Sem líder para juntá-los, pedaços do que foi o Grupo Sarney tendem a seguir caminhos próprios

 

Roseana Sarney, Edilázio Jr., Aloísio Mendes e Adriano Sarney: sem sintonia e afastados por falta de um líder

As primeiras evidências têm mostrado que, ao contrário do que rascunharam algumas previsões, por falta de um líder forte e agregador, as correntes remanescentes do Grupo Sarney tendem a seguir rumos diferentes, inviabilizando esforços para que se unam em torno de um projeto eleitoral para 2022. A lógica fria da política indicava que, ao assumir o comando estadual do MDB, depois de encarar o poder de fogo da ala mais jovem do partido, a ex-governadora Roseana Sarney seria naturalmente alçada à condição de líder e comandaria uma articulação para juntar esses pedaços numa frente. No entanto, os partidos comandados por políticos nascidos das entranhas do sarneysismo parecem inclinados a seguir cada um o seu próprio rumo na corrida sucessória estadual. Não surgiram até aqui sinais de que eles estejam, de fato, interessados numa aliança visando a disputa para o Palácio dos Leões.

Algumas evidências mostram esse desinteresse. Sob o comando de Roseana Sarney, o MDB, por exemplo, o parece mesmo decidido a abrir negociações com os mais diversos pré-candidatos a governador, sinalizando que participará a aliança que lhe for interessante, podendo apoiar o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), o senador Weverton Rocha (PDT), o ex-prefeito de São Luís Edivaldo Holanda Jr. (a caminho do PSD), ou até mesmo o senador Roberto Rocha, se vier de fato a entrar na disputa. Descartando sua própria candidatura, Roseana Sarney tem dito que todos os pré-candidatos “são bons”, e que por isso quer o MDB dialogando com todos eles, para depois escolher um deles.

Por sua vez, o PSD, liderado pelo deputado federal Edilázio Jr., levou meses alinhavando a filiação do ex-prefeito Edivaldo Holanda Jr., vendo nele um forte trunfo na disputa para o Governo do Estado. O ex-prefeito, que deixou o PDT, caminha para formalizar sua filiação no PSD já com o desafio de ser candidato a governador, como aspiram os líderes do partido. Nas manifestações sobre o assunto, nem Edilázio Jr. nem o deputado estadual César Pires e nem o próprio Edivaldo Holanda Jr. fez qualquer declaração manifestando interesse numa eventual aliança com o MDB. Diferentemente do que se esperava, vêm deixando no ar a impressão de que uma aliança com o MDB não é exatamente o que o projeto do partido prevê. Na prática não demonstra interesse na reagrupação do MDB.

Na mesma linha tem se conduzido o PSC, comandado pelo deputado federal Aloísio Mendes., atual vice-líder do Governo Bolsonaro no Congresso Nacional. Pelo menos por enquanto, o parlamentar e seu partido parecem mais inclinados a tocarem seus projetos isoladamente, não demonstrado interesse nem pela estratégia do MDB de articular alianças ouvindo outros partidos. Há conversas nos bastidores prevendo que o PSC pode vir a se aliar ao PSD em torno da virtual candidatura do ex-prefeito de São Luís, ou seguir a orientação do Palácio do Planalto juntando-se à provável candidatura do senador Roberto Rocha, ainda sem partido.

E agora, o deputado estadual Adriano Sarney, que preside o PV no Maranhão, emerge de um mergulho temporário avisando que está avaliando se se candidata à reeleição ou se parte para tentar uma cadeira na Câmara Federal. Na sua conversa, o herdeiro do ex-deputado federal Sarney Filho, que foi lançado há oito anos como o futuro do Grupo Sarney, não dá a menor importância à possibilidade de juntar os cacos, dando a impressão de que seguirá sozinho.

As situações desenhadas até agora não indicam que esses partidos se juntarão numa aliança em torno de uma chapa com candidatos a governador e a senador. A expectativa natural era a de que, investida no comando do MDB, Roseana Sarney usasse seu prestígio na seara sarneysista para liderar um movimento que juntasse o seu partido com PSC e PSD. Mas os fatos estão desmontando essa possibilidade, uma vez que a ex-governadora, que durante mais de duas décadas teve nas mãos o comando absoluto do então poderoso Grupo Sarney, que reunia mais de uma dezena de partidos, não dá sinais de que tem força política suficiente para articular e liderar uma aliança formada a partir das sobras do sarneysismo.

Se não forem articulados pelos deputados federais Edilázio Jr. e Aloísio Mendes, os pedaços do que já foi o Grupo Sarney continuarão espalhados. Exatamente por falta de um líder.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Conversas de Dino com Lupi e Dirceu terá basicamente a mesma pauta

Flávio Dino ouvirá Carlos Lupi e José Dirceu sobre disputa sucessória estadual e federal

O governador Flávio Dino (PSB) tem duas conversas partidárias importantes agendadas para essa semana, uma com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e outra com o atual eminência parda do PT, José Dirceu. Não precisa grande esforço para saber que o roteiro será o mesmo. Carlos Lupi chega a São Luís nas próximas horas para tentar convencer o governador Flávio Dino a apoiar a candidatura do senador Weverton Rocha ao Governo do Estado, e trocar figurinhas a respeito da corrida ao Palácio do Planalto, na qual PDT se encontra sendo arrastado para o abismo com a pré-candidatura do ex-governador cearense Ciro Gomes. José Dirceu, que já se encontra no Maranhão curtindo os Lençóis Maranhenses e deve chegar a São Luís na Quinta-Feira, tentará convencer Flávio Dino a abraçar logo a candidatura do ex-presidente Lula da Silva como fato consumado, e a examinar a possibilidade de encontrar um espaço majoritário para o PT na corrida ao Palácio dos Leões.

Uma fonte com trânsito no “núcleo de ferro” garante que o governador Flávio Dino já sabe exatamente o que dirá aos dois aliados, e sem o risco de abrir crise na relação com o PDT e com o PT.

 

Feitas as contas, o Republicanos repôs a perda, mas o PTB perdeu mesmo

Gil Cutrim turbinou o Republicanos; Mical Damasceno recebeu um partido fraco

Alguns observadores estão fazendo contas equivocadas em relação a posições de partidos que deram guinadas recentes no Maranhão. Dois exemplos: Republicanos e PTB.

O Republicanos sofreu grande perda política com a migração do vice-governador Carlos Brandão para o PSDB. Não se discute que a saída um quadro que daqui a nove meses e dias será elevado ao posto de governador titular representou um jato gelado no poder de fogo do partido. Mas não se pode ignorar que o fato de que o que dá força, peso político e futuro a um partido é ter nos seus quadros o maior número possível de deputados federais. Vem daí a conclusão de que, ao atrair o deputado federal Gil Cutrim para seus quadros, o braço maranhense do Republicado perdeu a perspectiva de ter o governador, mas ganhou, e muito, em estatura no plano nacional.

Já o PTB sofreu uma perda não reparada, por ato ditatorial e desconectado da realidade praticado por seu presidente, ex-deputado federal Roberto Jefferson, que dominado por um bolsonarismo abjeto, destituiu o deputado federal Pedro Lucas da presidência do braço maranhense e praticamente o expulsou do partido, entregando o seu comando à deputada estadual Mical Damasceno. Nesse caso, o partido perdeu feio com a perda do deputado federal Pedro Lucas Fernandes, que pelas regras atuais é a moeda forte de qualquer agremiação partidária.

Como se vê, regiamente compensado, o Republicanos vez beicinho, mas não reclamou muito da saída do vice Carlos Brandão. Já o PTB encolheu expressivamente ao perder o deputado federal Pedro Lucas Fernandes, apesar da euforia que tomou conta do seu novo chefe, a deputada estadual “terrivelmente evangélica” Mical Damasceno.

São Luís, 20 de Julho de 2021.

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