Confirmado ontem, pelo voto de mais de 150 prefeitos, o acordo firmado terça-feira à noite, no Palácio dos Leões, por meio do qual o governador Flávio Dino (PCdoB), usando a força da sua liderança e sua autoridade política, estancou uma guerra entre prefeitos pelo comando da Federação dos Municípios do Maranhão (Famem), e garantiu a eleição do prefeito de Igarapé Grande, Erlânio Xavier (PDT), para presidente, e o prefeito de Tuntum e atual presidente Cleomar Tema (PSB), para presidente de Honra. No geral, todos os envolvidos saíram vitoriosos do processo, mas não há como ignorar o fato de que, feitas as contas políticas, a maior fatia de ganhos ficou com o deputado federal até hoje e senador a partir de amanhã Weverton Rocha (PDT), de quem o novo comandante da entidade municipalista, além de pertencer à locomotiva pedetista, é seu aliado de primeira hora, tendo sido o principal coordenador da sua campanha no interior. Na prática, Weverton Rocha ganha um poderoso canal de comunicação com os municípios na pavimentação da via por meio da qual pretende chegar ao Governo do Estado em 2022.
Chegar à presidência da Famem não foi um projeto concebido solitariamente pelo prefeito de Igarapé Grande. Ele foi elaborado durante a corrida eleitoral do ano passado, no QG de campanha do deputado Weverton Rocha ao Senado, no qual Erlânio Xavier atuou como o principal coordenador junto aos prefeitos. Durante a caça ao voto, Erlânio Xavier mergulhou por inteiro na busca do apoio de prefeitos ao candidato pedetista ao Senado, aproveitando para deixar nas entrelinhas das articulações o projeto de chegar à presidência da Famem. Weverton Rocha encampou a estratégia, que foi ficando clara à medida que seu projeto senatorial se fortalecia. Abertas as urnas e confirmada a eleição do parlamentar pedetista para uma das vagas de senador, Erlânio Xavier se lançou candidato a presidente da Famem, acreditando que seria nome de consenso com base num acordo que teria sido feito em 2017, quando ele e outros pretendentes abriram mão e apoiaram a candidatura única do prefeito de Tuntum.
Ao lançar sua candidatura logo após as eleições, Erlânio Xavier se deu conta de que, embalado pela gestão que vinha realizando, Cleomar Tema, que já exercera outros dois mandatos de presidente da entidade, decidiu concorrer à reeleição. A decisão de Cleomar Tema criou um cenário de disputa, causando grande agitação entre os prefeitos. Estimulado por alguns colegas e incentivado pelo senador eleito Weverton Rocha, Erlânio Xavier decidiu partir para o confronto eleitoral. No final do ano passado, diante das evidências de que a briga pelo comando da Famem geraria um forte clima de tensão e causaria fissuras na sua base de apoio, o governador Flávio Dino tentou um acordo, mas os dois candidatos refugaram. O governador decidiu, então, não interferir, abrindo caminho para que o senador eleito Weverton Rocha reforçasse seu apoio a Erlânio Xavier, que partiu para o ataque a Cleomar Tema. Sem aliados de peso, o presidente decidiu reagir à pressão denunciando o envolvimento direto de Weverton Rocha numa disputa exclusiva entre prefeitos. “Lugar de senador é em Brasília e não se envolvendo na eleição em uma entidade como a Famem”, disparou, aumentando a tensão na campanha.
A reação de Cleomar Tema gerou um certo mal-estar e elevou a temperatura da disputa. Com o apoio ostensivo do senador eleito Weverton Rocha, Erlânio Xavier ampliou expressivamente o número de prefeitos a seu favor, colocando o presidente Cleomar Tema em posição de defesa. Os dois candidatos estavam caminhando para um confronto cujo desfecho causaria um racha desnecessário, quando o governador Flávio Dino decidiu uma última cartada pela unidade: convocou os dois candidatos, fez as ponderações necessárias e os convenceu de virar o jogo e transformar a guerra armada numa festa democrática. Cleomar Tema acatou as ponderações do governador e aceitou ser presidente de Honra da Famem na gestão do presidente Erlânio Xavier. Weverton Rocha não participou da reunião, mas orientou os passos do seu aliado e concordou com a fórmula proposta pelo governador Flávio Dino.
Qualquer avaliação isenta desse episódio concluirá que o governador Flávio Dino reafirmou sua liderança ao evitar tremores na sua base política, que Cleomar Tema sai da refrega sem arranhões, que Erlânio Xavier chegou onde projetou chegar, mas que politicamente o maior beneficiário foi o senador eleito Weverton Rocha, que cm a eleição do seu liderado ganhou um poderoso instrumento ação política para reforçar seu projeto para 2022.
PONTO & CONTRAPONTO
Destaque
À meia noite de hoje, João Alberto e Edison Lobão encerram carreiras políticas longevas e vitoriosas
Em meio à agitação dos preparativos para a posse do novo Congresso Nacional, com a Câmara Federal renovada em mais de 60% e os dois terços do Senado com muitas caras novas, dois políticos maranhenses que estiveram em evidência nas últimas quatro décadas, ambos vitoriosos nas urnas, encerrarão suas carreiras como membros da Câmara Alta exatamente à meia-noite de hoje. João Alberto e Edison Lobão, ambos do MDB, deixam o Senado depois de protagonizarem duas carreiras destacadas no cenário da política maranhense e no plano nacional. Expoentes do Grupo Sarney, ambos seguiram sim a liderança do ex-presidente José Sarney (MDB), mas mesmo atuando como homens de grupo, com um lado político assumido, cultivaram posições próprias, que nem sempre seguiram à risca a linha traçada pelo líder maior do sarneysismo.
João Alberto Souza (MDB) encerra uma carreira de mandatos longa, rica e decente aos 84 anos, depois de ter sido prefeito de Bacabal, deputado estadual (dois mandatos), deputado federal (quatro mandatos), senador da República (duas vezes), vice-governador e governador do Maranhão – só perdeu duas eleições, uma para deputado federal nos anos 70 e outra para prefeito de São Luís em 1992. Economista, bancário e militante sindical de esquerda, entrou para a vida pública no Governo de José Sarney, no qual foi diretor da Rádio Timbira, da Merenda Escolar e do Banco de Desenvolvimento do Maranhão, tendo sido ainda secretário de Estado várias vezes. Ingressou na vida política como deputado estadual. Político de posições firmes, afeito a embates diretos com seus adversários, sempre disse o que pensou quando foi parlamentar, e sempre fez o que considerou correto quando governou Bacabal e o Maranhão. Nos 11 meses e meio em que foi governador, ajustou a máquina pública, primou pela transparência – publicou todos os dias nos jornais o balanço financeiro do Estado -, e foi implacável no combate ao crime, adotando uma política de segurança pública que marcou época no Maranhão, e em menos de 360 dias realizou mais de 800 obras, mesmo enfrentando a má vontade do Governo de Fernando Collor. Sempre defendeu rigor ético na política e encerra sua carreira sem um processo por improbidade e tendo presidido o Conselho de Ética do Senado por cinco vezes. Preside o MDB do Maranhão há mais de 20 anos e deve passar o bastão em meados de Fevereiro. Tem dito a amigos que vai continuar fazendo política e com a possibilidade de fechar sua trajetória candidatando-se a vereador de Bacabal em 2020. Tem como herdeiro o deputado federal reeleito João Marcelo (PMDB), seu filho, e o deputado estadual reeleito Roberto Costa (MDB), que segue sua liderança desde quando era militante estudantil.
Edison Lobão (MDB), que é advogado e jornalista – foi comentarista político do Correio Baziliense durante vários anos -, deixa o Senado aos 83 anos depois de ter sofrido a única derrota de uma das trajetórias mais bem-sucedidas e regulares da política do Maranhão dos últimos tempos. Foi duas vezes deputado federal, exerceu três mandatos e meio de senador e foi governador do Maranhão. Além disso, Edison Lobão foi presidente do Senado e ministro de Minas e Energia nos Governos dos presidentes Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). Como governador fez uma gestão dinâmica, com fortes investimentos em rodovias, tendo como destaque a construção da Avenida Litorânea, em São Luís. Fez expressivos investimentos em educação e saúde, deixando um lastro respeitável de realizações. Como senador, foi um dos quadros mais ativos do Senado, tendo presido a Casa quando o então presidente, senador Jarbas Barbalho (PMDB-PA), perdeu cargo. Naquela Casa, Edison Lobão foi várias vezes presidente da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante e cobiçada da Câmara Alta. Como ministro de Minas e Energia, cargo que ocupou durante seis anos, sendo parte no Governo de Lula da Silva e parte no de Dilma Rousseff, comandou uma grande mudança na área de energia, ampliando a produção de energia elétrica e pondo em prática o Programa Luz para Todos, que levou energia a milhões de brasileiros, entre eles mais de um milhão de maranhenses. Edison Lobão foi citado nos escândalos que atingiram a Petrobras na Operação Lava Jato, mas até agora nada ficou provado contra ele, que afirmado ser inocente. Anunciou que vai continuar fazendo política.
Os dois serão sucedidos pelos jovens senadores eleitos Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS), eleitos no histórico pleito de 2018.
São Luís, 31 de Janeiro de 2019.