Um dos hábitos mais comuns entre os brasileiros, sobretudo os mais esclarecidos e melhor situados na pirâmide social, é falar mal dos parlamentares que a grande massa eleitoral elegeu. Deputados federais e estaduais são, de longe, os mais visados. São alvos de cobranças, de críticas duras e até mesmo de agressões verbais, são acusados de inépcia e de incompetência e apontados como os responsáveis por tudo de ruim que acontece no país e nos estados. Assim, passados dois meses do novo mandato, a bancada maranhense na Câmara Federal produziu algumas surpresas. A deputada Eliziane Gama (PPS), que vem despontando como um dos políticos mais importantes da nova geração, em dois meses de mandato ocupou todos os espaços possíveis como oposicionista, notadamente na CPI da Petrobras, com boas e proveitosas intervenções, transmitidas ao vivo por redes de TV paga para todo o país. Fez, até agora, jus aos 133 mil votos que recebeu nas urnas.
A outra surpresa foi a eleição do deputado Waldir Maranhão para vice-presidente da Câmara Federal, indicado pela bancada do PP. O que poderia ser um fato político muito relevante perdeu muito do brilho quando o parlamentar foi incluído na lista dos suspeitos da Operação Lava Jato. Já pendurado liminarmente em outro processo por suspeita de tramoia eleitoral, ele corre o risco de ser processado e enfrentar o Conselho de Ética da Casa.
É oportuno lembrar quem, como a deputada do PPS e do deputado do PP, os maranhenses mandaram para a Câmara Federal. A bancada é formada por dois ex-governadores – João Castelo (PSDB) e José Reinaldo Tavares (PSB) -, dois ex-prefeitos e ex-secretários de Estado – Hildo Rocha (PMDB) e Júnior Marreca (PEN) -, três parlamentares com larga experiência e sempre bem avaliados nas urnas – Sarney Filho (PV), Pedro Fernandes (PTB) e Cléber Verde (PRB) -, um policial federal com larga experiência no combate à criminalidade e zero de experiência política– Aluísio Mendes (PSDC) -, um sociólogo que decidiu seguir os passos do pai ex-governador e senador – João Marcelo de Souza (PMDB) -, três jovens já experimentados na luta política e na gestão pública – Rubens Pereira Júnior (PCdoB), Weverton Rocha (PDT) e Victor Mendes (PV) –, um funcionário graduado da Caixa Econômica Federal que entrou na política como deputado estadual – José Carlos do PT – e, finalmente, dois representantes da novíssima geração de políticos, cujos mandatos lhes darão a oportunidade de mostrar a que vieram – André Fufuca (PEN) e Juscelino Filho (PRP). A 18ª vaga está sendo disputada por Deoclídes Macedo (PDT), ex-deputado estadual e ex-prefeito de Porto Franco, e Alberto Filho (PMDB), que já exerceu mandato de deputado federal.
Obviamente, os ex-governadores João Castelo e José Reinaldo Tavares se destacam na bancada. O primeiro pela larga experiência como executivo e parlamentar – foi deputado federal três vezes e senador, governador e prefeito de São Luís. O segundo foi, além de governador, ministro dos Transportes, superintendente da Sudene, diretor geral do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOS), presidente da Novacap – equivalente a prefeito de Brasília –, várias vezes secretário de Estado e uma vez deputado federal. Tais currículos os credenciam, não para serem “estrelas” de plenário, mas como nomes de referência nas grandes articulações, podendo contribuir, de maneira efetiva, no debate dos mais diferentes temas de interesse da sociedade. O fato de terem governado o Maranhão lhes dá autoridade para, se quiserem mesmo, exercer seus mandatos com destaque.
José Reinaldo Tavares por pouco não desfalcou a bancada, convidado que foi pelo governador Flávio Dino (PCdoB) para ser secretário de Minas e Energia. Inicialmente, o ex-governador aceitou o convite, mas depois de refletir, concluiu que, por uma série de fatores, o seu melhor caminho seria mudar-se para Brasília. Assim, agradeceu ao governador e declinou do convite para integrar o 1º escalão. Nada justificaria que um quadro com o lastro do ex-governador abrisse mão de exercer um mandato federal num momento em que o novo Congresso Nacional assume com o desafio de tomar decisões que mudarão o curso da História do país e, por via de desdobramentos, do Maranhão.
Recentemente, uma roda de conversa política avaliava o potencial de cada deputado para contribuir efetivamente com o desenvolvimento do país e do estado, mas também, com os grandes embates que envolverão as reformas previstas, como a política e a fiscal, para citar apenas duas dentre as mais importantes. E temas complicados, com diminuição da maioridade penal, por exemplo. Nestes dois meses, praticamente todos os deputados federais do Maranhão tiveram participação registrada no plenário da Câmara. Com destaque para o deputado Hildo Rocha (PMDB), que fez vários pronunciamentos, sendo um deles para denunciar uma suposta tentativa de extorção contra um prefeito por membro da Justiça Eleitoral.
De um modo geral, a bancada tem se movimentado. Aluísio Mendes já participa de comissão especial que trata de segurança pública, André Fufuca foi escalado para participar de duas comissões. Rubens Jr. faz parte da tropa avançada do governador Flávio Dino em Brasília, mas individualmente já marcou seu mandato com uma proposta que, se aprovada, mudará o sistema de financiamento de campanhas eleitorais. Sarney Filho, Pedro Fernandes e Cléber Verde continuam como nomes de peso na bancada. Weverton Rocha continua atuando na área trabalhista, enquanto Victor Mendes e José Carlos se movimentam para ocupar espaços, e João Marcelo de Souza e Juscelino Filho tentam superar as dificuldades dos marinheiros de primeira viagem.
É só o começo.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Décio ativo
Não surpreendeu a “Operação Imperador”, por meio da qual a Polícia Civil do Maranhão, com o apoio do Ministério Público, mandou para a cadeia a ex-prefeita de Dom Pedro, Arlene Barros, e mais nove comparsas, sob a acusação de desviar dinheiro público para contas pessoais e para alimentar a agiotagem. O rombo em Dom Pedro foi de R$ 5 milhões e a operação policial é mais um caso da rede de agiotagem denunciada pelo jornalista Décio Sá, brutalmente assassinado em abril de 2012, que desencadeou a histórica “Operação Detonador”. O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, avisou que as investigações vão continuar, o que significa dizer que vem mais prisões por ai. É Décio Sá em plena atividade.
Artilharia pesada
O deputado Adriano Sarney (PV), que preside a Comissão de Assuntos Econômicos da Assembleia Legislativa, criticou fortemente a atitude do governador Flávio Dino em relação ao anúncio de que a Alumar demitirá 650 daqui a duas semanas. Antes, como já era previsto, fez o discurso de defesa da empresa, enfatizando ser ela o resultado “de um esforço enorme do ex-presidente, ex-governador José Sarney, e gerou consigo investimentos importantes para o nosso Estado”. Ao invés de cobrar explicações à multinacional, preferiu criticar o governador Flávio Dino, a quem acusou de omissão em relação às empresas maranhenses, por questões ideológicas. “Uma das maiores empresas do Maranhão está fechando as portas e o governador manda emissários (o vice-governador Carlos Brandão e dois secretários da área) para uma reunião, porque tem coisas mais importantes para tratar em Brasília: fazer demagogia junto à Presidenta Dilma, porque quer um dia ser candidato a Presidente da República pelo PCdoB”, atacou. Adriano Sarney também abordou a demissão dos 500 funcionários da Margusa que aconteceu na semana passada. “A malha industrial do Maranhão está se acabando e o governador vira as costas, a Alumar está fechando as portas, a Margusa, na semana passada, encerrou as atividades em Bacabeira. Cadê o governador do Maranhão? Fazendo demagogia política e governando pelas redes sociais”, atirou.
Mas sem consequência
Um dado, no entanto, compromete seriamente os ataques do deputado do PV ao governador comunista: a Margusa agonizou e fechou as portas no Governo Roseana Sarney (PMDB). E a crise da Alumar, que é planetária e sazonal, teve também versões nos quatro períodos de governo da pemedebista. Isso remete para uma realidade crua: assim como Roseana Sarney, Flávio Dino não dispõe de instrumentos para debelar uma crise na Alumar, que se move pelo pragmatismo extremo e insensível do capitalismo global. Isso remete para uma verdade: infelizmente, governo e deputados jogam para a plateia, por que sabem que nada podem fazer para mudar uma decisão tão grave tomada por empresa desse porte.
Para voltar
Três dias depois de informar à coluna que permanecerá distante da politica até pelo menos meados do segundo semestre, justificando sua posição com a necessidade de cuidar das suas empresas, o suplente de senador Lobão Filho recebeu ontem um “empurrão” para apressar seu retorno à vida pública. Foi informado que, por sua iniciativa quando no exercício do mandato de senador, Bacuri, Bom Jesus das Selvas, Buriti Bravo, Governador Nunes Freire, Maranhãozinho, Paraibano, Catanhede, Presidente Juscelino, Santa Filomena do Maranhão e São Luis Gonzaga do Maranhão terão seus conselhos tutelares equipados com um automóvel, cinco computadores, uma impressora multifuncional, um refrigerador e um bebedouro. Os kits já começaram a ser entregues. Quando no Senado, Lobão Filho bateu às portas da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, para pedir-lhe apoio aos conselhos tutelares. O pedido foi atendido agora, deixando o suplente de senador em estado de graça. E, com certeza, pensando em antecipar seu retorno à pauleira da política.
Um comentário sobre “Bancada tem surpresas, vozes de peso e esforçados”