Há algumas semanas, a Coluna avaliou que o governador Flávio Dino (PCdoB) havia, finalmente, chegado ao centro do redemoinho político nacional, embalado por um bom governo, por sua postura oposicionista ao mesmo tempo enfática e equilibrada, e por seu movimento embrionário, mas intenso, na busca de um espaço no roteiro que desaguará na sucessão presidencial de 2022. A brecha foi aberta pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando o elegeu “o pior” dos seus adversários, no escandaloso cochicho com microfone aberto ao então chefe da Casa Covil, Onyx Lorenzoni, minutos antes de uma reunião ministerial. De lá para cá, Flávio Dino ganhou tutano político, que agora se tornou mais consistente com o post do vereador Carlos Bolsonaro, filho e porta-voz do presidente da República nas redes sociais, criticando o vice-presidente, general Hamilton Mourão, a partir de um comentário do governador maranhense sobre a postura correta e técnica do vice em reunião do Conselho da Amazônia, por ele presidido.
O comentário de Flávio Dino incomodou profundamente o filho do presidente, que viu na postura de Hamilton Mourão um ato conspiratório contra seu pai. No seu post, o governador Flávio Dino comentou: “Tivemos uma reunião com diálogo técnico, respeitoso, sensato. Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.
Carlos Bolsonaro – que é vereador no Rio de Janeiro, mas mudou-se para Brasília e sentou praça no Palácio do Planalto -, fez a seguinte indagação sobre o post de Flávio Dino: “O que leva o vice-presidente da República se reunir com o maior opositor SOCIALISTA do governo, que se mostra diariamente com atitudes totalmente na contramão de seu Presidente?”
Sob qualquer ângulo que possa ser analisada, a reação do filho do presidente Jair Bolsonaro foi um tiro pé. Primeiro porque parece desconhecer que o vice-presidente Hamilton Mourão preside o Conselho da Amazônia, e nessa condição tem de se reunir com frequência com governadores amazônicos, para tratar dos diversos programas que coordena para combater a ação predatória de quadrilhas de grileiros e outros problemas relacionados à região, tendo o comentário de Flávio Dino se referido a uma dessas reuniões. Depois, parece também desconhecer o governador já se reunira várias vezes com o vice-presidente, com quem abriu um canal de diálogo em junho do ano passado, quando foi recebido no Palácio do Jaburu. Depois, já neste ano, já como presidente do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão esteve em São Luís, tendo sido recebido de maneira republicana no Palácio dos Leões.
Os encontros mostraram que, apesar de habitarem polos políticos e ideológicos radicalmente diferentes, o governador e o vice-presidente têm convivido de maneira republicana, respeitosa e institucionalmente correta.
O comentário aberto e visivelmente incomodado do filho do presidente revela, primeiro, que o isolamento de Jair Bolsonaro é fato, tendo sido exposto, de maneira eloquente, após as extremadas e inacreditáveis posições do presidente da República contra o isolamento como remédio mais eficaz para combater a pandemia do coronavírus, na contramão das recomendações da OMS e do próprio Ministério da Saúde. E segundo, porque, cada vez mais sem foco e enxergando inimigos por todos os lados, o caçula do chefe da Nação comete o erro primário de comprar briga com o vice-presidente, um militar que tem opiniões próprias, que às vezes surpreende pela contundência, mas que até aqui tem sido um fiel aliado do presidente Jair Bolsonaro, apesar de discordar de muitas das suas posições.
O post intempestivo de Carlos Bolsonaro resultou em dois tiros no pé. O primeiro por ter atacado o vice-presidente as República, contribuindo para aumentar o distanciamento entre ele e o presidente. O segundo porque a reação turbinou o lastro político do governador do Maranhão, que começa a ser, de fato, o mais consistente nome da Oposição e da esquerda para disputar a presidência da República em 2022.
PONTO & CONTRAPONTO
Sarney prevê que depois do coronavírus o mundo será outro
“O mundo será diferente depois da crise do coronavírus. O Homem terá que pensar em modificar esse tipo de sociedade consumista e de sublimação dos prazeres, para pensar num mundo mais humano e com maior justiça social. (…) A sociedade da comunicação, virtual e destruidora de valores morais, dará lugar a uma utopia realizada de caridade, justiça e igualdade”
As declarações são do ex-presidente José Sarney (MDB), na sua crônica domingueira em O Estado, na qual avalia que a Humanidade está em risco, lembrando que o momento não saiu de profecia, tem lógica. Às vésperas de completar 90 anos – seu aniversário será no dia 24 -, Sarney enfrenta a quarentena na sua residência de Brasília, de onde não tem saído nem para ir à farmácia. Ele registra que pandemia do coronavírus é diferente de tudo o que viu e viveu nestes quase 33 mil dias de existência, pois nem Nostradamus, que cantou a pedra de muitas catástrofes e flagelos do século 15 para cá. Estudioso da face clara e cotidiana do homem, o ex-presidente informa que está isolado e se disse assustado com o fenômeno, o qual espera, passe logo.
Duarte Júnior fortalece projeto eleitoral aliando-se ao PL
Erra quem minimiza a declaração de apoio do PSL ao deputado estadual Duarte Júnior (Republicanos) na corrida para a prefeitura de São Luís. Para começo de conversa, o PSL maranhense está na contramão do presidente Jair Bolsonaro, que o deixou. E depois porque esse partido dará ao candidato um precioso instrumento de campanha: um bom tempo no rádio e na TV. Quando trocou o PCdoB pelo Republicanos, alguns enxergaram no movimento um passo em falso. Erraram. Duarte Júnior foi para o Republicanos já vislumbrando a perspectiva de contar com o apoio do partido e de aliados, como é o caso do deputado Fábio Macedo, que migrou do PDT para o Republicanos e emplacou sua mulher, Lorena Macedo, no comando do PSL de São Luís. Essa aliança reforça expressivamente a pré-candidatura de Duarte Júnior.
São Luís, 05 de Abril de 2020.
O comentário aqui é sobre o artigo com o título “Mourão com Dino”. A sutileza do título leva a crer de imediato que existe um conchavo político entre o Vice Presidente e um governador declaradamente obcecado por projeção política pessoal a nível nacional. Imagina se um general quatro estrelas, da velha guarda, vai se imiscuir com um representante do que há de pior em termos de partidos políticos, o decadente partido comunista. A expressão ‘se unem mais não se misturam’ vem bem a calhar para essa situação. Quanto ao filho do Presidente sentir que uma reunião de trabalho no contexto do Conselho da Amazônia, tenha intensões subjacentes ai é ter leitores muito crédulos e pueris.