Ação da PF no Governo Dino e decisão do TJ a favor de Roseana elevarão o tom do “bateu-levou” na campanha eleitoral

 

Flávio Dino e Roseana Sarney: posições diferentes em situações parecidas
Flávio Dino e Roseana Sarney: posições diferentes em situações parecidas geram munição para a guerra política e eleitoral

O 17 de Novembro de 2017 vai entrar para a crônica política do Maranhão como um dia, se não exatamente excepcional, mas suficientemente movimentado para ser lembrado por uma reviravolta em posições que vinham se consolidando e que norteariam os discursos das principais forças envolvidas na disputa pelo poder no estado ao longo da corrida às urnas. O dia começou com a Polícia Federal realizando a Operação Pegadores (5ª fase da Operação Sermão dos Peixes), com a prisão de mais de uma dezena de pessoas em São Luís e Imperatriz – entre elas Rosângela Curado, que disputou a Prefeitura de Imperatriz pelo PDT apoiada pelas forças governistas – por suposto desvio de recursos de pelo menos R$ 18 milhões da Secretaria de Saúde entre 2015 e 2017, portanto no atual Governo. E antes do final da manhã, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça bateu martelo e, por meio do trancamento de ação acusatória movida pelo Ministério Público, eximiu a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) de envolvimento ou responsabilidade no que ficou conhecido como “Máfia da Sefaz”, um suposto esquema de mutreta fiscal que teria desviado nada menos que R$ 400 milhões dos cofres estaduais.

Os dois episódios sugerem uma inversão de posições, mas na essência têm o mesmo roteiro e, tudo indica, o mesmo desfecho. A julgar pelo que foi dito pelo delegado responsável, a Operação Pagadores atingiu em cheio o Governo Flávio Dino (PCdoB), já que os supostos desvios foram praticados entre 2015 e 2017, portanto durante o seu período, dando ao exército midiático alinhado ao Grupo Sarney munição de grosso calibre para disparar à vontade contra o governador Flávio Dino, que lidera a corrida eleitoral em todos os cenários. Do outro lado, a decisão da 2ª Câmara Criminal favorável à ex-governadora Roseana Sarney levou às forças de mídia alinhadas ao Palácio dos Leões a lembrarem que  a situação é idêntica, argumentando que a ex-chefe do Executivo foi eximida, mas a encrenca existe, com provas robustas e que cedo ou tarde poderá levar para atrás das grades os envolvidos, entre eles o ex-secretário de Fazenda, Cláudio Trinchão.

Como um desdobramento articulado, a Operação Pegadores e a exclusão da ex-governadora Roseana Sarney da lista de acusados da “Máfia da Sefaz” já estão sendo transformadas em motes para a guerra de acusações a ser travada na corrida eleitoral que, pelo visto, já está em curso e tende agora a ganhar mais volume e barulho. Ciente da repercussão e do potencial de estrago da ação da PF, o Palácio dos Leões agiu rápido e antes de o comando da Operação se manifestar em entrevista coletiva, soltou uma nota dando uma série de explicações, anunciando providências e afirmando que o Governo não compactua com esse tipo de coisa. O secretário de Saúde, Carlos Lula, disse no twitter que estava acompanhando a ação da PF e se afirmou que a SES está colaborando para que tudo seja colocado em pratos limpos, garantindo também que no final ficará demonstrado que o Governo não tem envolvimento com qualquer distorção. Já os aliados da ex-governadora Roseana Sarney festejaram a sua condição de ficha limpa, mas preferiram silenciar em relação ao andamento das investigações destinadas a enquadrar os envolvidos no esquema criminoso da “Máfia da Sefaz”, que na perspectiva de alguns, terá um desfecho bombástico em pouco tempo, que poderá respingar politicamente na candidata do PMDB do Governo do Estado.

O fato incontestável é que uma leitura equilibrada e isenta dos dois acontecimentos desse 17 de Novembro mostra que o que foi apurado pela Polícia Federal na Secretaria de Saúde – funcionários fantasmas recebendo boladas gordas das empresas prestadoras que são pagas com dinheiro federal – é gravíssimo e deverá ter desdobramentos pesados para a conta do Governo, mas sem atingir diretamente o governador Flávio Dino, e que o esquema da “Máfia da Sefaz” poderá arranhar profundamente a imagem de lisura do Governo passado, mesmo que o arranhão não alcance diretamente a ex-governadora Roseana Sarney. Não há dúvidas, porém, de que nos momentos decisivos da guerra política e eleitoral, os dois serão responsabilizados pelas manchas s policialescos que alcançaram suas gestões.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Prisão de Rosângela Curado é pancada forte no projeto senatorial de Weverton Rocha

Weverton Rocha bancou politicamente Rosângela Curado, que errou no Governo e fracassou nas urnas
Weverton Rocha bancou politicamente Rosângela Curado, que errou e fracassou

A prisão da suplente de deputada federal Rosângela Curado arranha, no contexto geral, a imagem do Governo Flávio Dino, mas o seu impacto causará danos mais graves no até aqui bem encaminhado projeto do deputado federal Weverton Rocha de chegar ao Senado nas eleições do ano que vem. Foi o parlamentar quem, como chefe maior do PDT, bancou a nomeação – feita a contragosto, diga-se – da enfermeira e política tocantina para a Subsecretaria de Estado da Saúde naquela região. Menos de um ano depois, ainda na gestão do médico Marcos Pacheco na Secretaria de Saúde, o governador demitiu-a sob forte suspeita de desvio de conduta administrativa, abrindo uma crise na relação com o deputado Weberton Rocha. Certo de que Rosângela Curado seria a porta pela qual entraria forte em Imperatriz, já que naquele momento ela aparecia em todas as pesquisas como nome imbatível para a Prefeitura de lá em 2016, Weverton Rocha decidiu minimizar os danos políticos e eleitorais da demissão se licenciando para dar-lhe quatro meses de mandato federal. Ao mesmo tempo, travou uma luta de foice contra o presidente do PCdoB, o influente Márcio Jerry – então secretário de Comunicação e principal conselheiro político do governador Flávio Dino -, pela escolha do candidato do grupo em Imperatriz. Depois de meses de uma verdadeira guerra nos bastidores da aliança governista, Weverton Rocha conseguiu minar o deputado Marco Aurélio (PCdoB) e o secretário de Infraestrutura Cleyton Noleto (PCdoB) e impor Rosângela Curado como candidata do grupo governista. Uma série de fatores transformou a candidata do PDT no maior fiasco eleitoral da história recente de Imperatriz, desmontando o projeto senatorial do líder pedetista, que até o momento não “arrancou” em Imperatriz. A prisão de Rosângela Curado na Operação Pegadores, confirma que o governador Flávio Dino estava certo quando a demitiu em 2015 e que Weverton Rocha calculou muito mal. Há quem acredite que por sua capacidade de superar adversidades, o deputado Weverton Rocha consiga reverter tal situação, mas há também quem preveja que ele dificilmente conseguirá viabilizar como sonhou o seu projeto de sair de Imperatriz como escolhido para uma das vagas no Senado em 2018.

 

Operação Pegadores coloca Ricardo Murad em estado de alerta máximo

Ricardo Murad: alerta máximo com a Operação Pegadores
Ricardo Murad: alerta máximo com a Operação Pegadores

Ao mesmo tempo em que anima as forças do Grupo Sarney, que ganhou um mote para disparar contra o Governo Flávio Dino, a Operação Pegadores coloca o ex-deputado e ex-secretário de Saúde Ricardo Murad em estado de alerta máximo. Na avaliação geral, a ação de ontem da PF cuidou de um caso isolado de suspeita de desvio no Sistema Estadual de Saúde pela via do sistema de empresas prestadoras de serviço criado e posto em prática durante a sua marcante e controversa gestão no Governo Roseana Sarney. Ricardo Murad está no epicentro e é o alvo principal da Operação Sermão dos Peixes, desencadeada em 2015 com o objetivo de colocar na cadeia os responsáveis pelo suposto desvio de R$ 1,2 bilhão. Durante a Operação Sermão dos Peixes, Ricardo Murad foi acordado por agentes na manhã de 17 de Novembro 2015 – há exatamente dois anos – e levado coercitivamente para prestar depoimento na sede da Polícia Federal, onde permaneceu várias horas respondendo a uma bateria de perguntas de uma esquipe de delegados. A pancada política e moral foi tão forte que levou Ricardo Murad a tomar uma decisão antes impensável no seu caso: anunciou ao mundo que a partir daquele momento suspenderia suas intensas e abrangentes atividades políticas para se dedicar integralmente à sua defesa. E realmente se recolheu e sumiu do mapa por bom tempo, retornando meses depois, aos poucos. Aparentemente, as investigações da Operação Sermão dos Peixes parecem até encontrar-se em banho maria, mas a julgar pelo que está acontecendo no País, dificilmente uma denúncia envolvendo suposto desvio criminoso de R$ 1,2 bilhão da área de Saúde será mandada para o arquivo morto sem que tudo esteja devidamente esclarecido. Daí alguns observadores ouvidos ontem pela Coluna preverem que o Sermão vai continuar, abrindo caminho para Ricardo Murad fechar sua defesa e – quem sabe? – levar à frente seu projeto de encarar as urnas em 2018 como candidato a senador ou até mesmo a governador.

São Luís, 16 de Novembro de 2017.

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