Os nove governadores do Nordeste encerraram a segunda-feira (23) dando ao País uma demonstração cabal e indiscutível de que, ao contrário do que pregavam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua falange nas redes sociais, eles estão agindo certo na guerra contra o coronavírus. A vídeo-reunião de ontem, na qual o presidente da República anunciou um pacote de medidas – entre elas uma que prevê a liberação de R$ 8,5 bilhões para o combate direto ao coronavírus, e outra que suspende por três meses o pagamento das dívidas dos Estados para com a União -, foi a confirmação de que as críticas e cobranças feitas pelo governador Flávio Dino (PCdoB) e seus colegas nordestinos tinham sólidos fundamentos. Essa situação se consolidou com mais uma incoerência do presidente da República, que diante das inúmeras e duras críticas que recebeu, voltou atrás e revogou artigo da MP que prejudicaria milhões de trabalhadores. Foi um dia alentador. O presidente, parece, tomou um choque de realidade e, mesmo contra sua vontade, assumiu o papel que lhe cabe no enfrentamento dessa crise.
No início da noite, em entrevista à TV Mirante e em mensagens nas redes sociais, o governador Flávio Dino, que no domingo bateu forte na falta de comando por parte do presidente nas ações federais, fez uma avaliação honesta e franca da vídeo-reunião com o presidente Jair Bolsonaro, começando por deixar patente que ela foi o resultado de pressões. O governador defendeu todas as iniciativas tomadas por ele e seus colegas para tirar a população de circulação e, assim, evitar que o coronavírus se propague em larga escala, às vezes “peitando” o Palácio do Planalto e tendo de recorrer à Justiça. Ao mesmo tempo, o governador destacou como acertadas as medidas anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro, reconhecendo, com a franqueza de sempre, que, se forem de fato colocadas em prática com a liberação dos recursos previstos, os Estados e municípios terão as condições necessárias para enfrentar os problemas que ganham forma à medida que o coronavírus avança no País.
Os compromissos assumidos ontem pelo presidente com os governadores têm de ser concretizados na prática imediatamente. E o motivo da pressa está nos números mostrados no noticiário desta segunda-feira à noite: mais de 1900 casos confirmados, com 34 mortos em todo o País. No Maranhão, já são oito casos confirmados. Isso num contexto em que já não se tem como aferir os casos suspeitos, que já podem ser dezenas de milhares, uma vez que o coronavírus já alcançou todo o território nacional. Esse cenário levou o governador Flávio Dino a cobrar urgência na liberação dos recursos, que poderão ser liberados, já que o Brasil está sob estado de calamidade pública, o que elimina as restrições em relação a gastos em casos dessa natureza.
Com os recursos previstos, o Governo do Maranhão poderá colocar em prática todo o planejamento que vem fazendo desde que entendeu que o problema é grave. O Maranhão está realmente dando uma resposta forte à chegada da pandemia, principalmente nos grandes centros. São Luís tem sido exemplar no acatamento das medidas de confinamento social, com fechamento das escolas, das repartições públicas e do comércio – incluindo shoppings centers -, e suspensão de todas as atividades culturais. Grandes centros como Imperatriz, Caxias, Timon, Codó, Bacabal, Pedreiras, Coroatá, Santa Inês, Pinheiro, Chapadinha, Açailândia, São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Barra do Corde, Grajaú, Zé Doca, que abrigam mais de dois milhões de maranhenses e que, tudo indica, adotaram medidas similares, e, até onde se sabe, estão conseguindo montar estruturas possíveis para enfrentar o que vem por aí. O problema é o que fazer para evitar que o coronavírus chegue aos outros cinco milhões de maranhenses espalhados por mais de 200 outros municípios, a grande maioria pobre e deficiente em matéria de estrutura de saúde.
É esse o maior desafio mostrado nas críticas, nas cobranças e nos alertas feitos insistentemente pelo governador do Maranhão ao presidente da República. Isso porque em muitas declarações e gestos que causaram perplexidade, o chefe da Nação pareceu esquecer que o Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados, 26 estados e o Distrito Federal e nada menos que 5.570 municípios, que abrigam mais de 220 milhões de brasileiros, a maioria dependendo do amparo do Poder Público para enfrentar essa ameaça de tragédia social.
PONTO & CONTRAPONTO
Assembleia na História: deputados fazem primeira sessão remota para decidir contra coronavírus
A exemplo do que aconteceu com o Senado da República na semana passada, a Assembleia Legislativa viverá hoje um dia histórico no campo da tecnologia da comunicação: atendendo a convocação do presidente Othelino Neto (PCdoB), os deputados estaduais maranhenses se reunirão hoje, às 16 horas, em sessão extraordinária para discutir e votar o Projeto de Decreto Legislativo que reconhece o Estado de Calamidade no Maranhão, decretado pelo Governador Flávio Dino (PCdoB), como medida para combater o coronavírus. O dado histórico é que a sessão será realizada pelo Sistema Remoto de Videoconferência, ou seja, sem a presença dos deputados em plenário.
A sessão será duplamente especial. Primeiro porque o Projeto de Decreto Legislativo reconhecendo a situação de Calamidade Pública no Maranhão é inédita neste século e foi proposta pelo governador Flávio Dino numa situação de extrema gravidade e sem paralelo na história do estado: a pandemia do coronavírus, que se espalha por todo o planeta, avança no Brasil e já tinha oito casos confirmados no Maranhão na noite de ontem. Como medida preventiva ao coronavírus, o presidente Othelino Neto havia suspendido por 15 dias as atividades da Assembleia Legislativa. A sessão de hoje é uma exceção imposta pela gravidade da situação.
No aspecto operacional, a sessão ganha dimensão histórica por ser a primeira a ser realizada pelo Sistema Remoto de Videoconferência. Para sua realização, a Diretoria de Tecnologia e Informação da Assembleia Legislativa, que mobilizou todo o seu arsenal de transmissão de som e imagem para garantir a transmissão, ao vivo, da sessão pela TV Assembleia, no canal aberto digital 51.2, pela TVN (canal 17), assim como pelo site www.al.ma.leg.br/tv e pela rádio web, www.radioalema.com. “É um aplicativo de videoconferência que oferece a melhor qualidade de imagem e áudio e o compartilhamento de tela, disponível no mercado. Além disso, é um meio muito seguro por onde os deputados poderão votar e discutir matérias”, ressaltou o diretor de Tecnologia e Informação, Paulo Marcelus.
Jornalista por formação, portanto fortemente vinculado ao processo da comunicação, sendo entusiasta dos avanços de transmissão da informação, o presidente Othelino Neto destacou o passo a ser dado hoje: “A ferramenta é uma forma de continuarmos desempenhando as nossas funções no Parlamento e, ao mesmo tempo, assegurarmos o isolamento social necessário para evitar a propagação da pandemia, que tem se alastrado por todo o mundo e que já chegou ao Maranhão”.
Pré-candidatos a prefeito de São Luís reduzem intensidade das suas pré-campanhas
O coronavírus fez com que os pré-candidatos a prefeito de São Luís tirassem o pé do acelerador e entrassem em marcha lenta na corrida para viabilizarem seus projetos eleitorais. Eduardo Braide (Podemos), Rubens Júnior (PCdoB), Bira do Pindaré (PSB), Jeisael Marx (Rede), Carlos Madeira (SD), Franklin Douglas (PSOL), Saulo Arcangeli (PSTU), Eduardo Braide (Podemos), Wellington do Curso (PSDB), Adriano Sarney (PV), Neto Evangelista (DEM), Duarte Júnior (Republicanos), Yglésio Moisés (PROS) e Detinha (PL), encontram-se, cada um a seu modo, participando do esforço para quebrar o impacto da pandemia que já chegou a São Luís e ameaça fazer um estrago na população da capital. Todos torcem para que as medidas até aqui adotadas surtam efeito, mas alguns, mesmo não torcendo em contrário, se preparam para usar o alastramento do vírus como mote de campanha caso a situação se agrave e a Justiça Eleitoral mantenha o pleito, como já avisou o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O certo é que os pré-candidatos quede fato têm chance de chegar ao Palácio de la Ravardière estão preocupados com o que o eleito terá de administrar se a virose do novo corona se agravar na Capital. As próximas semanas desenharão o cenário possível para janeiro de 2021, e isso poderá definir confirmar ou alterar o que está agendado para outubro.
São Luís, 24 de Março de 2020.