O aval declarado do deputado federal Bira do Pindaré, ex-candidato do PSB, e a confirmação enfática do deputado federal Rubens Jr., ex-candidato do PCdoB, ao candidato Duarte Jr. (Republicanos), e as manifestações de Silvio Antônio, ex-candidato do PRTB, e do deputado estadual Wellington do Curso (PSDB) a Eduardo Braide (Podemos) encerraram ontem a montagem das bases de apoio dos dois candidatos para o 2º turno da eleição para a Prefeitura de São Luís. Ambos vão para o confronto respaldados por fortes alianças, o que certamente será o grande diferencial nessa disputa. Isso porque, além do controle do maior e mais importante município do Maranhão, a vitória vale também o comando de uma carga de poder político que os mais pragmáticos apontam como decisiva para o grande embate nas urnas em 2022. As forças mobilizadas em torno de Eduardo Braide ganharam feição de oposição ao governador Flávio Dino (PCdoB), enquanto que as que formaram ao lado de Duarte Jr. passaram a serem identificadas como a base de apoio leal ao governante e a seu Governo.
“Quem não está com Duarte Jr. está contra o governador Flávio Dino”. Feita em tom enfático por Rubens Jr. na entrevista em que ele e Bira do Pindaré, ao lado do presidente do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry, anunciaram formalmente seu apoio ao candidato do Republicanos, a manifestação soou como uma declaração de guerra endereçada aos ex-candidatos Neto Evangelista (DEM), Yglésio Moises (PROS), bem como a deputados e vereadores – entre eles Osmar Filho (PDT) – de partidos da base governista que declararam apoio a Eduardo Braide. No ato, Bira do Pindaré foi enfático na manifestação de apoio ao candidato do Republicanos: “A partir de hoje, o 40 é 10”. Duarte Jr., que está com Covid-19, participou do ato por meio de um telão, e foi respaldado pela presença da candidata a vice-prefeita Fabiana Vilar (PL), dos deputados Vinícius Louro (PL) e Ana do Gás (PCdoB) e do vice-prefeito de São Luís Júlio Pinheiro (PCdoB).
Por mais que alguns observadores tentem manifestar surpresa em relação à declaração de Rubens Jr., ela está dentro da lógica e do pragmatismo que movem a política em tempo de confronto eleitoral. O governador Flávio Dino e seus aliados se posicionaram a favor do candidato do grupo que foi para o 2º turno, e não há dúvidas de que teriam feito o mesmo se fosse Neto Evangelista, Bira do Pindaré, Jeisael Marx ou Yglésio Moises. Eduardo Braide faz oposição ao Governo, e por isso mesmo não faz o menor sentido, por exemplo, o deputado Carlos Florêncio, que é do PCdoB, não tem um voto em São Luís e teve seu grupo fragorosamente derrotado na sua base, Bacabal, declarar apoio ao candidato do Podemos enquanto o seu partido declara apoio ao candidato do Republicanos.
A declaração de Rubens Jr. vai colocar as coisas nos seus devidos lugares, funcionando como um recado político direto também para o braço municipal do Solidariedade, comandado por Carlos Madeira, um cristão novo na política ludovicense e inexplicavelmente alçado à condição de chefe partidário com autonomia para tomar uma decisão desse quilate. Isso pode criar fissuras graves na aliança liderada pelo governador Flávio Dino? Pode sim, mas não dá para imaginar o governador cruzando os braços enquanto aliados seus tentam colocar um importante oponente no comando político e administrativo da Capital. Se concordasse com a atitude do deputado Neto Evangelista, sua liderança seria gravemente desidratada.
Por outro lado, Eduardo Braide joga com habilidade para fortalecer sua candidatura. A conversa com Wellington do Curso, que o xingou quando foi rifado pelo PSDB, foi uma demonstração de que nesses momentos o pragmatismo fala mais alto do que certos brios. Wellington do Curso sequer pediu desculpas pelas palavras duras de antes, mas Eduardo Braide aceitou o seu apoio adjetivando o ex-adversário de “deputado valoroso”. Algo errado nisso? Claro que não. Eduardo Braide chegou onde chegou usando a cabeça, e não o fígado. Para ele, não é momento de escolher aliado, e quanto maior for o número de adesões ao seu projeto, melhor. Daí não titubear em aceitar a declaração de apoio de Silvio Antônio, um político de extrema direita, consciente e orgulhoso da sua posição ideológica, e propagador do bolsonarismo no Maranhão. Para o candidato do Podemos, o que importa são os mais de 3% que votaram no candidato do PRTB e que podem lhe dar o voto agora.
É esse o jogo que está em curso, valendo para a candidatura de Duarte Jr. a regra de que grupo é grupo, e para a de Eduardo Braide a ideia de que o que vale é o voto, venha de onde vier.
PONTO E CONTRAPONTO
Posição do PDT em São Luís tem a ver com o projeto de Weverton Rocha para chegar aos Leões
A manifestação da direção nacional do PDT sobre a posição de neutralidade que o partido assumiu no 2º turno da disputa em São Luís só tem uma motivação, e esta não é assumida: o projeto do senador Weverton Rocha de chegar ao Governo do Estado em 2022.
A eventual eleição do candidato do Podemos, Eduardo Braide, fortalecerá o projeto do senador Roberto Rocha (PSDB) de tentar a sucessão do governador Flávio Dino, podendo também, numa outra perspectiva, abrir caminho para uma eventual candidatura da ex-governadora Roseana Sarney (MDB), ou, ainda, numa hipótese remota, mas possível, um projeto do próprio Eduardo Braide, numa repetição do que aconteceu com João Doria em São Paulo. Qualquer uma delas é encarada como “enfrentável” pelo líder do PDT no Maranhão.
Já a eventual eleição de Duarte Jr. significa o fortalecimento automático do vice-governador Carlos Brandão, que assim terá um braço forte no principal colégio eleitoral do estado. Pode também impulsionar, de maneira indireta, o projeto do deputado Josimar de Maranhãozinho (PL), que está se propondo a ser uma opção a mais na corrida ao Palácio dos Leões. Duarte Jr. prefeito dificilmente optará pela candidatura de Weverton Rocha se Carlos Brandão estiver no páreo. Nesse cenário, Duarte Jr. sempre ouvirá a recomendação do governador Flávio Dino, que não trata do assunto, mas é sabido que ele incentiva o projeto de Carlos Brandão.
O argumento de o Republicanos ser “bolsonarista” e de “a maioria” do PDT optar “espontaneamente” pela candidatura de Eduardo Braide é apenas uma alegoria retórica, que nada tem a ver com a realidade. O fato verdadeiro é que, com o arrojo de sempre e decidido a pavimentar o seu caminho rumo aos Leões, o senador Weverton Rocha jogou todas as suas fichas na candidatura de Neto Evangelista, porque tinha a garantia, dada pela cúpula nacional do DEM, de que, eleito prefeito, ele seria o seu braço forte em São Luís.
Nada mais que isso.
Memória
Há 20 anos, São Luís produziu um fenômeno eleitoral, que foi triturado pelo jogo do poder
A eleição da nova composição da Câmara Municipal de São Luís trouxe à tona nada menos que 20 anos de memória dessa sempre disputada refrega eleitoral. Entre os mais de 900 candidatos que brigaram pelas 31 vagas no plenário do Palácio Pedro Neiva de Santana aparece Pedro Celestino, identificado por uma fotografia que denuncia o peso da idade. Candidato pelo Democracia Cristã (DC), o Pedro Celestino de agora saiu das urnas com magros 106 votos, atrás de mais de sete centenas de concorrentes.
Para quem não sabe, Pedro Celestino foi o grande fenômeno da eleição para a Câmara Municipal de São Luís em 2000, quando Jackson Lago (PDT) se elegeu prefeito pela terceira vez. Naquela disputa, na qual o PDT, então coligado com o PFL por força de um acordo do prefeito Jackson Lago com a governadora Roseana Sarney, todos os prognósticos diziam que o PDT teria os vereadores mais votados. Mas isso não aconteceu.
Entre os candidatos, surgiu Pedro Celestino, um jovem negro, de origem muito humilde, servidor federal. Filiado ao Partido Verde, que havia chegado ao Maranhão no início da década de 1990 e começava a ganhar como canal do discurso ambientalista e de defesa das minorias, Pedro Celestino protagonizou uma campanha que fez história com o slogan “O pequeno que incomoda”, com o qual se referia a ele próprio e ao seu partido. Inteligente, carismático e muito comunicativo, aquele candidato do PV a vereador seduziu o eleitorado ludovicense, arrastou multidões no centro da cidade, numa identificação plena com os mais humildes, os desvalidos. Uma campanha revolucionária, sem nenhum recurso financeiro, nada parecida com outras campanhas.
O resultado da ousadia politicamente inovadora foi que, concorrendo com nomes de peso da época, entre eles o engenheiro Pádua Nazareno (PDT), um dos azes de ouro da equipe do prefeito e do veterano líder oposicionista Haroldo Sabóia (PT), Pedro Celestino saiu das urnas como o segundo mais votado, com inacreditáveis 7.447 votos, só perdendo para o campeão daquela eleição, o pedetista Pádua Nazareno, que recebeu nada menos que 10.035 votos, mas deixando muito atrás o experiente e respeitado Haroldo Sabóia, que se elegeu com 3.330 votos.
Bom na arte de seduzir eleitores, Pedro Celestino revelou-se parlamentar ingênuo, politicamente despreparado, tendo se deixado envolver pelas teias traiçoeiras do poder. Chegara à Câmara por seus próprios meios, sem padrinho, e com autoridade política para exercer um mandato rico como porta-voz daqueles que lhe deram a impagável oportunidade. Sentindo que aquele vereador jovem e envolvente poderia se tornar uma voz incômoda, crítica e cobradora, o prefeito Jackson Lago jogou o laço fatal: convidou o adversário potencial para ser líder do seu Governo. Inebriado pela ideia de poder, Pedro Celestino aceitou. Como líder, foi obrigado a sufocar o discurso de cobrança e assumir a defesa do Governo. Foi o seu fim como político que fez tudo certo, mas cometeu o erro fatal de trair suas origens. Foi varrido do cenário político ludovicense.
São Luís, 20 de Novembro de 2020.