Bolsonaro faz visita vazia ao CLA, diz que investiu R$ 1,3 bi na saúde do MA e é desmentido por Dino

 

Sem máscaras, Jair Bolsonaro e seus ministros ouvem o Hino Nacional em Alcântara

Mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve no Maranhão numa viagem sem qualquer resultado prático. A exemplo do que fez em Outubro do ano passado, quando passou por São Luís e participou da inauguração de um “panelódromo” em Imperatriz, agora o presidente da República desembarcou ontem à tarde no Centro de Lançamento de Alcântara para entregar 126 títulos agrários, elogiar o regime militar por haver implantado o CLA e dizer uma inverdade, que seu governo destinou R$ 109 milhões para o combate ao novo coronavírus no Maranhão, “informação” que foi categoricamente desmentida logo em seguida pelo governador Flávio Dino (PCdoB). Nada mais fez, nada mais disse e nada mais anunciou para Alcântara, para o Maranhão e para o País. Muitos apostaram que o presidente daria informações consistentes sobre vacinação e auxílio emergencial, mas suas respostas às indagações sobre esses temas foram vazias e imprecisas.

Para uma visita que nem mesmo a assessoria do Palácio do Planalto soube explicar e justificar, o presidente Jair Bolsonaro aterrissou na Base de Alcântara, no meio da tarde, acompanhado de cinco ministros (Defesa, Ciência e Tecnologia, Mulher e Direitos Humanos, Educação e Turismo), ciceroneado pelo senador Roberto Rocha (PSDB) e escudado pelos deputados federais Aluísio Mendes (PSC) Pedro Lucas Fernandes (PTB), Edilázio Jr. (PSD), Pastor Gildenemyr (PL), Marreca Filho (Patriotas), André Fufuca (PP) e Josivaldo JP (PHS). Durante toda a programação, o presidente, seus ministros e seus aliados parlamentares exibiram supremo desprezo pelo uso da máscara.

Sem nada para dizer, já que a entrega dos 126 títulos agrários não justificaria a visita – a entrega poderia ter sido feita por um ministro -, o presidente resolveu criticar o pedido do Governo do Maranhão ao Supremo Tribunal Federal para que ordene a União a reativar 216 leitos de UTI para pacientes com Covid-19, desativados pelo Ministério da Saúde no final do ano passado. Na ação, fartamente fundamentada, o Governo do Maranhão pede à Corte maior que imponha multa de R$ 1 milhão por cada dia de atraso na reativação dos leitos. Um dos argumentos do Governo do Maranhão na ação é que os custos com os leitos de UTI no estado são bancados pelos cofres do Restado, sem um centavo da União.

O presidente aproveitou o momento para classificar de “descabida” a ação do Governo maranhense, afirmando, sem qualquer elemento de prova, que, além de R$ 109 milhões, o Governo Federal já teria “investido” R$ 1,3 bilhão “na saúde do Maranhão”. As declarações do presidente ecoaram rapidamente no Palácio dos Leões, de onde o governador Flávio Dino reagiu desmentindo-o categoricamente, mostrando que o custo da saúde em 2020 no estado foi R$ 2 bilhões, dos quais uma pequena fração correspondeu a repasses do SUS. E mais: neste ano, 100% dos leitos de UTI estão sendo custeados pelo estado. Além disso, o Governo do Maranhão busca reestabelecer o financiamento de 3.258 leitos que, atualmente, está custeando. Ou seja, a julgar pela reação do governador Flávio Dino ao discurso feito em Alcântara, o presidente Jair Bolsonaro faltou com a verdade.

Além das declarações categoricamente desmentidas, o presidente Jair Bolsonaro tentou passar um verniz democrático na sua imagem mudando o discurso de exaltação enfática à ditadura, que fazia antes fervorosamente – inclusive defendendo as prisões, a tortura e as execuções – para declarar agora que o regime militar ditatorial “foi um pouco diferente do atual”. E encontrou a via para exaltar a ditadura elogiando a implantação do Centro de Lançamento de Alcântara, inaugurado em 1983, sem destacar, porém, que o Programa Espacial Brasileiro, que motivou a implantação do CLA, foi expandido e consolidado no Governo civil e democrático do presidente José Sarney.

Enfim, o que foi jornalisticamente registrado ontem no CLA produziu uma conclusão óbvia: se tivessem permanecido em Brasília, trabalhando efetivamente, o presidente Jair Bolsonaro, seus ministros e seus acompanhantes políticos teriam feito muito mais pelo País e pelo Maranhão.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Presidente crê que Biden manterá acordos que firmou com Trump

Entre ministros e parlamentares, Jair Bolsonaro, posa para fotografia com famílias e lideranças de agrovilas locais, que dão o exemplo usando máscaras

O presidente Jair Bolsonaro afirmou acreditar que os acordos assinados entre os Estados Unidos e o Brasil, sobre o uso da Base de Alcântara, serão mantidos pelo governo de Joe Biden. A declaração revela clara insegurança do presidente em relação ao novo governo norte-americano, cujos integrantes mais destacados não têm demonstrado muita simpatia pelo Governo brasileiro. Principalmente no que diz respeito aos arroubos autoritários do presidente e sua turma, e da política ambiental atropelada pelas “boiadas” do malvisto ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.  “O povo americano eles são voltados para o interesse de sua nação. Muda o governo, pouca coisa muda. Acredito que todos os acordos que assinamos no governo Trump serão mantidos no governo Biden. Afinal de contas, todos nós ganhamos. Não apenas os americanos, mas o Brasil também”, disse literalmente o presidente. Para ele, o Acordo de Salvaguarda Tecnológica firmado com Donald Trump sobre Alcântara será mantido. Finalmente, em tom de quem estava anunciando a descoberta da pólvora a uma plateia de desinformados, ensinou, sobre o CLA: “Isso aqui nos coloca em um seleto grupo dos lançadores de satélites”.

 

Roberto Rocha comandou a comitiva que acompanhou Bolsonaro ao CLA

 

À direita de Jair Bolsonaro, Roberto Costa comandou a comitiva parlamentar no CLA

Conversas paralelas, políticos integrantes da comitiva presidencial, ontem, no CLA, pareciam perdidos, como se não soubessem exatamente o que estavam fazendo ali. Afinal, o grupo era formado pelo senador Roberto Rocha – que fez todos os movimentos para deixar claro que o momento era dele – e pelos sete deputados federais, todos de partidos alinhados ao Palácio do Planalto. Pareceu que o objetivo maior da visita foi o registro fotográfico em volta do presidente, como ele, todos sem máscara, para a posteridade.

São Luís, 12 de Fevereiro de 2021.

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