
Ontem, 21 de fevereiro, completou um ano que o professor universitário, ex-juiz federal, ex-deputado federal e ex-governador do Maranhão por sete anos e três meses e ex-ministro da Justiça Flávio Dino renunciou ao mandato de senador da República pelo PSB para assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, e sair definitivamente (?) da política. Seu retorno à magistratura, agora como membro da Suprema Corte, deveria também marcar o fim do movimento político conhecido como dinismo. Mas no tabuleiro da política maranhense o dinismo permanece vivo por ação dos remanescentes do grupo que lhe deu origem e que a impressão dominante entre observadores é que a sobrevivência é alimentada pelo próprio ministro através dos seus porta-vozes, a exemplo do deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), dos deputados estaduais Carlos Lula (saindo do PSB) e Rodrigo Lago (PCdoB) e do vice-governador Felipe Camarão (PT), e mais enfaticamente pelo deputado Othelino Neto (Solidariedade) Hoje, o dinismo faz contraponto ao grupo liderado o pelo governador Carlos Brandão (PSB), cuja tendência mais nítida no momento é o rompimento, para seguir seu próprio caminho.
Esse cenário vem ganhando repercussão nacional, como a reportagem publicada nesta sexta-feira pela revista Veja, cujo conteúdo é um roteiro bem armado, ainda que vazio, do que está acontecendo atualmente na política do Maranhão. Veja ouviu membros destacados das duas correntes e também terceiros interessados no desfecho dessa guerra, que já vinha sendo travada nos bastidores e que veio à tona com a renúncia de Flávio Dino à cadeira de senador, para assumir, no dia seguinte, 22 de fevereiro de 2024, a cadeira na Suprema Corte, indicado pelo presidente Lula da Silva (PT). Tanto que o eixo dos conflitos entre as duas correntes se deslocou do tabuleiro da política para o plano judicial, em especial a Suprema Corte, onde dinistas têm tentado infernizar a vida dos brandonistas com ações diversas.
O foco maior do conflito entre “quase” ex-aliados é a cadeira principal do Palácio dos Leões, aspirada pelo dinismo via vice-governador Felipe Camarão, e pelo brandonismo, que tem como projeto maior eleger governador Orleans Brandão (MDB), secretário de Articulação dom Municípios e braço direito de Carlos Brandão, que estaria disposto a sacrificar o seu projeto de ser senador, permanecer no cargo até o final do mandato para, na condição de chefe do Executivo, liderar as forças aliadas. Em resumo: o dinismo, apoiado pelo comando nacional do PT, mantém inabalável a pré-candidatura de Felipe Camarão, que só poderá ser candidato a governador se Carlos Brandão sair para o Senado e ele assumir o comando do estado e se lançar candidato à reeleição. Sem a renúncia de Carlos Brandão esse projeto vai a pique.
Por outro lado, na avaliação geral, o projeto de candidatura de Orleans Brandão só será viável na hipótese de Carlos Brandão sacrificar seu projeto senatorial, permanecer à frente do Governo, para comandar as forças que conseguir reunir em torno do candidato do MDB. Ou, numa hipótese remota, conseguir, por negociação, que Felipe Camarão renuncie à condição de vice-governador, permitindo que a presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale (PSB), assuma o Governo e conduza uma terceira via.
Qualquer que seja a montagem, com o vice-governador Felipe Camarão ou com o secretário Orleans Brandão, ela terá de ser decidida e colocada em prática até às 23h59 de 3 de abril de 2026, quando termina o prazo de desincompatibilização de detentor de mandato executivo para ser candidato às eleições do ano que vem.
O que vai acontecer? Qual dessas equações será colocada em prática? Dinistas e brandonistas vão sentar à mesa para ser recompor como uma só força em torno do vice Felipe Camarão para o Governo e o governador Carlos Brandão para o Senado? Ou romperão de vez, seguindo cada um para o seu lado? Difícil prever, porque, para tornar viável qualquer projeto envolvendo os dois grupos, eles têm de ceder em algum aspecto decisivo. Só que começam a conviver com a forma de terceira via possível que Eduardo Braide, o prefeito reeleito de São Luís, está ganhando.
Como é visível, esse 22 de fevereiro, o primeiro ano sem o Flávio Dino político, encontra o dinismo numa encruzilhada. E o mundo político do Maranhão com uma pergunta: o que vem por aí?
PONTO & CONTRAPONTO
Corrida ao Senado vai depender da decisão de Brandão de entrar ou não
Além da complicada equação que movimenta as forças políticas maranhenses por conta da sucessão no Palácio dos Leões, outro cenário envolve a disputa para as duas cadeiras no Senado, que terá um formato com a candidatura do governador Carlos Brandão, e outro sem ela.
Com Carlos Brandão, ninguém duvida que ele entra como favorito para uma das cadeiras e que a segunda será disputada pelos senadores Weverton Rocha (PDT), Eliziane Gama (PSD) e o deputado federal e atual ministro do Esporte André Fufuca (PP).
Sem Carlos Brandão, a tendência até aqui é no sentido de que Weverton Rocha se fortaleça para uma das vagas ficando a segunda para ser disputada entre a Eliziane Gama e André Fufuca.
Outros nomes são lembrados no cenário nessa direção, como os deputados federais, Pedro Lucas Fernandes (União), Márcio Jerry (PCdoB), Detinha (PL) e Maranhãozinho (PL), e até mesmo o ex-senador Roberto Rocha, se não conseguir viabilizar sua candidatura ao Governo do Estado.
Provável fusão do PSDB com o PSD ou com o Podemos levará Madeira ao MDB
É forte a expectativa entre políticos maranhenses em relação à possível fusão do PSDB com o PSD ou com o Podemos. Entre os líderes locais, a preocupação é sobre quem vai comandar a legenda que vier a nascer dessa fusão. E nesse contexto a situação mais delicada e a do líder tucano Sebastião Madeira, que se desdobrou para dar uma sobrevida ao tucanato maranhense, conseguindo eleger oito prefeitos.
Se a fusão for mesmo consumada entre o PSD com o PSDB, a tendência natural é a de que os tucanos desapareçam do mapa, prevalecendo o domínio dos pessedistas. Nesse caso, o braço maranhense do novo partido fique com o prefeito de São Luís, Eduardo Braide ou com a senadora Eliziane Gama, que já disputam o controle do PSD no Maranhão. Mas pode também ficar com o tucano Sebastião Madeira, fundador do PSDB no Maranhão.
O problema é que Sebastião Madeira está alinhado ao governador Carlos Brandão e dificilmente se submeterá ao comando de outro nome que vier a controlar a agremiação. A situação do ex-prefeito de Imperatriz, que mira a Assembleia Legislativa, será a mesma se a fusão vier a juntar PSDB com o Podemos.
Se de fato o PSDB se fundir com o PSD ou com o Podemos, o destino mais provável de Sebastião Madeira será migrar para o MDB.
São Luís, 22 de Fevereiro de 2025.