Faltam ainda 15 meses para a corrida às urnas, regras que podem mudar expressivamente as eleições proporcionais e o sistema de votação ainda estão em debate dentro e fora do Congresso Nacional, o presidente da República continua um pária partidário e a prioridade nacional permanece inalterada: o combate ao novo coronavírus pela vacinação. Nada disso, porém, tem impedido que no Maranhão, ao contrário do que ocorrem em boa parte dos estados, a disputa pela sucessão do governador Flávio Dino já esteja em curso, com concorrentes informalmente definidos, cinco deles assumidos – o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), o senador Weverton Rocha (PDT), o prefeito de São Pedro dos Crentes Lahesio Bonfim (PSL), o ex-prefeito de São Luís Edivaldo Holanda Jr. (PSD), o deoutado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) e o secretário de Indústria e Comércio Simplício Araújo (SD) -, e um ainda indefinido, o senador Roberto Rocha, sem partido. Nesse cenário, a grande disputa está se desenhando entre Carlos Brandão e Weverton Rocha, no primeiro momento pela vaga de candidato da aliança liderada pelo governador Flávio Dino (PSB), e se não houver acordo, travarão o confronto direto no 1º turno.
Carlos Brandão e Weverton Rocha encontram-se em plena peleja pela viabilização política e eleitoral, numa exibição de músculos que tem chamado a atenção. Mesmo com uma estrutura mais modesta – só conta com o suporte do partido e com a condição de vice-governador, o que lhe dá espaço de visibilidade eventual, Carlos Brandão ocupa todos os espaços que lhe são abertos, alguns surpreendentes: Sexta-Feira, apareceu em horário nobre da TV para saudar os vaqueiros nordestinos e lembrar que foi ele, como deputado federal, o autor da Lei que criou o Dia do Vaqueiro. O vice-governador tem cumprido agenda intensa representando o governador Flávio Dino em atos e inaugurações em São Luís e no interior, e cumpre roteiro de conversas com deputados, prefeitos, vereadores e lideranças da sociedade civil, a começar por empresários. Exibe visível otimismo.
Por sua vez, o senador Weverton Rocha opera uma estrutura gigantesca na base da sua pré-candidatura: o poder de fogo do mandato senatorial, que lhe permite distribuir milhões em emendas a municípios, conta com a máquina política da Federação dos Municípios (Famem), comandada pelo prefeito de Igarapé Grande, Erlânio Xavier (PDT), seu braço direito e coordenador das suas campanhas, e com programas de rádio e TV que lhe dão apoio aberto, sem reservas. De uns tempos para cá, Weverton Rocha tem aparecido em horário nobre da TV exibindo suas ações como “o senador do Maranhão”. Ao mesmo tempo, cumpre intensa e movimentada agenda de incursões por municípios, reunindo prefeitos e lideranças, numa prova inconteste de que tem “fôlego” para manter ostensiva pré-campanha, por meio da qual demonstra que está decidido a “chegar lá”.
Embora não se tenha declarado pré-candidato a governador, o ex-prefeito Edivaldo Holanda Júnior chegou ao tabuleiro sucessório pelas palavras do chefe do seu novo partido, o PSD, deputado Edilázio Jr., e não disse nem sim nem não. Além disso, circulou a informação de que sua candidatura teria sido definida como prioridade pelo comando nacional do partido. E para completar, foi incluído e apareceu bem em três pesquisas recentes, o que consolidou a posição em que foi colocado pelas vozes autorizadas do PSD. Atualmente, ninguém do meio político duvida do seu projeto de chegar aos Leões. Por sua vez, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho vem mantendo o discurso de que é candidato, mas todas as avaliações apontam inconsistência nesse projeto, havendo quem enxergue nele, no máximo, um potencial candidato a vice.
O prefeito Lahesio Bonfim entra na corrida como um pré-candidato solitário, sem ter sequer o apoio do seu partido, cujo novo chefe no Maranhão, deputado federal Pedro Lucas Fernandes, é linha de frente da pré-candidatura de Weverton Rocha, um problema que terá de resolver até setembro. Mesmo assim, está em campanha aberta, com outdoors espalhados Maranhão a fora, bancados, segundo ele, por um movimento da direita no estado. Tem se apresentado como “o melhor prefeito do Maranhão” e garantido, em entrevistas, que não abre mão da candidatura. Outro candidato assumido, o secretário Simplício Araújo, que é suplente de deputado federal, entrou na disputa pela vaga de candidato da aliança situacionista protagonizando um saudável gesto de ousadia política, e por ser detentor de condições que lhe permitem ousar: comanda um partido, tem uma base eleitoral razoável e tem feito um bom trabalho como secretário de Indústria e Comércio. Nove entre dez observadores o veem como candidato a deputado federal.
Nesse contexto, o senador Roberto Rocha, cujo mandato termina em 2022, se movimenta como uma grande incógnita. Será candidato a governador? Tentará renovar o mandato de senador? Tentará caminho de volta à Câmara Federal? Ele ora sinaliza interesse pelos Leões, ora insinua que tentará a reeleição contra o governador Flávio Dino. Parece decidido a resolver seu futuro nas urnas depois que se filiar a um partido, que deve ser o do presidente Jair Bolsonaro, a quem atrelou fortemente sua vida política.
Como é visível, a corrida para o Palácio dos Leões já está, de fato, em franco andamento.
PONTO & CONTRAPONTO
Assembleia fez a sua parte e entra em recesso por 15 dias
Começa hoje, oficialmente, e termina no dia 1º de Agosto, o recesso da Assembleia Legislativa. Serão 15 dias em que os deputados estaduais estarão desobrigados das sessões e das reuniões de comissões técnicas do Poder Legislativo. No período legislativo que começou em fevereiro e terminou ontem, sob o comando do presidente Othelino neto (PCdoB), a Assembleia Legislativa se reuniu na maioria das vezes, por vídeoconferência – sistema no qual o parlamento maranhense foi pioneiro -, uma vez que as sessões presenciais foram suspensas por conta do novo coronavírus. Apesar das dificuldades de comunicação, o presidente Othelino Neto atuou criando as condições para que os deputados mantivessem o ritmo de trabalho, agindo também para mantê-los mobilizados, o que aconteceu de maneira satisfatória: a Assembleia funcionou, aprovou e rejeitou matérias, registrando uma produção bem acima que as previsões pessimistas feitas no início do período legislativo.
Nesse período de recesso, os parlamentares aproveitarão para intensificar as incursões nas suas bases eleitorais, com foco nos preparativos para as eleições do ano que vem, quando tentarão renovar seus mandatos, enfrentando seus pares e uma implacável concorrência dos que estão de fora querendo entrar.
Um servidor público assume o comando do TCE, onde o nepotismo reinou
Na próxima Quarta-Feira (21), vai acontecer o até pouco tempo impensável: um servidor público federal, forjado nas lutas sindicais e na militância petista, que chegou a vice-governador na chapa de Roseana Sarney em 2010 por acordo partidário, e que, também por acordo político, ganhou a cobiçada cadeira de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão (TCE), chegando na semana passada ao cargo de presidente com a renúncia do conselheiro Nonato Lago, será aclamado presidente da Corte de Contas. O beneficiário desse processo é o servidor federal, sindicalista e militante graduado do PT Washington Oliveira.
Sua ascensão ao comando do TCE difere radicalmente da esmagadora maioria das nomeações feitas nas últimas décadas, nas quais predominaram o nepotismo ostensivo praticado pelos chefes políticos do Maranhão. Não é o caso, por exemplo, do conselheiro Raimundo Nonato Carvalho Lago Jr., que renunciou à presidência para se aposentar. Irmão de Jackson Lago, ele chegou à Corte de Contas indicado pelo governador Epitácio Cafeteira, com quem manteve sólida amizade. Durante o Governo Cafeteira, Nonato Lago foi assessor especial da Casa Civil e atuava no Palácio dos Leões como médico à serviço do governador.
Outras nomeações se encaixam no nepotismo que dominou a vida do TCE. Newton Bello Filho foi nomeado pelo pai, o governador Newton Bello, para o cargo com pouco mais de 20 anos. A família Sarney emplacou o advogado Evandro Sarney, irmão de José Sarney, que em seguida garantiu cadeira para o cunhado, Albérico França Ferreira, que teve seu filho, Álvaro César França Ferreira, também nomeado para a Corte. Antes de deixar o cargo, o governador Luiz Rocha emplacou seu cunhado, Raimundo Oliveira Filho, que funcionava como contador do chefe do Governo. Na mesma linha, o governador Edison Lobão emplacou seu irmão, o ex-deputado estadual Yedo Lobão.
Depois de Álvaro Ferreira, o TCE parece ter deixado de ser manipulado pelo nepotismo na formação do seu Conselho. Dois conselheiros políticos foram bancados pela Assembleia Legislativa, à qual a Corte é institucionalmente subordinada: os ex-deputados Jorge Pavão e Edmar Cutrim, e um servidor da Casa, José Ribamar Caldas Furtado. Apesar do caráter político da sua ascensão, Washington Oliveira chega ao comando do TCE sem ter no currículo a mancha do nepotismo.
São Luís, 18 de Julho de 2021.