A viagem do presidente Lula da Silva (PT) ao Maranhão, no domingo (9), atendendo a pedido do governador Carlos Brandão (PSB), para ver de perto os estragos feitos pelas cheias em cidades ribeirinhas, em especial na região do Médio Mearim, como Pedreiras, Trizidela do Vale e Bacabal, por exemplo, produziu resultado muito além do importante do apoio solidário material a milhares de pessoas atingidas. Pelo que ficou claro, o presidente reafirmou a aliança política do PT com o PSB no Maranhão, deixando claro que tem no estado uma das mais sólidas bases de apoio político em todo o País. Mais do que isso: que mantém sólida a aliança com o governador Carlos Brandão e com o senador licenciado Flávio Dino (PSB), atual ministro da Justiça e Segurança Pública. Os discursos e declaração foram todos nessa linha, incluindo uma manifestação expressa nesse sentido, feita pelo ministro Flávio Dino.
O primeiro elo dessa corrente está no fato de que o presidente Lula da Silva tem no Maranhão uma das suas bases a eleitorais proporcionalmente mais fortes, como demonstram os números de todas as eleições presidencial que disputou. A começar pela do ano passado, quando saiu das urnas maranhenses com mais de 60% dos votos nos dois turnos. Logo, o apoio às famílias atingidas pelas cheias está mais do que justificado. Nessa aliança não cabem o senador Weverton Rocha (PDT), que não mais integra o grupo, nem o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), cuja participação no Governo é o resultado de um acerto com o seu partido e nada tem a ver com a política maranhense.
O presidente da República poderia ter visitado o Ceará, por exemplo, que também sofre duramente com enchentes e é governado pelo PT. Mas optou a marcar presença no Maranhão, um dia antes de falar ao País pela passagem dos seus 100 dias de Governo, e a dois dias de embarcar para uma histórica viagem às China, levando na comitiva o governador Carlos Brandão, a senadora Eliziane Gama (PSD) e o deputado federal Cleber Verde (Republicanos). O presidente deixou essa situação muito clara no discurso que que fez no aeroporto regional de Bacabal, que não contou com a presença do senador Weverton Rocha nem do ministro Juscelino Filho, (PT) que hoje são aliados do Governo do PT, mas nas eleições foram aliados das forças que apoiaram a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A força da aliança PT/PSB no Maranhão estará simbolizada ainda mais fortemente hoje, quando, na ausência do governador Carlos Brandão, o Governo do Estado será comandado interinamente pelo vice-governador Felipe Camarão, atualmente o nome mais destacado do PT no Maranhão. Politicamente ligado ao ministro Flávio Dino e muito afinado com o governador Carlos Brandão, de quem é secretário de Educação, Felipe Camarão se transformou no grande trunfo do PT no Maranhão. E se tudo correr como está roteirizado, assumirá o Governo em abril e se candidatará à reeleição em 2026 numa dobradinha com Carlos Brandão, que disputará uma das vagas do Senado, com fortes chances de se darem bem nas urnas.
Por mais que se tente separa-la da equação política, que foi motivada por um drama de natureza social, a viagem do presidente Lula da Silva ao Maranhão no domingo produziu também o reflexo de que a aliança PT/PSB no Maranhão está mais forte do que nunca. E com um dado que ratifica tal conclusão: o presidente Lula da Silva, o governador Carlos Brandão e o ministro Flávio Dino foram festejados pelos desabrigados, apesar do sufoco dos desabrigados, que viram neles o apoio de que precisavam.
PONTO & CONTRAPONTO
Especial
Cesar Teixeira rompe de novo a Aleluia disparando mais um testamento de Judas
Fiel a uma tradição de quase quatro décadas, o compositor e poeta Cesar Teixeira rompe a Aleluia disparando mais um Testamento de Judas. E como não poderia deixar de ser, o terraplanismos, o contrabando de joias sauditas, as lágrimas de mercúrio dos Ianomâmi, o Viagra e a cloroquina dos militares, a “fuga” de Jair Bolsonaro para os EUA, carnaval e mais um modelo de calçola para a Patativa, eterna musa do Testamento. Segue o testamento em versos versão 2023 do Judas que encarna o que há de melhor no espírito crítico e debochado de um ludovicense raiz:
O Testamento de Judas
Cesar Teixeira
Quatro anos de história
a miséria subtrai
e uma cortina de sangue
sobre o Testamento cai,
pior que os 40 anos
dos hebreus no fogo insano
do Deserto do Sinai.
Era Oito de Janeiro,
quando fui comprar jornal
invadiram o Palácio,
o Congresso e o Tribunal.
Então ouvi o disparo
da merda de Bolsonaro
na Latrina Federal.
Derrotado na eleição,
o indivíduo fugiu
para a América do Norte
falando mal do Brasil.
Em breve será provado
que o Sol nasceu quadrado
e a Terra plana não viu.
Guardo na Torre do Tombo
uma pílula ilusória
pra curar a dor de quem,
mentindo, não faz História,
pois, longe de Portugal,
o navegador Cabral
tombou na lama da glória.
Para pagar essa dívida
aos povos originários
deixo as trinta moedas
que recebi do Sicário.
É o ouro ensanguentado
que foi contrabandeado
dentro do Santo Sudário.
Belas joias da Arábia
eu vou deixar no Penhor,
o ladrão que escondeu
bateu asas e voltou.
Ele voltou novamente,
partiu daqui tão contente,
mas o ouro evaporou.
Ao chegar no aeroporto
só encontrou três pelados:
um joalheiro, um cambista
e um falsário reformado.
Logo a sombra de um ladrão
foi abraçar o fujão
que fungou, emocionado.
Quando diz que é imbroxável,
nem sua língua acredita.
O pau da bandeira cai
quando chega a periquita.
Cantando o Hino falseia,
não gosta de mulher feia
e nem de mulher bonita
Então devolvo a Michelle
essas moedas pescadas
no vazio espelho d’água
do Palácio da Alvorada.
O presente de Hirohito
num prato de peixe frito
são carpas assassinadas.
Também deixarei caixões
para sepultar as emas
que foram intoxicadas
por Bolsonaro Pustema
com ração de Cloroquina,
gemendo na guilhotina
sem ver a mão do poema.
Pro Messias não quebrar
o décimo Mandamento,
deixar-lhe-ei um Rolex
que é movido pelo vento.
Pela corda é puxado
o ponteiro amarrado
entre as pernas de um jumento.
Ainda resta um cabresto
pro focinho do Finório
que se escondeu nos States
pra escapar do Purgatório.
No covil do Sete-Peles
sei que o pet de Michelle
é um bode expiatório.
Deixo âncora fiscal
na fazenda do Piquet
para não furar o teto
do contrabando privê.
Tinha até joia Saudita
escondida em periquita
pra Alfândega não ver.
Já enviei pro Congresso
sapatos da minha lavra
para o Flávio Rachadinha
não tropeçar nas palavras.
A língua quando é solta
pela baixaria envolta
da boca se torna escrava.
Publiquei uma cartilha
pra massagear o ego
da senadora Damares,
que anda rasgando em prego
a sua calcinha rosa
em saídas milagrosas
pra curar o olho cego.
Sérgio Moro foi ministro
e, não tendo o que fazer,
proibiu presidiários
de namorar e foder.
Fiz de aço o seu corpete
pra se livrar do cacete
da turma do PCC.
Deixei pro Tacla Duran,
que hoje sofre de extorsão,
um Habeas Corpus forjado
pra evitar sua prisão,
mas foi a mulher do Moro
que, por falta de decoro,
recebeu a comissão.
Pro nosso Circo Fantasma
dar o ar de sua graça,
eu vou deixar um despacho
de farofa e cachaça.
Quando o Prefeito tomar
o Circo então vai baixar
desencantado na praça.
Aos maestros de poleiro
e vaidoso perfil
deixarei minha batuta
com selo do Pau-Brasil.
Na gaiola dos Juninhos
e orientais Robertinhos
tem um que só faz Piu-Piu.
Vou deixar minha mangueira
para o Shopping Rio Anil,
eu também saí queimado
depois que o teto se abriu.
Só voltarei ao cinema
vendo o dono com algema
lá na Polícia Civil.
Contra a Terpa Construções
e a Bomar Agricultura
eu vou fazer um B.O.
na primeira Chefatura.
Os seus jagunços de tocha
queimaram Baixão dos Rocha
com uma falsa escritura.
Espalharam por aí
que o Judas não trabalha.
Porém, se não fosse eu,
quem encheria de palha
político alienado
que faz sucesso enforcado,
enquanto a plebe gargalha?
Deixo para o IBGE
o meu diário sem nome,
pois não fui recenseado
na terra que me consome.
Não irei pra contracapa,
vou morrer fora do Mapa
escandaloso da Fome.
Lá na rampa do Palácio
deixo pedras no capricho
para levantar o muro
de arqueológico lixo.
Com qualquer rugido fraco
os leões vão pro buraco
e o Braide joga no bicho.
Vou deixar um pau elétrico
para o nosso Carnaval
que não tem mais tradição,
só memória de jornal.
Tem fofão cantando rock
que já está levando choque,
sem cachê, pegando o pau.
Na PF eu vou deixar
um lenço pro Sarneyzinho,
pois quis fazer do ministro
Alexandre um picadinho.
Quando foram lhe prender
chorou que nem um bebê,
arrancando o bigodinho.
Aquele maluco inflável,
que a própria alma vendeu
ao Presidente fascista,
meu bilhete recebeu:
“Para Daniel Silveira
a nova tornozeleira
que Moraes lhe prometeu.”
Deixo ao deputado Nikolas
a peruca de pentelho
que já foi do Conde d’Eu
pra se mirar no espelho.
Chupetinha está na lista
dos transfóbicos nazistas
que hoje vão entrar no relho.
Ponho em cada CCJ
nesta batalha campal
luvas de boxe, facas,
pistolas e o escambau.
Liberdade de expressão
logo vai virar caixão
no Congresso Nacional.
Para o Anderson Torres
vou deixar uma minuta
contra decreto golpista,
omissão e má conduta
Brasília virou bordel,
uma Torre de Babel,
hotel de filho da puta.
Ao ministro Juscelino
falta Comunicação.
Meu cavalo “banda larga”
deixo sem declaração,
e uma FAB de diárias
voando, hereditárias,
à procura de um leilão.
Para derrubar os juros,
a picareta carente
vou deixar no INSS,
Wall Street do doente
pobre e aposentado,
que vive consignado
e morre como indigente.
Encontrei na Lista Suja
os doze do Maranhão,
e pra lavar seu focinho
deixei esponja e sabão,
mas, como é trabalho escravo,
não há quem tire um centavo
da sujeira do patrão.
Vou rodar na Disneylândia
pra herdeira Abigail
esse filme preto e branco
que o racismo dividiu.
Da revista Cinemin
eu trouxe o American Dream
e a carapuça serviu.
Deixo pra Luís Phillipe
de Orléans e Bragança
essa marmita vazia
da escrava Esperança.
Ó Príncipe do Brasil,
vá-se a puta que pariu,
aqui ninguém é criança!
Vista Alegre de Alcântara
continua ameaçada.
Por cima são os foguetes,
por baixo são as “pousadas”.
Os óculos da agonia
deixo para a miopia
da aeronáutica chanchada.
Para o museu do Planalto
não sofrer um novo ataque.
deixo um relógio francês
que já não faz Tic-Tac
e mostra num TikTok
policiais de bodoque
explodindo no Iraque.
Abriu-se a estrebaria
dentro das Forças Armadas.
O ex-ministro Albuquerque
virou mula camuflada,
e o tenente André Soeiro
cavalinho muambeiro
com suas pernas quebradas.
Nas Lojas Americanas
eu vou deixar um Micheque
pra evitar a falência
nos bancos do seu Prefect.
Meu Cartão Corporativo
já foi sepultado vivo
cantando samba de breque.
Por isso deixo picanha,
filé mignon, camarão
pra turma do Acampamento
que acabou na prisão.
E para não ter sequela
Leite Moça e Nutella,
Rivotril pra depressão.
Encomendei salgadinhos
pro coquetel militar.
Refrigerantes, sorvetes
pra soldado refrescar.
Desviados no papel
da Saúde pro Quartel
os recursos vou mandar.
Ao general Paulo Sérgio,
que ministro já não é,
deixei um trem de Viagra,
na porta de um cabaré.
Hipertensão é piada,
essas Forças, desarmadas,
já estão mijando no pé!
Deixo o azeite de Oliva
que Ferrabrás esqueceu
para temperar carrasco
lá no Caldeirão de Breu.
No Inferno eu vou fritar
o Doutor Tibiriçá,
que nem urubu comeu.
Pro Ministro da Justiça
deixo os livros da Torá,
pra ver nazista no milho
ajoelhado rezar.
Lá no clube da suástica
bolsominion já fez plástica
pra correr e não suar.
Deixo algemas de vergonha
para a empresa Suzano,
que só aumenta o plantio
do seu capital profano,
já de olho na propina
que vai receber da China
em Créditos de Carbono.
Trago uma faca amolada
pra capar o brochador
do Pato Donald Trump,
que a Justiça indiciou.
Esse nazista cagão
nunca mais ganha eleição
subornando atriz pornô.
Quem riu do trabalho escravo
e o nordestino humilhou
foi o Sandro Fantinel.
Pra esse vereador
já botei gelo num pano,
pois na praia de baiano
seu cu vai virar tambor.
Deixarei os vinhos Salton,
Garibaldi e Aurora
no restaurante do Inferno,
onde o Diabo comemora
o acordo do MPT
depois de assar e comer
a Fênix que ele namora.
Fica para as big techs
a borracha do ABC
pra apagar as Fake-News
que nos fizeram sofrer.
Já dei meu depoimento:
quem fez este Testamento
foi o Chato GPT.
Derramei água de cheiro
das jarras da negra Mina
pra lavar a ziquizira
do Beco da Catarina,
e evitar que esse fricote
de beatas e huguenotes
termine em carnificina.
Comprei pra São Benedito
uma pinga lá na Feira,
pois na Praça da Faustina
vai ter punga brasileira.
Quero ficar de castigo,
de umbigo com umbigo
grudado em Carla Coreira.
Vou deixar pra Patativa
uma fralda indecente
que parece fio dental
com um fechiclé na frente.
Logo alcançará a cura
ao sentir a picadura
de um mosquito saliente.
Quando fez 50 anos
de teatro e diabrura,
eu levei pro Laborarte
muletas e dentaduras
pra cada velhinho foda
que, no palco, inventou moda
cagando para a Censura.
Já separei pra Rosa
quinquagésimo cachê
pra pagar as velhas dívidas
que o Judas deixou vencer:
o aluguel do paletó
e um prato de mocotó
de Fernando Anarriê.
Deixo no Sétimo Dia
meu retrato em clichê,
que é pra Murilo Santos
repensar seu métier
de tirar foto e guardar
no baú, pra publicar
depois que o Judas morrer.
Levo o barco da esperança
para carregar essa gente
das Trizidelas de lágrimas
nos olhos fartos de enchente.
Será Deus o responsável
pelo desastre improvável
ou a política ausente?
Para o Marco Temporal
deixo a palavra Não.
Quando ameaça aos povos
indígenas de extinção,
favorece invasores
que abrem covas sem flores,
sepultando a Criação.
São piratas, garimpeiros,
milicianos fardados,
traficantes, empresários,
entre outros aloprados.
Pra exigir Demarcação
levo a borduna na mão,
no peito o abaixo-assinado.
Rios que escorrem no rosto
abrindo antigos cortes
são lágrimas de mercúrio
no garimpo vil da sorte.
Deixo ao povo Ianomâmi
um novo hino que chame
de Amor a dor que há na morte.
Fim
São Luís, 11 de Abril de 2023.