Mesmo já caminhando para a aposentadoria, João Castelo ainda era um político que, se não detinha mais o poder de fogo de antes para disputar mandatos majoritários, mantinha uma forte carga de prestígio e uma teia ampla e importante de relações, dentro e fora do Maranhão. Isso ficou demonstrado no seu velório, no plenário da Assembleia Legislativa, por onde passaram o governador Flávio Dino (PCdoB), o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), o líder do PSDB e futuro ministro da Secretaria de Governo, deputado federal Antonio Imbassay (BA), o senador Roberto Rocha (PSB), deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores, além de uma legião de correligionários e amigos fiéis. E onde também chegou a mensagem mais esperada, a do ex-presidente José Sarney, o seu mentor político, com quem rompeu e permaneceu afastado por anos e anos e com quem mantinha relacionamento amistoso nos últimos tempos. À mensagem do patriarca se somaram a da ex-governadora Roseana Sarney, com quem se relacionava sem problemas, e a do ministro Sarney Filho (Meio Ambiente), com quem sempre se relacionou muito bem.
Numa mensagem de baixa qualidade técnica, provavelmente gravada com celular em Brasília, o ex-presidente José Sarney destacou o político e o administrador, não fazendo qualquer menção à relação pessoal e familiar que tiveram no passado: “A morte do deputado João Castelo deixa uma grande lacuna na política do Maranhão, onde durante 50 anos ele ocupou uma posição de liderança, sendo governador, prefeito de São Luís, deputado federal, senador da República e, ao mesmo tempo, foi responsável por grandes obras e participou ativamente da política do Estado. Nós mandamos à sua família nossos sentimentos de pesar e também a todo o Maranhão pela grande perda que nós acabamos de ter”.
Roseana Sarney, com quem mantinha bom relacionamento, dando-lhe apoio expressivo no tenso final da sua gestão na Prefeitura de São Luís, divulgou nota em que destaca a importância de João Castelo na vida estadual, mas não fez referência à proximidade das duas famílias: “Lamento, com muito pesar, a morte do deputado federal João Castelo, que foi governador do Maranhão, prefeito de São Luís e senador da República, e ao longo de sua vida pública deu grande contribuição ao desenvolvimento do nosso estado. Nesse momento de tristeza, quero me solidarizar com a família, a ex-primeira-dama Gardênia Castelo, os filhos e amigos. Meus mais sinceros sentimentos”.
O governador Flávio Dino, que decretou luto oficial de três dias e compareceu ao velório na Assembleia Legislativa, foi sucinto, mas preciso, na manifestação de pesar pela morte do ex-governador, que teve como aliado na histórica corrida eleitoral de 2014: “O (João) Castelo era uma liderança muito expressiva de um partido muito importante no Maranhão (PSDB) e no Brasil. Vim trazer meu abraço e meu conforto aos seus familiares”. Em mensagem postada em uma rede social, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) também comentou o falecimento do político maranhense, seu confrade partidário e com quem mantinha relações de amizade: “Lamento profundamente o falecimento do deputado federal e ex-governador do Maranhão, João Castelo”.
Manifestações mais emotivas e fraternas de vozes não maranhenses homenagearam o ex-governador. Na sua fala de corpo-presente, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, deu um testemunho enfático exaltando a expressão política de João Castelo assinalando que ele vinha sendo um dos nomes de peso da atual composição da Casa: “É a perda de um político que construiu amigos. Eu tinha uma ótima relação com ele. Era amigo do meu pai (o ex-prefeito do Rio de Janeiro e ex-deputado federal César Maia). Na política a gente tem poucas oportunidades de construir amigos, e Castelo era meu amigo. Castelo governou o estado, passou pelo parlamento nas duas casas e foi muito importante para o parlamento”.
Não tivesse João Castelo a importância por ele destacada, Rodrigo Maia dificilmente se abalaria para São Luís, principalmente num dia em que a temperatura política em Brasília alcançava graus anormais, com a queimação de dezenas de reputações devido aos vazamentos da Operação Lava Jato. O mesmo pode se observar em relação ao líder tucano Antonio Imbassay, que foi mais enfático ainda quando destacou a figura política e parlamentar do ex-governador: “Para nós, do PSDB, e para a Câmara Federal, a morte do deputado João Castelo é uma perda enorme e irreparável”.
No velório na Assembleia Legislativa, duas personalidades de elevada importância política, mas de visões e trajetórias radicalmente diferentes aguardaram pacientemente, na fila, para homenagear João Castelo, revelando o arco de relações que, como disse Rodrigo Maia, ele soube construir: os ex-deputados Celso Coutinho, que presidiu a Casa, e Helena Heluy, que liderou a bancada do PT. Um dos mais destacados aliados políticos do ex-governador, Celso Coutinho definiu João Castelo como Castelo foi um “político integral”, que tinha noção clara do real conceito de política e consciência do seu papel no amplo e complicado tabuleiro político maranhense. A ex-deputada estadual e militante do PT Helena Heluy, que o admirava como político, apesar da imensa distância ideológica que os separava, concordou com a avaliação de Celso Coutinho.
Nas rodas de conversa, João Castelo foi tema de intensas discussões, nas quais foi alvo de rasgados elogios, mas também de severas críticas. Um ponto comum: ele foi um político importante, principalmente por ter dado combate sistemático e destemido ao Grupo Sarney, o que lhe deu a liderança da oposição no Maranhão.
PONTO & CONTRAPONTO
Presenças no velório mostrou leque de relações
O velório do deputado federal João Castelo foi revelador de que ele realmente construiu uma ampla cadeia de relações pessoais e políticas. Ali estiveram pessoas dos mais diferentes campos políticos, numa demonstração clara de que o ex-governador sabia se manter nessa seara. Na Assembleia Legislativa estiveram personalidades como a médica Clay Lago, viúva do ex-governador Jackson Lago (PDT), a quem Castelo apoiou na corrida eleitoral de 2006. Também o suplente de senador Lobão Filho (PMDB), assim como o senador Roberto Rocha (PSB), e o presidente estadual do PPS, Paulo Matos. Presente também o ex-deputado Joaquim Haickel, que entrou na vida pública no Governo João Castelo e cujo pai, o emblemático deputado Nagib Haickel, foi aliado de proa do então governador. Passaram pelo plenário do Palácio Manoel Bequimão, deputados federais – José Reinaldo Tavares (PSB), Pedro Fernandes (PTB) e José Carlos Araújo (PT) – deputados estaduais, prefeitos – como o eleito de Paço do Lumiar Domingos Dutra – e vereadores – entre eles José Joaquim, um dos mais fiéis integrantes do staf castelista – , aos quais se somaram líderes empresariais – como Fábio Nahuz, do Sinduscon –, empresários, magistrados, secretários de Estado, profissionais liberais das mais diversas áreas e muitos seguidores anônimos – alguns muito emocionados.
Castelo foi tratado com honras de Estado na Assembleia
João Castelo não foi deputado estadual, pois entrou na vida política pelas portas da Câmara Federal, para onde foi eleito em 1970. Essa lacuna na sua rica trajetória como político não foi empecilho para que a Casa de Manoel Bequimão lhe dispensasse tratamento de chefe de Estado na sua despedida. Sob o comando do presidente em exercício, deputado Othelino Neto (PCdoB) e com o aval do presidente licenciado Humberto Coutinho (PDT) – que deve reassumir nesta semana -, diretores e gerentes do Poder Legislativo criaram as condições necessárias para que as despedidas do ex-governador do Maranhão estivessem à altura da sua importância.
São Luís, 12 de Dezembro de 2016.