O MDB não lançará candidato a governador, e provavelmente nem a senador. Sob nova direção, eleita ontem, o partido vai concentrar seus esforços no projeto de recuperar, pelo menos parte da força que já teve, elegendo deputados federais e deputados estaduais. Tudo aconteceu como no script previamente negociado: o MDB realizou ontem convenção extraordinária e elegeu a ex-governadora Roseana Sarney presidente, o deputado estadual Roberto Costa vice-presidente e o ex-senador João Alberto presidente de honra. A eleição do novo comando emedebista se deu por unanimidade e sem concorrência. Na posse, Roseana Sarney repetiu que vai trabalhar com afinco para que o partido recupere pelo menos parte da força política e eleitoral que já teve no Maranhão, elegendo mais deputados federais e deputados estaduais, e participando das articulações envolvendo a corrida ao Governo do Estado e ao Senado. A ex-governadora foi mais moderada do que em entrevista recente à TV Mirante, quando declarou que estava articulando sua candidatura ao Governo, e deixou no ar até mesmo que esteja trabalhando para disputar cadeira na Câmara Federal, para ajudar no fortalecimento do partido. Não foi a grande festa partidária que alguns esperavam, mas a convenção sinalizou que o partido ainda tem lastro no Maranhão, como o da família Lobão, representada no ato pelo empresário e ex-senador Lobão Filho, que demonstrou certa empolgação com o novo momento do MDB.
Todos os dirigentes se declararam entusiasmados com a ascensão de Roseana Sarney ao comando do MDB. Mostraram acreditar que, no comando da máquina partidária tão bem cuidada pelo presidente João Alberto durante mais de três décadas, ela pode levar o partido a recuperar pelo menos parte da força que já teve no Maranhão, chegando a controlar nada menos que 84 prefeituras, vários deputados federais e alguns deputados estaduais, além de dois senadores e o governador – no caso, ela. Trucidado nas urnas em 2018, o partido, que perdera o Governo em 2014, ficou sem seus dois senadores em 2018, tendo conquistado apenas seis prefeituras em 2020.
O que aconteceu ontem foi o ponto alto de uma grande articulação interna entre a velha e a nova geração dentro do partido. No comando havia mais de três décadas, João Alberto deu vez à nova geração, comandada por Roberto Costa, que impediu Roseana Sarney de chegar à direção partidária em 2019, logo depois de ela não ter conseguido se eleger governadora pela quinta vez. De lá para cá, Roseana se articulou bem com as forças emedebistas e conseguiu virar o jogo, convencendo a ala jovem de que tem força para melhorar a situação da agremiação. Assim, conseguiu convencer João Alberto a se aposentar, ganhando o título honorífico, mas sem poder, de presidente de honra, e Roberto Costa a ajudá-la no processo, na condição de vice-presidente, com carta-branca para articular reforços.
Muito embora tenha dito que seu futuro será discutido pela cúpula partidária, Roseana Sarney caminha mesmo para disputar uma cadeira na Câmara Federal. Mesmo liderando as pesquisas com média de 30% das intenções de voto, esse cacife praticamente desaparece sob o peso de uma rejeição que supera os 40%. As mesmas pesquisas indicam com clareza solar que ela não tem menor chance de disputar o senado com o governador Flávio Dino, que lidera com folga e sem qualquer ameaça. O projeto de se candidatar à Câmara Federal, portanto, além de viável no plano pessoal, pode até levar o partido a melhorar seu desempenho nessa seara, com a reeleição de Hildo Rocha e João Marcelo, podendo “puxar” mais um do partido. Se isso for concretizado nas urnas, ela desembarcará em Brasília em 2023 com razoável poder de fogo.
A convenção de ontem consolidou também a liderança do deputado Roberto Costa no partido. Afinal, foram os seus arrojados e inteligentes movimentos que criaram as condições para que o MDB maranhense esteja agora se levantando e sacudindo a poeira. Se vai dar a volta por cima, só será possível saber com o resultado das eleições do ano que vem.
PONTO & CONTRAPONTO
João Alberto entrega um partido estruturado
Numa das entrevistas que concedeu ontem após ser eleita presidente do MDB, a ex-governadora Roseana Sarney fez a seguinte afirmação: “Estamos muito animados de assumir, porque o partido está muito organizado”. Não foi um elogio gratuito. Nessas quase três décadas no comando, o ex-senador João Alberto transformou o braço maranhense do MDB num modelo de administração partidária. Adquiriu sede própria e bem estruturada no São Francisco, legalizou a situação do partido na maioria dos municípios do Maranhão e manteve as finanças da agremiação sob controle férreo, tornando o MDB maranhense uma secção autossuficiente, financeiramente controlada e administrativamente eficiente. No meio político é sabido que não existe uma legenda mais organizada do que o MDB.
João Alberto assumiu o controle do partido no início dos anos 90, quando o seu comandante de então, o deputado federal Cid Carvalho, que era uma das suas referências nacionais, foi extirpado da vida pública e da vida partidária pela CPI dos Anões do Orçamento. A queda de Cid Carvalho levou o partido no Maranhão ao controle do Grupo Sarney, cabendo a João Alberto a tarefa de comandá-lo. Ao longo desse período, como vice-governador, deputado federal e senador, João Alberto montou uma máquina partidária bem azeitada, numa gestão considerada exemplar, fazendo jus ao título de presidente de honra. Essa estrutura foi entregue ontem à ex-governadora, gerando também a expectativa de como ela vai comandá-la e em que condições a repassará ao seu sucessor.
Roseana aparece com 10 pontos à frente de Weverton
Se a eleição para governador fosse agora, a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) iria para o segundo turno com 29%, seguida do senador Weverton Rocha (PDT) com 19%. É o que informa a pesquisa Exata, divulgada ontem à noite pelo programa Ponto & Vírgula, comandado por Leandro Miranda, titular do blog Marrapá e um dos coordenadores do projeto de candidatura do líder pedetista. A pesquisa estimulada contemplou três cenários, sendo que no principal o resultado foi o seguinte: Roseana Sarney com 29%, Weverton Rocha com 19%, Roberto Rocha (sem partido) com 10%, Edivaldo Holanda Jr. (sem partido) com 8%, Carlos Brandão (PSDB) com 6%, Josimar de Maranhãozinho (PL) com 5%, Lahesio Bonfim (PSL) com 4%, Simplício Araújo (SD) com 2%. Um contingente de 7% dos entrevistados respondeu não votaria em nenhum deles e outro de 10% disse não quis ou não soube responder.
Em Tempo: A pesquisa Exata/Ponto & Vírgula ouviu 1.418 eleitores no período de 23 e 28 de Junho, tem margem de erro de 3.2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e nível de confiabilidade de 95%.
São Luís, 03 de Julho de 2021.