De longe a mais importante voz da cultura popular do Maranhão na atualidade e uma das mais destacadas cantoras brasileiras, Alcione recebeu ontem a Medalha do Mérito Legislativo “Manuel Beckman”, a maior honraria da Assembleia Legislativa. A sessão especial que marcou a entrega teve todos os ingredientes que identificam a homenageada: música, alegria, congraçamento e uma pitada de política. Iniciativa do deputado Wendel Lages (PMN), a homenagem levou ao Palácio Manoel Bequimão o governador Flávio Dino (PCdoB), o vice-governador Carlos Brandão (PRB), deputados, artistas, promotores culturais, parentes e muitos amigos e admiradores – notada por todos a ausência da ex-governadora Roseana Sarney, a quem a artista é muito ligada, pessoal e politicamente. Como sempre alegre, comunicativa e sincera, Alcione parecia em estado de graça.
A Medalha “Manuel Beckman” tem sido concedida com critério pelos deputados maranhenses, ainda que uma ou outra concessão cause alguma polêmica. Mas o deputado Wendel Lages, um jovem que dá os primeiros passos na vida parlamentar, teve uma sacada de mestre ao propor a honraria à Alcione Dias Nazareth, demonstrando que enxerga longe. O projeto de resolução legislativa foi aprovado unanimemente em todas as instâncias e deu à concessão uma simbologia forte, porque homenagear Alcione significa de alguma maneira destacar a todos os que se dedicam à música e à cultura popular em geral. Pelo simples fato incontestável de que a cantora maranhense se transformou numa voz de peso do universo cultural, no Maranhão e no Brasil. “Alcione Nazareth é, sem dúvidas, uma das maiores artistas maranhenses, sendo grande incentivadora e divulgadora da cultura do Maranhão por todo o mundo”, justificou o deputado Wendel Lages.
Como artista, Alcione dispensa apresentação ou comentário, alcançou o topo e está definitivamente consagrada como uma das maiores divas da música brasileiras de todos os tempos, principalmente como sambista. Mas os seus movimentos nesse universo foram além dos palcos e dos estúdios. “Marrom” como é carinhosamente conhecida, transformou a difusão cultural num objetivo de vida, principalmente em relação à cultura maranhense. Há décadas radicada no Rio de Janeiro, onde é um ícone, mantém fortes os seus laços com o Maranhão, difundindo para o Brasil e o mundo os mais diferentes aspectos da cultura maranhense, notadamente a música. Não há, atualmente, voz mais enfática e mais estridente que a sua na defesa da cultura maranhense. “Cada vez que Alcione leva o nome do Maranhão para o Brasil e para o mundo, como a maior expoente da nossa cultura, ela enche todos nós de muito orgulho”, declarou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), externando um sentimento comum aos maranhenses.
Além da música e da cultura, Alcione tem forte atuação política, o que reforça sua imagem de artista com plena noção de cidadania. No Maranhão, sempre militou nas fileiras do sarneysismo, com papel destacado nos projetos políticos e eleitorais de Roseana Sarney (MDB), com quem cultiva amizade de juventude. Mas apesar do posicionamento, “Marrom” é uma personalidade politicamente aberta. Ontem, por exemplo, recebeu com visível satisfação, os afagos e elogios do governador Flávio Dino (PCdoB), que muitos poderiam apontar como seu inimigo político, demonstrando grandeza também nesse campo. Seu tamanho político foi medido pela reação indignada com que ele repreendeu, em vídeo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) pela maneira grotesca e primária como ele tratou o Maranhão. “Alcione encarna mesmo a alma mais profunda da brasilidade que todos nós celebramos neste momento”, afirmou Flávio Dino, ao saudá-la, para acrescentar: “Alcione é uma vitoriosa, e por isso não morrerá nunca. Assim como o samba não vai morrer, porque nós não vamos deixar. Certamente Alcione integra para sempre o panteão dos imortais da cultura do Maranhão”.
Visivelmente emocionada e como que se sentindo em casa, Alcione se manifestou: “Fico agradecida a todos por esta grande festa e esta bela homenagem, feitas aqui dentro de casa, com as pessoas de casa, o que para mim é uma honra muito grande e uma emoção muito forte. Fico com meu coração cheio de alegria e com a minha alma bastante lisonjeada”. E como não poderia deixar de ser, brindou os presentes com clássicos do seu repertório, como “As rosas não falam”, “Boi de Lágrimas” e “Eu te conheço Carnaval”, entre outros. Valeu.
PONTO & CONTRAPONTO
Deputados querem investigar transferências suspeitas para a Uema, mas o caso não cabe CPI
Uma controvérsia se instalou nos bastidores da Assembleia Legislativa em torno da iniciativa do deputado Dr. Yglésio (PDT) de propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a concessão de 17 liminares, por um único magistrado, garantindo a estudantes de Medicina de universidades na Bolívia e na Venezuela, a maioria particular, transferência para o Curso de Medicina do Campus da Uema em Caxias. O caso foi denunciado segunda-feira pelos deputados César Pires (PV) e Dr. Yglésio, configurando indícios fortes de um escândalo de largas proporções. A maioria dos estudantes que conseguiram o benefício judicial é de Caxias. Eles alegam depressão por estar no estrangeiro e outras doenças psicológicas e distância da família. O problema é que essas liminares são concedidas sem que a legislação brasileira permita esse tipo de transferência. Esses estudantes são alunos de faculdades bolivianas e venezuelanas que não têm qualquer vínculo com as universidades brasileiras. Além do mais, não há, nas liminares concedidas, qualquer critério que preveja e assegure esse direito, o que leva naturalmente a uma forte suspeita de ilegalidade. Os deputados chamaram a atenção o fato de que em Caxias existem três varas cíveis, com os processos da área sendo distribuídos por sorteio eletrônico, tendo os 17 casos caído para o mesmo magistrado, numa coincidência excepcional. Dr. Yglésio, que é médico formado pela UFMA, considera um absurdo que esses estudantes obtenham liminarmente o direito de ingressar numa universidade brasileira sem ter se submetido a testes, e, mais ainda, que as 17 liminares tenham sido concedidas elo mesmo magistrado.
Por outro lado, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB) alertou para o fato de que, por se tratar de uma suspeita sobre decisões de um magistrado, o assunto é da alçada exclusiva do Poder Judiciário, não cabendo ao Poder Legislativo instalar CPI para investigá-lo.
É provável que a CPI não seja instalada, mas ninguém duvida de que o assunto vai render.
Roberto Rocha poderá ser ministro, mas terá de deixar o PSDB
Fazem todo sentido os rumores de que o senador Roberto Rocha (PSDB) poderá assumir uma pasta no Ministério do presidente Jair Bolsonaro (PSL). E motivos para isso estão sobrando: Roberto Rocha é bolsonarista roxo, o presidente Jair Bolsonaro tem dados reiteradas demonstrações de que gosta dele, o senador cultiva relações próximas com o colega Flávio Bolsonaro (PSL) e, tudo leva a crer, Roberto Rocha quer ser ministro. O problema está na condição partidária de Roberto Rocha. Ele é filiado ao PSDB, lidera a bancada do partido no Senado e preside a agremiação no Maranhão. O PSDB não quer participar do Governo Bolsonaro e não aceita que um quadro seja nomeado ministro sem o aval do partido, deixando claro que o tucano que virar ministro por cinta própria será posto para fora do ninho. Roberto Rocha, que tem cérebro político, pesa, em balança de precisão e com muito cuidado, o que lhe convém.
São Luís, 30 de Agosto de 2019.