Como sempre, a festa de aniversário do ex-presidente José Sarney (MDB), via de regra comemorada na sua residência em Brasília, foi um acontecimento político, que atraiu alguns dos mais importantes próceres da República, proporcionando oportunidades para adversários se cumprimentarem e até conversarem. Na comemoração de quarta-feira o presidente Lula da Silva (PT) não compareceu, mas fez uma longa ligação para o colega e amigo antes de a festa começar. Por outro lado, os presidentes da Câmara Federal, Arthur Lira (PP/AL), e do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (MG-PSD), bateram ponto, junto com dezenas de ministros e congressistas.
Por lá passaram os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, do MDB, Baleia Rossi, e do PSDB, Marconi Perillo O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi um dos primeiros a chegar, cumprimentou o aniversariante e seguiu em frente empurrado pela sua frenética e tensa agenda. Outro ministro destacado foi José Múcio Monteiro, da Defesa, amigo pessoal de José Sarney, com quem conversa sobre Forças Armadas, onde o ex-presidente tem muitos contatos, além de Alexandre Padilha, da Articulação Institucional.
Um grande número de maranhenses, a começar pelo governador Carlos Brandão (PSB) e pela presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB), atendeu ao convite, juntamente com vários deputados liderados por Roberto Costa (MDB). Também ali estiveram os ministros André Fufuca (Esporte) e Juscelino Filho (Comunicações) deputado estadual Othelino Neto (PCdoB) e a senadora Ana Paula Lobato, recém filiada ao PDT. Os ex-governadores João Alberto, Edison Lobão e José Reinaldo Tavares foram cumprimentar o líder.
Organizada pela deputada federal Roseana Sarney (MDB), a festa atraiu duas personalidades, que provavelmente nem se encontraram, mas chamaram a atenção de quem as viu, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, e o ex-deputado federal José Dirceu, o todo poderoso arquiteto político do primeiro Governo do PT.
O agora ministro Flávio Dino abriu canal de comunicação com o ex-presidente José Sarney por volta de 2017, quando o visitou para trocar opiniões sobre a realidade do País e do Maranhão. Dali para a frente, o canal foi mantido, e a ferrenha inimizade política se transformou numa relação cordial, que permite contatos sempre que ambos acham que devem conversar. O ponto alto dessa relação foi a tomada de posição de José Sarney em apoio à indicação do senador Flávio Dino para a Suprema Corte. A presença dele na festa mostra que os dois políticos mais importantes do Maranhão mantêm o canal aberto.
Quando cumprimentou o ex-presidente, o ministro do Supremo lhe disse: “Eu desejo tudo de bom para o senhor, viu? Eu não vou tomar seu tempo. Olha o tanto de gente esperando”.
José Sarney agradeceu e Flávio Dino acrescentou, com bom humor: “Na festa de 100 anos dele vai ter 20 mil pessoas”.
Ao se despedir do ex-presidente, o ministro Flávio Dino lhe disse que em outro momento o procurará para conversar.
Ao contrário do que muita gente imagina, o ex-presidente José Sarney tem uma boa relação com o ex-deputado federal José Dirceu, um dos maiores ícones do PT. Essa aproximação se deu nos primórdios da campanha que levaria Lula da Silva pela primeira vez ao poder, em 2002. José Sarney havia rompido com Fernando Henrique Cardoso e decidiu apoiar a candidatura de Lula da Silva contra a de José Serra (PSDB). O problema foi convencer os petistas maranhenses, a começar pelo então deputado federal Domingos Dutra, a aceitar a aliança do PT com o PMDB no Maranhão. Então presidente nacional do PT, José Dirceu desembarcou em São Luís, reuniu a cúpula petista do estado e cantou a pedra. O pau quebrou na reunião, mas depois de horas de conversa, marcada por murros na mesa e dedos na cara, José Dirceu conseguiu dobrar a maioria, que de fato se aliou ao PMDB na campanha de Lula no Maranhão. Mas o preço foi alto, uma vez que uma banda do PT, liderada por Domingos Dutra e Bira do Pindaré, abriu dissidência e não aderiu à aliança. Durante o período em que foi o todo-poderoso arquiteto político do Governo de Lula da Silva, José Dirceu trocava figurinhas com José Sarney sempre que o caldo entornava.
Na festa de quarta-feira, em Brasília, José Dirceu circulou com desenvoltura entre aliados e adversários. A amizade foi mantida mesmo com as turbulências que resultaram na queda da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.
O ex-presidente foi dormir satisfeito com tudo o que viu e ouviu.
PONTO & CONTRAPONTO
Paulo Velten passa hoje o comando do Judiciário para Froz Sobrinho
O Poder Judiciário do Maranhão ganha hoje novo comando. Às 16 horas os desembargadores se reunirão em sessão solene para testemunhar a passagem do bastão do presidente que sai, desembargador Paulo Velten, para o presidente que entra, desembargador Froz Sobrinho, que terá como 1º vice o desembargador Raimundo Bogéa e como 2º vice o desembargador José Jorge Figueiredo.
Na mesma sessão, o novo presidente Froz Sobrinho passará o comando da Corregedoria Geral da Justiça para o desembargador José Luiz Oliveira.
O presidente Froz Sobrinho vai receber do seu antecessor, para comandar, um Tribunal Pleno composto por 37 desembargadores, sendo que dois deles, oriundos do Quinto Constitucional do Ministério Público e o da OAB. O do MPE depende apenas de que o governador Carlos Brandão escolha e nomeie um dos integrantes da lista tríplice encaminhada ao Governo na quinta-feira. Já o da OAB depende de a entidade substituir um dos nomes que compõem sua lista sêxtupla.
Vai receber um quadro de 341 juízes espalhados nas 107 comarcas hoje existentes no Maranhão. Além disso, receberá todo o sistema judiciário e processos digitalizados, com boas notas em transparência e em outros itens no ranking do Conselho Nacional de Justiça.
Ao receber o cargo, hoje, o desembargador Froz Sobrinho já será o presidente de fato. Mas a sua posse festiva como novo presidente acontecerá no dia 30, com a pompa possível, no Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana.
CCJ da Assembleia Legislativa decide que Bolsonaro não terá título de cidadão maranhense
O ex-presidente Jair Bolsonaro são será homenageado pela Assembleia Legislativa com o título de Cidadão Maranhense, como pretendeu projeto de resolução legislativa apresentado pelo deputado Yglésio Moises (PRTB), o mais ativo representante da direita bolsonarista na Casa. A decisão foi tomada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do parlamento estadual, que rejeitou a proposta com o voto da maioria.
A rejeição da cidadania maranhense a Jair Bolsonaro, sob o argumento regimental de que ele não tem 10 anos de residência no estado, foi a segunda derrota do deputado Yglésio Moises. Na semana passada, o plenário rejeitou a concessão da Medalha do Mérito Legislativo Manoel Beckman à ex-primeira-dama do País Michelle Bolsonaro.
Não bastasse isso, a minibancada bolsonarista, formada pelo deputado Yglésio Moises e pela deputada Mical Damasceno (PSD), amargou a movimentada sessão especial na quarta-feira, na qual foram homenageados o MST, a Fetaema e a Contag. Vale lembrar que a minibancada bolsonarista na Assembleia Legislativa também sofreu repercussão local e nacional das declarações da deputada Mical Damasceno sobre submissão da mulher ao homem.
Não têm sido dias bons para a minibancada da ultradireita.
São Luís, 26 de Abril de 2024.