O ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) fez ontem um movimento decisivo para definir as condições em que disputará uma cadeira no Senado da República. Ele esteve no Palácio dos Leões para um encontro com o governador Flávio Dino (PCdoB), para colocar as cartas na mesa, discutir e, se possível, superar divergências e, dependendo do resultado, sair do Palácio dos Leões com a certeza de que não terá o poder de fogo político do Governo contra a sua candidatura, por considerar o seu pleito politicamente legítimo e eleitoralmente viável. Pouco ou nada vazou da reunião, mas a julgar pelo que a Coluna ouviu de algumas fontes, não houve definição, mas uma larga janela foi aberta para novos conversas. A um interlocutor habitual, José Reinaldo disse apenas que continua firme como aliado político do governador Flávio Dino, e que sua candidatura está de pé e é irreversível, conte ou não com as bênçãos Palácio dos Leões.
O encontro do deputado José Reinaldo com o governador Flávio Dino poderá ter resolvido dois focos de tensão nas suas relações políticas. O primeiro são os choque de posições políticas, ideológicas e doutrinárias que os vêm colocando em campos opostos desde o início do atual Governo. As propostas feitas pelo ex-governador para alavancar a economia no Estado se chocaram frontalmente com as que o governador tinha em mente, e esses choque foi a largada para o início do distanciamento. Ao mesmo tempo, José Reinaldo – que mesmo pertencendo aos quadros do PSB, é um político claramente de centro, com forte inclinação à direita, o oposto da postura da linha de esquerda moderada praticada por Flávio Dino.
O viés ideológico do ex-governador, que causou forte contrariedade no Palácio dos Leões, ficou evidenciado nas posições que ele defendeu no Congresso Nacional: votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, apesar dos apelos do governador para que votasse contra; votou contra a autorização para investigar o presidente Michel Temer, quando o Palácio dos Leões torcia pelo contrário, e deu voto favorável à Reforma Trabalhista, na contramão do governador e as forças que comanda. Esses e outros exemplos cavaram um largo e profundo fosso separando os dois líderes no campo político e ideológico, tornando complicada sua convivência e praticamente inviabilizando o apoio do governador ao projeto senatorial ao ex-mandatário.
Aos 76 anos e com saúde em plena forma, José Reinaldo Tavares tem na candidatura a senador o que provavelmente será sua última cartada política, pretendendo com o mandato encerrar sua invejável trajetória de homem público, durante a qual construiu um currículo que inclui secretarias de Estado, direção geral do DNOCS, a presidência da Novacap, a superintendência da Sudene, o Ministério dos Transportes, deputado federal, vice-governador e governador. E no campo político, se movimenta com a autoridade e o cacife de quem rompeu com o Grupo Sarney e viabilizou a grande virada política no Maranhão com a eleição de Jackson Lago (PDT) sobre Roseana Sarney (PMDB) em 2006.
Além das diferenças com o chefe situacionista, José Reinaldo enfrenta um complicado problema partidário, exatamente por ter atuado na contramão do que orientou o PSB, o que tornou inviável a sua permanência no partido. Seu encontro com o governador tem a ver também com o seu provável ingresso no DEM, que hoje faz parte da base da base partidária liderada pelo chefe do Executivo. No plano nacional, o virtual ingresso de José Reinaldo no DEM é avalizado com entusiasmo pela cúpula do partido, já que, a rigor, se trata da volta de um filho à casa paterna. Os chefes do DEM no Maranhão sugeriram que José Reinaldo fosse ao governador para informar sua disposição de ingressar no partido e ser seu candidato ao Senado. O desfecho da negociação do ex-governador com o DEM indicará o resultado da conversa com o governador.
Em resumo: a ida de José Reinaldo ao encontro do governador Flávio Dino no Palácio dos Leões indicará o rumo que tomará a candidatura do ex-governador ao Senado, definindo também o seu futuro político.
PONTO & CONTRAPONTO
Governistas relaxam denúncia e levam governador Flávio Dino a liderar reação
O Palácio dos Leões resolveu declarar guerra contra a Oposição no caso da denúncia segundo a qual a Secretaria Estadual de Saúde estaria pagando aluguel de um prédio onde funcionará o Hospital de Cirurgia e Traumatologia. A denúncia foi feita pela deputada Andrea Murad (PMDB), na semana passada. À exemplo do caso do prédio onde funcionaria uma unidade da Funac, alugado a um engenheiro filiado ao PCdoB e que estava vinculado por assessoramento a um órgão estadual, o Governo não deu muita importância, fazendo inicialmente uma defesa sem muita reocupação. Ocorre que a Oposição, ao perceber a falta de interesse no rebate, decidiu aproveitar o clima e avançar no ataque, usando o poder de fogo midiático do Grupo Sarney e envolvendo a Rede Globo. Na sua edição de ontem, o Bom Dia Brasil, da Rede Globo, jogou o assunto em rede nacional e com tintura de escândalo, com direito inclusive a comentário debochado de apresentador em rede social.
O balão criado pela ação da Oposição levou o Governo a reagir em bloco, num movimento liderado pelo próprio governador Flávio Dino, que em duas “tweetadas” disse o que precisava, e que se tivesse sido dito em resposta à denúncia inicial, teria inibido a ação oposicionista. A manifestação do governador ganhou repercussão na Assembleia Legislativa, onde os mais destacados líderes governistas, a começar pelo deputado Othelino Neto (PCdoB) e Rogério Cafeteira (PSB), que dissecaram o assunto, dando voz a outros deputados alinhados ao Palácio dos Leões. A reação governista repercutiu ontem no Bom Dia Brasil, que tentou mascarar as informações do Governo, mas foi obrigado a mostrar, com visível contragosto, que nada há de errado no contrato de aluguel nem na reforma do prédio, pois não havia como reformar o prédio e adequá-lo para ser um Hospital de Cirurgia e Traumatologia de extrema importância no Sistema Estadual de Saúde.
O episódio, que ainda deve render rescaldos sem importância, deixou claro que as áreas de comunicação e articulação na Assembleia Legislativa não se comunicaram como deviam e esse desajuste criou um embaraço desnecessário ao Governo e ao governador.
João Alberto pede centros de hemodiálises no Maranhão
O senador João Alberto (PMDB) pediu que o Governo Federal faça investimentos urgentes para aumentar o número de postos de hemodiálise no estado, onde há apenas 15 unidades para atender 2.240 pacientes com doenças renais crônicas. Num discurso sem tom de crítica, mas de uma cobrança equilibrada, ele observou que essas pessoas têm duas opções: ou se submetem a um transplante de rim ou às sessões de hemodiálise, que as mantêm conectadas por horas, em dias alternados, a uma máquina filtradora de sangue.
João Alberto lembrou que o problema de falta de vagas não é exclusivo do Maranhão e se estende por todo o Brasil. E o pior, acrescentou, é que tende a se agravar, segundo os especialistas.
— Nossa população está cada vez mais velha e duas das doenças mais frequentes nos dias de hoje, hipertensão e diabetes, estão diretamente relacionadas à doença renal. Sem ações preventivas que estimulem um estilo de vida mais saudável, milhões de brasileiros e brasileiras poderão se somar às fileiras daqueles que hoje penam para receber um tratamento mais apropriado e tempestivo — declarou.
Em informação recente, o Governo do Estado infirmou que está investindo na construção e implantação desses portos, parte dos quais deverá entrar em funcionamento ainda neste ano.
São Luís, 17 de Agosto de 2017.