Com a confirmação de que permanece no comando do braço do Podemos no Maranhão, encerrando rumores de que teria perdido o controle do partido, o prefeito Eduardo Braide começou a dar sinais indiretos de que vai mesmo apoiar a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) à presidência da República e que tende a apoiar a candidatura do senador Weverton Rocha (PDT) ao Governo do Estado. Balizado na discrição e na cautela que sempre orientaram seus passos na política, ele próprio não deu ainda nenhuma declaração sobre a corrida eleitoral em curso. No entanto, o seu envolvimento direto, por exemplo, na disputa pelo comando da Câmara Municipal, que é vital para o futuro da sua gestão, e os fatos que vêm ocorrendo em torno do Palácio de la Ravardière, são indicativos fortes de que ele caminha para entrar no jogo, se posicionando com clareza em relação à disputa para a presidência da República e o Governo do Estado, podendo ainda se manifestar, ou não, em relação à disputa para o Senado.
A confirmação de que é o manda-chuva do Podemos no Maranhão o vincula partidária e politicamente à pré-candidatura do ex-juiz Sérgio Moro. Se esse projeto se consolidar – o que não aconteceu até aqui -, o prefeito de São Luís não terá outro caminho a não ser apoiar Sérgio Moro, como também montar palanque e assumir o comando da campanha do ex-ministro da Justiça e hoje ferrenho inimigo do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. Não será uma tarefa política fácil, uma vez que o prefeito ficará no meio do fogo cruzado das campanhas do ex-presidente Lula da Silva (PT), que tem muita força em São Luís, do atual presidente, que conta com uma turma pequena e barulhenta, e do ex-governador Ciro Gomes (PDT), que, pelo menos em tese, deve ser apoiado pela militância pedetista da Capital. Um cenário complicado e de difícil posicionamento sem correr o risco de entrar na “linha de tiro” de adversários.
Com relação à corrida ao Palácio dos Leões, o prefeito Eduardo Braide tem sido mais cauteloso ainda, mas os fatos – como a disputa para o comando da Câmara Municipal – estão indicando que ele se movimenta para apoiar, não se sabe ainda em que grau, o projeto de candidatura do senador Weverton Rocha. Os indicativos são o apoio que o senador e seu grupo lhe deram no segundo turno da eleição de 2020, e o segundo tem sido a relação próxima dele com o PDT, materializada na indicação do vereador pedetista Raimundo Penha, um dos mais ativos apoiadores de Weverton Rocha, para o posto de líder do Governo na Câmara Municipal, substituindo o vereador Marcial Arruda, do seu partido, o Podemos, que poderia ser tranquilamente confirmado no posto. Além disso, Podemos e PDT estão empenhados no apoio à candidatura do vereador Gutemberg Araújo (PSC), que disputa a presidência da Câmara com o vereador Paulo Victor (PCdoB), apoiado por aliados do vice-governador Carlos Brandão.
No que diz respeito à disputa para o Governo do Estado, o prefeito Eduardo Braide enfrenta uma situação delicada. Pelo menos nove entre dez observadores da política estadual o veem reelegendo-se em 2024 e renunciando em 2026 para ser candidato a governador. O problema é que, se Weverton Rocha, que ele tende a apoiar, for eleito, fatalmente será candidato à reeleição em 2026, o que reduzirá drasticamente suas chances de chegar aos Leões naquela eleição. A vitória de Carlos Brandão, ao contrário, zerará o jogo, uma vez que ele não poderá disputar a reeleição. Como é possível perceber, o posicionamento do prefeito Eduardo Braide na sucessão estadual não é tão simples como muitos imaginam.
E nesse contexto de razoável complexidade no que lhe diz respeito, o prefeito Eduardo Braide vem se movimentando com cautela e pragmatismos extremos. Sabe que no ambiente político de São Luís, entrar de cabeça na campanha de Sérgio Moro para presidente pode resultar num desastre político. E tem plena consciência de que não pode ficar isento em relação à disputa pelo Governo, e que a escolha errada pode lhe valer um adversário incômodo no Palácio dos Leões.
PONTO & CONTRAPONTO
PSTU reaparece e lança Hertz ao Governo e Arcangeli ao Senado
O PSTU, velho de guerra, reapareceu no cenário político do Maranhão e lançou o professor de História da rede pública estadual Hertz Dias candidato a governador e o professor de Matemática da Uema e servidor federal Saulo Arcangeli candidato a senador nas eleições deste ano. Os dois foram candidatos nas eleições estaduais de 2018 e nas eleições de São Luís em 2020. São, portanto, veteranos, que conhecem o caminho das pedras, têm clareza das dificuldades que enfrentarão, mas parecem ter imensa dificuldade de interpretar o sempre eloquente recado das urnas a cada eleição: o eleitorado não quer conversa com a esquerda radical.
O professor Hertz Dias mantém inalterado o seu discurso, que prega a emancipação do proletariado e a abolição da propriedade privada, assegurando que se for eleito implantará no Maranhão um estado marxista, com processo revolucionário e tudo o mais, conforme pregou em 2018. Saulo Arcangeli tem uma visão bem mais avançada de esquerda, apesar do seu discurso aqui e ali recheado de conhecidos postulados marxistas.
O problema é que o PSTU só existe como partido no Maranhão, exatamente por inteiramente fora de cena. Mas a sua participação na corrida eleitoral é saudável, à medida que amplia o leque de visões para o grande debate a ser travado sobre a realidade social e política do Maranhão.
Filiação de Adelmo Soares e Florêncio Neto tem reflexo na Assembleia Legislativa
A migração do deputado Adelmo Soares do PCdoB para o PSB, após 12 anos de militância no “Partidão”, e a filiação de Florêncio Neto, acertadas com o secretário de Comunicação e Articulação Política, Ricardo Capelli, revelaram duas situações diretamente relacionadas com a corrida à Assembleia Legislativa. A primeira é que, com a saída de Adelmo Soares, o PCdoB ficará resumido ao deputado Carlinhos Florêncio e à deputada licenciada Ana do Gás, atual secretária da Mulher, já que o presidente do Legislativo, deputado Othelino Neto, também está de saída do “Partidão. Há quem diga que Adelmo Soares poderá assumir o comando do PSB em Caxias, para fazer frente ao poder dos Leitoa sobre o partido na vizinha Timon.
A outra situação é que o deputado Carlinhos Florêncio não será candidato à reeleição, devendo entrar na briga pela eleição do seu filho, Florêncio Neto, ex-vice-prefeito de Bacabal, que perdeu o cargo com a cassação da chapa liderada pelo prefeito Zé Vieira (PP). No meio político, corre que Carlinhos Florêncio espera passar o bastão de deputado estadual a Florêncio Neto, para então voltar às atividades empresariais e – quem sabe? -, disputar a Prefeitura de Bacabal em 2024, numa situação de jogo zerado, já que o prefeito Edvan Brandão não será candidato à reeleição.
São Luís, 06 de Março de 2022.