Lava-Jato joga sombra sobre o futuro de Lobão, Roseana e Waldir

lobão-7-150x150-horz Passado o primeiro momento da tempestade que assola o meio político nacional, em especial o do Maranhão, por causa da Operação Lava-Jato, com a divulgação da lista dos suspeitos de envolvimento nas falcatruas contra os cofres da Petrobras e na revelação do que pesa contra cada um deles, uma análise cuidadosa de tudo o que foi divulgado remete para uma conclusão nada alvissareira em relação ao futuro dos três:  o senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão e a ex-governadora Roseana Sarney, ambos do PMDB, e o deputado federal Waldir Maranhão (PP) encontram-se em situação extremamente delicada. Contra eles pesam acusações muito graves, que foram contestadas enfaticamente, mas não o suficiente para inocentá-los nem livrá-los da investigação autorizada pelo ministro-relator Teori Zavascki.

O senador Edison Lobão é acusado de ter, na condição de ministro de Minas e Energia, articulado com o então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, um esquema de desvio de dinheiro que só para o Maranhão teria enviado R$ 12 milhões para financiar campanhas eleitorais em 2010, dos quais R$ 2 milhões teriam sido entregues à então governadora Roseana Sarney. A situação de Lobão se torna mais delicada diante das declarações do doleiro Alberto Yousseff de que era ele o “chefe” do esquema, e do depoimento do presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, que fechou acordo de delação premiada e disse em seu depoimento à Polícia Federal que autorizou pagamentos ao então ministro de Minas e Energia.

A ex-governadora Roseana Sarney foi alcançada pela acusação, feita pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, em depoimento por delação premiada, de que teria acertado com ela a entrega de R$ 2 milhões para a campanha eleitoral, através do doleiro Alberto Yousseff. Paulo Roberto Costa afirma que autorizou a entrega do dinheiro e o doleiro garante que fez a entrega a um emissário supostamente mandado pela então governadora. Nada mais, neste caso, pesa sobre Roseana Sarney além disso.

E o deputado Waldir Maranhão (PP), vice-presidente da Câmara Federal, entrou no pacote de denúncias e será investigado como suspeito de ter movimentado R$ 3 milhões do esquema montado por Paulo Roberto Costa, este indicado diretor de Abastecimento da Petrobras pelo seu partido, o que explica o grande número de pepistas acusados de terem sido financiados por propina saída das grandes empreiteiras e intermediada pelo então diretor da empresa.

Natural a reação de cada um deles, por meio de assessores ou de advogados. Roseana Sarney se disse “perplexa” e “indignada”. Edison Lobão dissera à coluna, antes da divulgação da lista, que “nada tenho a ver com isso”, e seu advogado, o badalado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o mesmo da ex-governadora, declarou, após a divulgação, que palavra de delator não tem nenhum valor. E Waldir Maranhão reagiu, em nota, dizendo-se surpreso e declarando-se disposto a colaborar para que tudo seja esclarecido. A partir de agora, os três vão enfrentar a longa e traumática fase dos depoimentos que prestarão à Polícia Federal, nos quais tentarão, juntamente com seus advogados, desqualificar as acusações, para provar que elas não procedem. Poderão também se comprometer ainda mais, dependendo das provas que estejam embasando as acusações.

No plano político, a Operação Lava-Jato fez um estrago irreparável nas carreiras do senador Edison Lobão, da ex-governadora Roseana Sarney e do deputado federal Waldir Maranhão.

Integrante destacado da bancada do PMDB e da base de apoio do governo no Senado, Lobão deve se recolher e adotar todos os cuidados possíveis nos passos que dará de agora por diante no plenário da Câmara Alta. Sempre muito cuidadoso com a preservação da sua imagem política, o senador agora será obrigado, por força das circunstâncias, a reduzir sua movimentação política, parlamentar e partidária. Mesmo amparado no fato de que outros 10 senadores estão na mesma situação, Lobão sabe que sua condição de ex-ministro, de ex-presidente da Casa e de homem de proa do PMDB atrai naturalmente as atenções da mídia de maneira mais intensa de que os demais. Em suma, poderá sair de cena e abrir, pelo menos temporariamente, um vazio no cenário político, que perderá assim um dos seus articuladores mais hábeis.

A governadora Roseana Sarney, que insinuou deixar a política quando renunciou em dezembro de 2014, na verdade estava aguardando o momento certo para dar novos passos nesse campo. O turbilhão da Operação Lava-Jato a obrigará, também circunstancialmente, a arquivar projetos político-partidários e eleitorais. Isso porque, a menos que surjam fatos que a inocentem por antecipação, o que parece improvável, Roseana amargará meses e até anos de incerteza com relação ao seu futuro. Nesse ínterim, ficará politicamente em suspense, queira ou não.

O deputado Waldir Maranhão criou, sem querer, uma situação de extrema complexidade na Câmara Federal. Vice-presidente da Casa, eleito por indicação do PP, ele se encontra na mesma posição do presidente, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado pela Operação Lava-Jato. O parlamentar colocou a Câmara Federal numa situação em que o vice-presidente também está na mira da Justiça, o que cria um mal-estar dos diabos numa Casa plural onde a oposição está sedenta. Dos três, o deputado é o que está mais enrolado.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Palavra de Sarney I

A denúncia do ex-presidente José Sarney segundo a qual a inclusão da ex-governadora Roseana Sarney na lista de suspeitos da Operação Lava-Jato seria um ato deliberado de vingança do procurador geral da República, Rodrigo Junot, por haver o Senado, durante a presidência do agora ex-senador, rejeitado a indicação do procurador federal Nicolao Dino, irmão do governador Flávio Dino, para o Conselho Nacional de Justiça. O ex-presidente da República deve ter suas razões para fazer a acusação, mas é difícil imaginar que a maior autoridade do Ministério Público Federal seja capaz de tamanha mesquinhez. Primeiro, porque a decisão de não aprovar Nicolao Dino para o CNJ não foi de Sarney, foi do Senado. E depois, não faz muito sentido que Junot tenha usado o seu poder para atingir Sarney jogando Roseana na lama da corrupção sendo ela inocente. Sim, porque não ter sido aprovado pelo Senado não diminuiu nem desclassificou o procurador Nicolao Dino, que até onde se sabe é um servidor público íntegro e cumpridor dos seus deveres, que aprendeu esses valores quando, ainda jovem advogado, assessorou o respeitado juiz federal aposentado João Itapary na chefia da Casa Civil no Governo Epitácio Cafeteira.

Palavra de Sarney II

Com a denúncia contra procurador geral Rodrigo Junot, o ex-presidente José Sarney usa a sua habilidade e sua larga experiência nos confrontos políticos que resultaram em acusações contra Roseana. O mais célebre aconteceu em março de 2002, quando, por ordem judicial motivada por investigação feita pelo Ministério Público Federal, a Polícia Federal invadiu os escritórios da Lunus, empresa de Roseana e do marido Jorge Murad.  Sarney, motivado por muitas razões, classificou a ação  de ato político, e apontou, no caso, a cúpula dos tucanos, especialmente o então ministro José Serra, pela trama, segundo ele armada para tirar a então governadora do Maranhão da corrida para a presidência da República. No caso, Sarney mostrou que tinha razão, porque, cerca de dois anos depois, Roseana foi inocentada, tendo inclusive recebido, nota sobre nota, a dinheirama – cerca de 1 milhão -, apreendida pela PF nos escritórios da Lunus. A denúncia contra a ex-governadora agora é bem diferente: tem delator, valor e fonte da suposta propina, enfim, uma série de elementos que tornam difícil enxergar a denúncia do procurador geral da República como uma armação motivada por vingança. Difícil também duvidar da palavra de um ex-presidente da República, escrita e tornada pública, ainda que ele esteja se manifestando como pai.

 

Fora do páreo?

Rumores que correram ontem nos bastidores da política deram conta de que o ex-prefeito Luís Fernando Silva estaria inclinado a arquivar o seu projeto de disputar mais uma vez a Prefeitura de São José de Ribamar no ano que vem. O motivo seria a ação do Ministério Público, que investiga supostas irregularidades na gestão dele, acusando-o de havê-las cometido e pede a sua condenação por improbidade, o que, se confirmado como sentença, resultará na suspensão de seus direitos políticos, na indisponibilidade dos seus bens e numa série de outras sanções decorrentes de condenações dessa natureza. Isso não quer dizer que Luís Fernando Silva se afaste totalmente da corrida pela prefeitura da Cidade do Padroeiro. Maior força política do município, mesmo em situação adversa, ele tem poder de fogo para influenciar fortemente sobre a decisão de grande parte do eleitorado.

 

Guerra do Anzol

O deputado Fernando Furtado (PCdoB), deu ontem o primeiro disparo do que poderá ser a “Guerra do Anzol”, prevista pela coluna na semana passada. Ligado ao movimento sindical de pescadores, o parlamentar comunista saiu da cautela para denunciar que muita coisa errada está acontecendo no setor pesqueiro maranhense. Sem precisar casos nem números, ele falou de maneira genérica, mas assinalou que há muitos pescadores desamparados, sem poder receber o seguro-defeso – salário pago à categoria no período da piracema, quando os peixes se reproduzem – que há “gente graúda” manipulando pescadores e debitou essa situação escandalosa, principalmente a da Baixada Maranhense, à Superintendência da Pesca no Maranhão. O deputado Júnior Verde (PR), que também tem braço longo e forte nessa área, por causa do deputado federal Cléber Verde, que controlou todos os interesses do Ministério da Pesca no Maranhão no governo passado, ouviu calado e calado continuou. Mas Fernando Furtado deixou claro que vai voltar ao assunto.

 

Fim de linha

Um movimento de vários deputados federais do PP do Rio Grande do Sul jogou ontem mais sombra no futuro político do deputado Waldir Maranhão. Depois de avaliar a situação, o deputado Jerônimo Goergen, incluído na lista dos suspeitos, declarou, aos prantos: “O PP acabou!”. Se sobreviver politicamente ao que vem por aí, Waldir Maranhão terá de procurar outro abrigo partidário.

 

São Luís, 10 de Março de 2015.

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