Se a crise não for resolvida pelo diálogo, o Brasil poderá mergulhar de vez numa era de ódio, perseguições e retaliações que pode durar décadas. É o que prevê o governador Flávio Dino (PCdoB), demonstrando que poucos políticos têm, com o ele, uma noção tão ampla da complexidade e da gravidade que envolvem a crise que mantém o país sofre neste momento. Além de compreender com exatidão o momento que vive o país e os fatores que deram causa e que alimentam a crise política, Flávio Dino vai além e sugere, com segurança, o caminho e os argumentos que podem ser usados para se construir uma solução. O governador manifesta forte preocupação com grau de tensão que a Nação está sendo submetida, teme seriamente a radicalização e, por via de consequência, o ódio e a violência coletiva nas ruas. O cenário e a leitura foram feitos pelo governador Flávio Dino numa entrevista ao jornalista Leonardo Attuch portal de notícias 247. Diante de tudo o que já aconteceu, está acontecendo e poderá acontecer, o governador acredita que a solução só virá por meio de uma palavra que reúne magia, pragmatismo e bom senso: diálogo. Acredita que uma conversa franca e definitiva entre a presidente Dilma, o ex-presidente Lula, o ex-presidente FHC e o senador Aécio Neves.
A todas as situações que lhe foram postas na entrevista, o governador emitiu um juízo preciso, sensato, sem abrir mão das suas convicções, mas também sem livrar da crítica, mas sem satanizar, quem quer que seja. Chama atenção, por exemplo, a crítica dura que ele fez ao seu ex-colega juiz Sérgio Moro – os dois passaram no mesmo concurso, sendo que Flávio Dino foi o 1º lugar – no caso da condução coercitiva do ex-presidente Lula. “Todas as medidas coercitivas ou mesmo as prisões processuais classicamente devem obedecer ao princípio da proporcionalidade. Não se pode fazer o uso imoderado da força. Isso vale tanto para o guarda da esquina como para qualquer juiz. O ex-presidente Lula foi intimado várias vezes. Em todas elas, compareceu ou respondeu por escrito – o que é um direito seu. Portanto, não entendi a adequação e a necessidade da medida adotada pelo juiz Moro”, respondeu.
O governador avalia sem rodeios que a Operação Lava Jato, independente dos eventuais erros e excessos, é uma ação institucional que ganhou uma energia vital incontrolável e que não vai se exaurir tão cedo. Isso quer dizer que nada será resolvido se o caminho escolhido for deter a Operação Lava Jato, pelo simples fato de que ela está em perfeita sintonia com a sociedade, exatamente por combater a corrupção. Diante disso, a solução para os problemas do país, inclusive a crise econômica, está no freio à radicalização e à devolução do país à normalidade política. Dino alerta que a oposição deve se lembrar de que a agenda eleitoral é para 2018 e não agora.
Instado a avaliar o clima que está se formando em relação às manifestações do dia 13 (domingo), convocadas pela oposição e pela situação, o governador Flávio Dino manifestou forte preocupação e traçou o que terá de acontecer logo na segunda-feira independente do que vier a acontecer no domingo: “É um momento gravíssimo e todas as forças comprometidas com a democracia têm duas tarefas urgentes. A primeira é evitar confrontos que descambem em violência no dia 13. A segunda é discutir o que fazer no dia seguinte”.
O governador do Maranhão demonstrou forte preocupação com a possibilidade de as manifestações de domingo degringolarem para a violência. Na avaliação dele, a falta de equilíbrio nas relações políticas de levaram a um acirramento que desaguou nas tensões e no ódio. “É assustador. A tradição brasileira sempre foi a capacidade de resolver conflitos por meio do diálogo e da conciliação. Esse novo traço do brasileiro tem um traço muito preocupante, que é a falta de razoabilidade. O ódio que já havia nas redes sociais transbordou para as ruas e o nome disse é fascismo. Tiraram o gênio do fascismo da garrafa e agora não sabem como colocá-lo de volta”.
Em confronto aberto com os mais destacados líderes da oposição e com juristas renomados como Miguel Reale Jr., Flávio Dino não apenas reafirma-se contrário ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, como também sugere que seus autores usam politicamente a irresponsabilidade, a estupidez e a insanidade: “Essa é a pior de todas as soluções possíveis. (…) É preciso ser dito com clareza: o impeachment não seria um ponto final, mas o marco zero de um longo ciclo de vinganças, retaliações e violência política, que arrastaria a economia para uma depressão ainda maior. É o que aconteceria se houvesse essa insanidade do impeachment. É algo tão irresponsável, tão absurdo, que eu não consigo imaginar que isso passe a sério pela cabeça de alguém”.
Entre várias outras declarações surpreendentes, Flávio Dino afirma que a Operação Lava Jato é importante, porque combate a corrupção. Por outro lado, “a Lava Jato corresponde ao ápice da chamada judicialização da política, um fenômeno que vem desde o mensalão. A Lava Jato também se tornou um ator que ganhou estatura e hoje tumultua o jogo político-institucional”. Nesse contexto, o grande erro está em tentar estabilizar o país estancar a crise econômica pela via da negociação política, que se torna inviável a cada dia. No seu entendimento, a lógica deve ser invertida, tornando a economia o caminho para reencontrar a estabilidade, com medidas arrojadas e ousadas.
Para o governador, o púnico remédio é o diálogo, que deve ser proposto pela presidente Dilma, pois só esse caminho pode evitar que as tensões aumentem e contaminem de vez a coletividade, o que pode levar o país a uma explosão de ódio, perseguições e retaliações que pode durar décadas. E manifesta uma esperança: “Estão brincando com o país, mas ainda acredito que razão irá imperar em algum momento”.
PONTO & CONTRAPONTO
Articulações definem chapa para a eleição da nova Mesa da Assembleia Legislativa, que acontece hoje
Os bastidores da Assembleia Legislativa viveram ontem um dia de frenética movimentação. Motivo: as articulações para a eleição da nova Mesa Diretora, que assumirá o coimando da Casa no início do ano que vem para o biênio 2017/2018. Foram horas e horas a fio de entra e sai do gabinete principal, onde o presidente Humberto Coutinho (PDT) – que não adversário e deve ser reeleito por unanimidade -, comandava as articulações, acompanhado de perto pelo vice-presidente, deputado Othelino Neto (PCdoB), que também deve ser reeleito. Fora eles dois, todos os demais cargos foram intensamente disputados, a começar pelo de 1º secretário, que depois de alguns dias de conversa deve ficar com o jovem deputado Ricardo Rios. Os demais cargos foram acertados num verdadeiro movimento de maré, com sobe e desce a todo momento. A eleição será realizada nesta quinta-feira, às 11 horas, a partir de quando, salvo alguma mágoa ou inconformação, que é comum no desfecho desses processos de escolha, o parlamento estadual terá comando definido até a posse da nova composição da Casa, em janeiro de 2019.
Rigo Teles e Andrea Murad travam duro embate verbal por causa da política de saúde em vigor
O plenário da Assembleia Legislativa voltou a registrar temperatura elevada ontem em mais um embate entre oposição e situação por causa do Sistema Estadual de Saúde. A agora pré-candidata assumida à Prefeitura de São Luís, deputada Andrea Murad, líder do PMDB, resolveu acirrar os ânimos porque o deputado Rigo teles (PV) elogiou da tribuna a inauguração, sábado, pelo governador Flávio Dino, do Centro de Especialidades Médicas de Barra do Corda (CEM). Mostrando entusiasmo com o que classificou como “uma grande ação do Governo” e “uma conquista” do seu município, Rigo Teles assinalou que o CEM é uma unidade de saúde completa, projetada para atender mais de 250 mil pessoas de Barra do Corda e da Região Central com consultas clínicas em diversas especialidades, assistência multidisciplinar e serviços de apoio diagnóstico e terapêutico. Decidida a não ouvir calada qualquer elogio à política de saúde do atual Governo, por entender que a atual gestão está “destruindo” o que o secretário de Saúde do Governo passado, Ricardo Murad, seu pai, realizou, a líder pemedebista Andrea Murad bateu forte, atacou o governador Flavio Dino, o secretário de Saúde, Marcos Pacheco, e acabou sendo excessivamente dura com o deputado Rigo Teles, que nada dissera contra ela nem em desfavor do ex-secretário Ricardo Murad. Diante da força do ataque, Rigo Teles reagiu. Do alto dos seus cinco mandatos na Casa e da postura sempre equilibrada das suas manifestações em favor do seu município e da sua região, o deputado de Barra do Corda rebateu os ataques, sem no entanto exagerar no tom, embora tenha sido firme em alguns momentos, por entender que a deputada foi injusta nas suas afirmações, uma delas a de que o CEM não está funcionando. Em tom acentuado, mas sem perder o prumo, Rigo Teles disparou: “O Centro de Especialidades Medicas está funcionando. Agora foi o ex-secretário Ricardo Murad que não autorizou a construção do Hospital de 50 leitos em Barra do Corda, pleiteado para atender cerca 250 mil pessoas de todos os municípios da Região Central do Maranhão”. Diante da reação de Rigo Teles, Andrea Murad voltou à tribuna, onde, numa explosão verbal, disparou frases de efeito agressivas contra o governador, chamando-o de “mentiroso” e “incompetente”; o secretário, que para ela é um “despreparado e já devia ter sido exonerado”; e contra o deputado cordense, que para ela não devia apoiar o governo. Encerrou sua tréplica reafirmando, quase gritando, que Ricardo Murad “foi o maior melhor secretário de Saúde da história do Maranhão”. E já fora da tribuna, continuou avisando, em tom elevado, que “ninguém vai falar dele enquanto eu estiver aqui”. O experiente Rigo Teles ouviu os impropérios com a serenidade de sempre. Dando o troco com a revelação de que o governador Flávio Dino garantiu que construirá o hospital de 50 leitos em Barra do Corda e que ele, Rigo Teles, já destinou R$ 1 milhão em emendas para bancar o início da obra. Acabou tendo seu recado amplificado.
São Luís, 09 de Março de 2016.
Os bastidores da Assembleia Legislativa