A suspeita de que a corrida sucessória em Paço do Lumiar será uma das mais duras das eleições municipais deste ano ganhou densidade na semana passada, com a realização de dois eventos políticos de peso – um do PDT para reforçar o projeto de reeleição do prefeito Josemar Sobreiro (PSDB), com a presença do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho, e do ex-ministro do Trabalho e presidente nacional do partido, Carlos Lupi; outro, organizado pelo PCdoB em apoio à candidatura do ex-deputado Domingos Dutra, com a participação do governador Flávio Dino (PCdoB). O sintoma de que o confronto será mesmo pesado foi evidenciado ontem, na Assembleia Legislativa, onde o deputado Edilázio Jr, (PV), que representa uma terceira corrente na corrida à Prefeitura lumiense, disparou artilharia verbal pesada contra o prefeito Josemar Sobreiro e seus apoiadores pedetistas e contra o governador Flávio Dino, avaliando como “fracassado” o evento de apoio a Domingos Dutra, a quem apelidou o tempo todo de “fute” – o diabo, na cultura popular -, apelido maldoso usado por Dutra para identificar o ex-presidente José Sarney (PMDB). O deputado Adriano Sarney (PV) reforçou o discurso do colega de partido, e atacou duramente o ex-deputado Domingos Dutra, afirmando que, em vez de “fute”, “ele é o diabo mesmo”.
O discurso de Edilázio Jr. teve dois tons. No primeiro, relacionado com a declaração de apoio do PDT ao prefeito tucano Josemar Sobreiro, feita em evento realizado quinta-feira, o deputado do PV recorreu à ironia, ao informar que a reunião do PDT foi realizada em São José de Ribamar, quando deveria ter sido realizada em Paço do Lumiar. Manifestou-se surpreso que o ato tenha contado com a participação efetiva do presidente nacional do PDT e do presidente da Assembleia Legislativa, e foi mais duro quando se referiu ao prefeito, a quem apontou como “um dos três prefeitos” mais mal avaliados do Maranhão. Edilázio Jr. não revelou a fonte da informação que embasou sua avaliação do prefeito de Paço do Lumiar.
Em relação ao ato político no qual o PCdoB, com a presença do governador Flávio Dino, manifestou apoio ao projeto de do ex-deputado Domingos Dutra de chegar à Prefeitura de Paço do Lumiar, o deputado Edilázio Jr. foi mais duro. Interpretou a candidatura de Dutra como uma estratégia do governador para disseminar “o medo”. E justificou sua afirmação assinalando, primeiro, que o chefe do Executivo estadual “é um falastrão”, que usa o poder “para intimidar e disseminar o medo”. Edilázio Jr. insistiu na acusação afirmando que “ele usa a intimidação e a ameaça” até para se afastar aos que o ajudaram na campanha. “Ele deu as costas para aliados que estão insatisfeitos, que estão decepcionados”, disparou o parlamentar verde acrescentando que o governador “tem hoje a imagem de perseguidor”, afirmando que “do lado dele só se ouve queixas”.
Edilázio Jr. virou sua metralha verbal para Domingos Dutra apontando-o como um político que só cria problemas e nunca apresenta soluções. Indagou qual a obra que ele levou para o Maiobão e para paço do Lumiar como deputado federal. “Nenhuma”, afirmou. E completou prevendo que Dutra e Dino serão derrotados naquele município: “A taca vai cantar no ´fute`”, prognosticou.
Em aparte a Edilázio Jr., o deputado Adriano Sarney reforçou a metralha verbal do colega e atacou fortemente o ex-deputado Domingos Dutra e o governador Flávio Dino. Usando uma linguagem que não costuma usar, o neto do ex-presidente José Sarney ratificou as acusações afirmando que os aliados do governador “estão insatisfeito, porque estão debaixo de taca”. E quando se referiu ao ex-deputado Domingos Dutra, disse que não o chamaria de “fute”, como ele chama seu avô. “´Fute` é o diabo. E o diabo agora quer ser prefeito de Paço do Lumiar. Mas não vai ser porque o governo vai perder em Pasço do Lumiar”, declarou o líder do PV na Assembleia Legislativa.
O que chamou atenção no ataque dos deputados verdes ao envolvimento direto do governador Flávio Dino e seus aliados na corrida para a Prefeitura de Paço do Lumiar foi o fato de eles não revelarem como o PV, e o Grupo Sarney em geral, participarão da disputa naquele município. No cenário da corrida eleitoral, o vereador Caetano apresenta-se como pré-candidato do PV, mas nem Edilázio Jr. nem Adriano Sarney disseram uma palavra sobre o assunto.
O ataque não ficou incólume. O líder do Governo, deputado Rogério Cafeteira (PSC) contestou todos os pontos do ataque. Garantiu que o encontro do PCdoB em Paço do Lumiar para turbinar a candidatura de Domingos Dutra “foi um sucesso”. Segundo ele, “as fotos mostram que foi um sucesso”. E contestou a afirmação de que os aliados do governador Flávio Dino estariam insatisfeitos. “Esse governo não discrimina ninguém e dá tratamento igual para todos”. E referindo-se ao movimento partidário no sentido das eleições, declarou, enfático, que o governador vai participar da campanha, “mas a máquina não será usada”.
PONTO & CONTRAPONTO
Líder do Governo rebateu timidamente ataque dos oposicionistas
Ao rebater os ataques dos oposicionistas Edilázio JR. e Adriano Sarney, o líder governista Rogério Cafeteira fez uma revelação que, ficou claro, não pretendia fazer: o governador Flávio Dino vai se licenciar do governo para participar da campanha dos candidatos aliados na corrida às prefeituras. A revelação, que não pode ser interpretada como um ato falho do líder, sinaliza que, mesmo afirmando e reafirmando que não envolverá o governo na disputa, o governador Flavio Dino parece determinado a sair das urnas de outubro politicamente bem mais forte do que agora. Dino vai jogar todo o peso do seu prestígio político para em candidatos aliados em regiões estratégicas – São Luís, Paço do Lumiar, Imperatriz, Caxias, Timon, Santa Inês, Balsas, entre outros municípios de grande peso na vida do estado. Isso significa dizer também que ele vai jogar pesado para derrotar adversários e, assim, reduzir ao máximo os focos de oposição. O projeto eleitoral do governador nas eleições municipais é ambicioso, e ele precisa sair fortalecido e cacifado para dar as cartas em 2018. Daí não ser nenhuma surpresa se ele, de fato, vier a se afastar temporariamente do Governo para se transformar no mais importante cabo eleitoral do Maranhão, com poder de fogo para embalar um grande número de candidaturas. E a julgar por sua participação no ato do PCdoB em Paço do Lumiar, o ex-deputado é uma das prioridades do governador na disputa municipal.
André Fufuca tenta dar importância à coordenação da bancada federal
Eleito coordenador da bancadas do Maranhão na Câmara Federal, o deputado André Fufuca (PEN) tenta dar ao posto uma importância e um peso político que o torne um instrumento eficiente de pressão em relação ao Governo Federal. Não será fácil, porque a bancada é politicamente muito dividida, o que dificulta imensamente qualquer iniciativa de mobilizar os 18 deputados em torno de um objetivo comum. É sabido que os interesses que movem os deputados federais maranhenses, principalmente em ano de eleições municipais, são muito conflitantes. É quase impossível harmonizar essa cadeia de conflitos, mesmo sendo indiscutível que a pressão de um bloco é bem mais forte do que a de grupos menores ou de um só parlamentar. Instrumento informal de ação parlamentar, a coordenação da bancada não se consolidou até aqui pelos bons resultados; ao contrário, nenhuma grande ação foi realizada no Maranhão por obra e graça de ação coordenada da bancada. Durante pelo menos três mandatos, o experiente e bem relacionado deputado federal Sarney Filho (PV) foi o coordenador, tendo passado o bastão para o igualmente experiente e preparado deputado federal Pedro Fernandes (PTB). Agora, quase nenhum deputado manifestou interesse no cargo, e diante do desinteresse, André Fufuca ofereceu-se para o “sacrifício”. Depois que o jovem deputado do PEN se candidatou, alguns colegas dele tentaram convencer o deputado José Reinaldo Tavares (PSB) a se candidatar, mas ele recusou o convite. André Fufuca tem pela frente a tarefa de mostrar que a coordenação é de fato útil, destravando a duplicação da BR-135, por exemplo.
São Luís, 01 de Março de 2016.