Quando o ex-deputado Ricardo Murad tornou pública sua estratégia de lançar a deputada Andrea Murad, sua filha, candidata à presidência regional do PMDB, estava revelando que sua situação partidária é incômoda, que não tinha condições de ser lançado candidato a prefeito de São Luís pelo partido e que transformaria seu projeto de tomar o PMDB numa guerra barulhenta. A campanha que está em curso para a convenção marcada para o dia 30, quando o PMDB elegerá seu novo diretório estadual, do qual sairá a Comissão Executiva – órgão máximo da organização partidária – começou dentro de total normalidade, mas está ganhando traços de guerra interna. E o clima de tensão aumenta à medida que Ricardo Murad se dá conta de que suas chances de eleger a deputada Andrea Murad presidente da agremiação dificilmente se realizará.
A estratégia que Ricardo Murad colocou em marcha é simples: transformar o PMDB, um partido organizado e forte num partido colocado sob suspeita. Seu primeiro foi acionar o deputado federal Hildo Rocha, pemedebista que nunca foi de quebrar lança pelo partido, para de repente, como num passe de mágica, se fazer de militante preocupado e levantar uma suspeita anêmica sobre uma ata improvavelmente fraudada.
Na nota que divulgou, ameaça bater às portas da Justiça para obter o adiamento da convenção, acrescentando que se não conseguir pelas vias normais, buscará baterá às portas da Justiça, e se a Justiça não der jeito, a banda pemedebista liderada que se move sob a batuta de Ricardo Murad baterá às portas da Executiva nacional para pedir intervenção no PMDB do Maranhão. E se nada disso funcionar, o grupo liderado por Murad, cujo tamanho ninguém sabe, no não participará da convenção. Ou seja, já admite abandonar a briga pelo controle do partido, enquanto o João Alberto e o comando partidário avisam que a convenção está mantida para o dia 20.
O problema de Ricardo Murad – que, vale anotar, é um adversário político duro na queda, principalmente agora, depois de vários fracassos partidários – é que ele escolheu o adversário errado para brigar: o senador João Alberto. Além de ser um militante político com experiência consolidada, que sabe como ninguém mexer as pedras desse tabuleiro, João Alberto comanda o partido com eficiência invejável, o que torna o PMDB do Maranhão um dos braços estaduais mais elogiados do partido em matéria de organização. Não bastasse isso, além de senador, João Alberto integra o Diretório nacional e é membro titular da Executiva nacional, posto que Murad não tem a menor chance de alcançar, mesmo elegesse Andrea Murad presidente estadual e assumisse, como quer, a condição de eminência parda da agremiação.
E para completar, João Alberto é um político que anda na linha, um dirigente que zela pela correção da administração do partido e que presta conta até dos centavos da verba que recebe do Fundo Partidário. E não bastasse isso, é osso duro de roer numa briga política. Em resumo: o ex-deputado Ricardo Murad e o deputado federal Hildo Rocha têm pouca chance, quase nenhuma mesmo, de levar a melhor nessa disputa.
Na sua propaganda de candidata a presidente do PMDB, a deputada Andrea Murad coloca sua juventude à serviço do partido, apresentando-se como uma renovação na seara pemedebista. O problema é que o seu discurso perde peso e densidade quando é sabido – e ela não consegue esconder – que o mentor da sua candidatura é o ex-deputado Ricardo Murad, que daria as cartas dentro do partido caso a filha fosse eleita presidente do maior e mais forte partido do Maranhão.
Finalmente, se o deputado Hildo Rocha não estiver blefando, os próximos dias serão muito animados na seara pemedebista. Mas é quase certo que será uma animação sem consequência dentro do PMDB. Isso porque todas as cartas indicam que a chapa liderada pelo senador João Alberto será eleita, com ou sem a participação do grupo de Ricardo Murad.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Porta-voz com sinal verde
A entrada repentina do deputado federal Hildo Rocha no roteiro da convenção regional do PMDB surpreendeu o meio político, principalmente pelo fato de que ele se colocou como uma espécie de porta-voz do ex-deputado Ricardo Murad. Rocha ganhou projeção na Câmara Federal como um dos “homens de ouro” do presidente da Casa, o inteligente, atuante, polêmico e encalacrado deputado fluminense Eduardo Cunha. Mas no plano estadual, Hildo Rocha integra o grupo mais próximo da ex-governadora Roseana Sarney, o que levanta forte suspeita de que ela teria lhe dado sinal verde para entrar em rota de colisão com o senador João Alberto e o grupo que controla o PMDB. Roseana reconhece a eficiência de João Aberto no comando do PMDB, mas, presa por laços de família, tenta dar força para Ricardo Murad, mesmo sabendo que dificilmente mobilizará grupo expressivo para injetar ânimo no projeto do cunhado. E, por isso, ninguém duvida de que Rocha fala também em nome da ex-governadora.
Na data marcada
O senador João Alberto não embarcou ontem para Brasília, como faz às segundas-feiras. Decidiu permanecer em São Luís cuidando pessoalmente dos preparativos da convenção que será realizada no dia 30, quando a militância do PMDB elegerá o novo Diretório e a nova Executiva do partido. Perguntado se adiará a convenção partidária, conforme pede Ricardo Murad por intermédio de Hildo Rocha, o presidente do PMDB foi peremptório na resposta: “De jeito nenhum”.
São Luís, 28 de Outubro de 2015.