino responde a ataque rasteiro de Jair Bolsonaro

O mal-estar político causado por mais uma declaração destrambelhada do presidente Jair Bolsonaro (PSL), ao atacar os governadores Flávio Dino (PCdoB) e João Azevêdo (PSB), da Paraíba, feita num momento absolutamente inadequado, demonstrou, com clareza solar, o grau de primarismo que move as suas ações políticas e a sua espantosa ignorância sobre a base institucional do Estado brasileiro. Quando orientou ao seu chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que é deputado federal pelo DEM do Rio Grande do Sul, no sentido de “Daqueles governadores de Paraíba (…), o pior deles é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, referindo-se ao governador do Maranhão, o presidente escancara, de maneira irreversível, visão política primitiva, que não se enquadra no jargão “nova política”, que ele próprio cunhou, provavelmente sem se dar conta da bobagem que estava fazendo. Com sua inabilidade, o presidente deu ao governador do Maranhão o status de adversário, reforçando o prestígio que vem fortalecendo sua imagem de democrata com viés de esquerda e que, respeitado por todos os segmentos políticos do País, caminha para ser seu com corrente na eleição presidencial de 2022.

A confirmação do seu despreparo deu-se ontem em várias situações. Primeiro, insistiu, com argumentos medíocres, na escolha do filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), para ser embaixador nos Estados Unidos. Depois, cruzou os braços para a situação de depois cargueiros iranianos, que se encontram carregados de milho no mar de Santa Catarina, mas que não podem ser abastecidos pela Petrobras por conta das sanções norte-americanas à pátria dos aiatolás, correndo o Brasil o risco de comprometer a relação com um País que importa um R$ 1,2 bilhão por ano em produtos brasileiros. E, finalmente, a inacreditável declaração de que vai impor um filtro na Ancine, de modo a evitar que a Agência Nacional de Cinema financie filmes como “Bruna Surfistinha”, por ele considerado “pornô”

Conhecedor das leis brasileiras como ex-juiz federal e como ex-deputado federal, e defensor intransigente da livre manifestação do pensamento, o governador Flávio Dino respondeu ao ataque nervoso do presidente com o equilíbrio que só os políticos sérios  são detentores: “Independentemente de suas opiniões pessoais, o presidente da República não pode determinar perseguição contra um ente da Federação. Seja o Maranhão ou a Paraíba ou qualquer outro Estado. ´Não tem que ter nada para esse cara` é uma orientação administrativa gravemente ilegal”.

Não há qualquer dúvida de que as declarações do presidente da República em relação aos governadores nordestinos foi um desatino político, agravado muitas vezes pela clara orientação dada ao chefe da Casa Civil no sentido de retaliar o governador do Maranhão por causa da sua posição em relação ao seu Governo. Qualquer avaliação isenta do episódio certamente concluirá que o presidente cometeu dois erros graves. O primeiro de natureza institucional, por desrespeitar a Constituição ao referir-se aos líderes do Nordeste como inimigos. E o segundo, de natureza política, ao nomear o governador do Maranhão e apontá-lo como “o pior deles”. O governador Flávio Dino deve ter se sentido estimulado ao ser praticamente nomeado inimigo político Nº 1 do presidente da República, situação que certamente o colocará, agora em condições bem mais férteis, na corrida ao Palácio do Planalto.

O destrambelho institucional do presidente foi corretamente rebatido pelos governadores atacados, que em carta aberta criticaram duramente as suas declarações, defenderam o princípio federativo da agressão e cobraram uma explicação. Ao invés de assumir o malfeito e dar uma explicação convincente, o presidente mergulhou no silêncio e mandou a Assessoria de Imprensa comunicar aos governadores e ao mundo que não comentará o fato – muito provavelmente porque não encontrou nenhuma explicação lógica.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Ataque de Bolsonaro à FHC deixa Roberto Rocha numa situação complicada como líder do PSDB

Roberto Costa dificilmente responderá a ataque de Jair Bolsonaro ao ex-presidente Fernando Henrique

As inacreditáveis declarações dadas ontem pelo presidente Jair Bolsonaro causaram reações duras de todos os segmentos atingidos. Os governadores do Nordeste, a começar pelo governador Flávio Dino, reagiram em tom firme, mas civilizado. No comentário em que classificou o filme “Bruna Surfistinha” como “pornô”, a própria dona da personagem, a ex-prostituta e hoje empresária e escritora Raquel Pacheco, reagiu mandando o presidente enquadrar moralmente a sua própria família. Mas o ataque frontal que fez ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), declarando que ele foi um dos piores presidentes que o País já teve, juntamente com Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) pode até não ter perturbado FHC, mas deixou o senador Roberto Rocha numa espécie de “sinuca de bico”. Isso porque o senador faz papel duplo na Câmara Alta, atuando na liderança da bancada tucana e também como apoiador entusiasmado e incondicional do presidente e seu Governo. Se reagir de maneira crítica ao ataque de Bolsonaro a FHC, poderá cair em desgraça no Palácio do Planalto e perder a condição de amigo do presidente. Se silenciar sobre o assunto, provavelmente cairá em desgraça no ninho dos tucanos, onde já não vem sendo visto com entusiasmo, podendo perder a liderança da bancada e até mesmo ser convidado a se retirar do partido.

 

Braide migra para o Podemos e ganha uma legenda estruturada para disputar a Prefeitura de São Luís

Eduardo Braide migra para o Podemos e Aloísio Mendes vai comandar o PSC

Ao anunciar sua migração do PMN para o Podemos, o deputado federal Eduardo Braide anuncia também o primeiro e decisivo passo dos vários que dará na corrida para a Prefeitura de São Luís, no ano que vem. A filiação em um partido maior e mais estruturado é fundamentam para os seus planos de candidato a prefeito, pois sua permanência solitária no PMN praticamente inviabilizaria sua campanha no aspecto material e operacional, já que a agremiação que representa na Câmara federal virou uma espécie de “partido-fantasma”. Nas fileiras do Podemos, a situação muda radicalmente, pois o candidato a prefeito contará com todos recursos previstos pela legislação partidária. Além do mais, será o manda-chuva da legenda no Maranhão, pois o atual chefe no estado, o deputado Aloísio Mendes, fez as contas e decidiu migrar para o PSC, onde desembarcará também como comandante absoluto. Assim, num acordo bem amarrado, os deputados federais Eduardo Braide e Aloísio Mendes reforçarão suas posições partidárias no estado e na Câmara Federal.

Na bancada do Podemos, Eduardo Braide não terá o poder de decidir os rumos do partido nacionalmente, mas ninguém duvida de que ele, com o preparo técnico tem e sua habilidade política passará a ser uma voz destacada entre os 11 membros da representação. Não há como subestimar os deputados do Podemos, mas não há como não prever que entre eles Eduardo Braide certamente se destacará. O mesmo pode acontecer com o deputado Aloísio Mendes no PSC. É evidente que ele não é um legislador destacado, mas a sua vivência de agente da Polícia Federal, de assessor de ex-presidente da República e de ex-secretário de Estado de Segurança Pública, lhe dá um lastro expressivo. Além do mais, Aloísio Mendes é muito elogiado por prefeitos dos quais e parceiro político e eleitoral, como Cleomar Tema, prefeito de Tuntum, com quem mantém relação produtiva.

São Luís, 20 de Julho de 2019.

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