O braço ludovicense do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) tomou uma decisão surpreendente: trocou o seu candidato à Prefeitura de São Luís. Saiu o bacharel em Computação e professor Saulo Arcangeli e entrou o militante social Hertz Dias. A troca sinaliza uma mudança expressiva no projeto político e eleitoral do partido na Capital, à medida que Saulo Arcangeli deixa a disputa majoritária para entrar na guerra por uma cadeira na Câmara Municipal. O projeto se assemelha ao do PSOL, que lançou o jornalista, advogado e professor Franklin Douglas à disputa pela Prefeitura, mas também com o compromisso de apoiar e dar substância a uma chapa de candidatos a vereador. De longe os mais expressivos e ativos bastiões da esquerda extremada no Maranhão, os dois partidos passam a impressão de que estão caindo na real e se dando conta de que o fato de não terem representantes eleitos, como prefeitos e vereadores, os manterá alijados do grande debate sobre o futuro de São Luís, correndo o risco de desparecerem do cenário político estadual.
Fundado em São Paulo e tendo o braço de São Luís como um dos mais ativos do País, o PSTU é quase um fantasma partidário, à medida que – pelo menos até onde a Coluna alcança – não tem representantes no Congresso Nacional, em Assembleias Legislativas, em Câmaras Municipais nem em governos estaduais ou em Prefeituras. Sua atuação tem sido limitada a eventos de rua, aos quais seus poucos militantes marcam presença com bandeiras vermelhas com a sigla do partido em branco, sem a evidência de uma liderança forte que fale em nome em seu nome. No Maranhão, o PSTU foi durante muitos anos comandado pelo eletricitário Marcos Silva – que disputou a Prefeitura de São Luís e o Governo do Estado várias vezes, e que recentemente migrou para o PCdoB, pelo qual pretende tentar uma cadeira na Câmara Municipal – e por integrantes da família Durans, todos militantes, que só aparecem em períodos eleitorais.
Tudo indica que, calejado de atuar como figuração eleitoralmente inexpressiva, o partido de Zé Maria firmou mais os pés no chão ao decidir dar ao seu quadro mais importante a oportunidade concreta de conquistar um mandato. Figurante em várias eleições, tendo disputado a Prefeitura, o Governo do Estado e o Senado, Saulo Arcangeli se tornou, por suas boas participações, um político conhecido, ideologicamente coerente, talhado, portanto, para disputar um mandato de vereador. Já Hertz Dias tem no currículo uma candidatura a vice-presidente da República em 2018, na chapa liderada pela sergipana Vera Lúcia. É provável que o comando do PSTU tenha mergulhado na razão e concluído é mais racional e promissor investir toda sua força política e eleitoral na tentativa de eleger um vereador, do que alimentar a ilusão de conquistar nas urnas o Palácio de la Ravardière.
Surgido de uma dissidência do PT durante o primeiro mandato presidencial de Lula da Silva, o PSOL é um partido bem mais forte e estruturado do que o PSTU. Tem representantes no Congresso Nacional, em alguns parlamentos estaduais e municipais. Em São Luís teve momentos promissores, mas divergências internas o enfraqueceram. Já teve nomes politicamente conhecidos e eleitoralmente viáveis, como o ex-deputado federal Haroldo Sabóia. Hoje, Franklin Douglas é o seu quadro mais conhecido, e sua candidatura é também uma estratégia de embalar uma chapa do partido à Câmara Municipal, tendo como um dos destaques o sindicalista Raimundo Noleto, que foi candidato a senador em 2018.
Numericamente inexpressivos, os chefes e os militantes do PSTU e do PSOL no Maranhão sabem que nesse novo cenário político do Maranhão, no qual estão pontificando líderes da chamada esquerda democrática, que alguns preferem identificar como centro-esquerda, não há lugar para uma esquerda radical. Isso pode explicar a mudança de objetivo de ambas as agremiações.
PONTO & CONTRAPONTO
Imagem de Hilton Gonçalo foi colocada em xeque pela “Operação Falsa Esperança”
A “Operação Falsa Esperança”, feita pela Polícia Federal para investigar fortes suspeitas de desvio recursos públicos na compra de respiradores para leitos de UTIs destinados a infectados pelo novo coronavírus em Santa Rita, Bacabeira e Miranda do Norte foi uma pancada sem precedentes no prestígio do prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (Republicanos) e da mulher dele, Fernanda Gonçalo (PMN), prefeita da vizinha Bacabeira. Festejados no meio político maranhense como líderes de referência administrativa, com influência em outros municípios, ambos estão ameaçados pela artilharia do descrédito, exatamente no momento em que se preparam para encarar a luta pela reeleição.
Conhecido pela sua eficiência administrativa, tendo colocado Santa Rita como exemplo de boa gestão, o médico Hilton Gonçalo entre os políticos mais importantes do Maranhão, apesar das suas estranhas movimentações políticas. Foi eleito com quase 90% dos votos em 2006, tendo eleito sua mulher, Fernanda Gonçalo, prefeita de Bacabeira também por larga maioria de votos, tendo tido ainda influência decisiva na eleição de Iriane Gonçalo, sua irmã, em Pastos Bons. Em 2016, além das vitórias acachapantes que liderou, foi um dos coordenadores da campanha do então deputado estadual Eduardo Braide, então no PMN, à Prefeitura de São Luís, relação política mantida até agora.
A acusação de desvio na compra de respiradores é forte. Impressionam as imagens mostrando toscos cilindros de oxigênio substituindo respiradores comprados e não recebidos, numa operação que movimento R$ 4,5 milhões, colocou em xeque a credibilidade dos bem avaliados prefeitos de Santa Rita e Bacabeira. Muitos torcem para que eles tombem no charco das ilegalidades, mas há também muitos que torcem para que eles expliquem o que aconteceu, que não houve desvio nos dois municípios e saiam ilesos.
A mesma situação envolve o prefeito de Miranda do Norte, Eduardo Belfort (PSDB), que também caminha para a reeleição, mas pode encontrar enormes pedras no meio do caminho.
Carlos Brandão pode ajudar nas articulações do Republicanos para as eleições municipais
A tragédia que atingiu o deputado federal Cleber Verde com o brutal assassinato dos seus pais, no mês passado, numa fazenda em Turiaçu, o tirou temporariamente do eixo das articulações para conduzir o seu partido, o Republicanos, a um bom desempenho nas eleições municipais. A agremiação partidária, porém, não ficará sem comando, uma vez que o vice-governador Carlos Brandão poderá assumir a tarefa de cuidar do processo. Considerado um articulador eficiente, que sabe trabalhar nos bastidores, Carlos Brandão poderá, pelo menos, consolidar parte do que já estava sendo articulado por Cleber Verde. A eficiência do vice como articulador foi mostrada em 2016, quando ainda comandava o PSDB e saiu das urnas com 29 prefeitos eleitos, um a mais do que o PDT e só perdendo para o PCdoB, que sob a batuta do hoje deputado federal Márcio Jerry foi vitorioso em 46 municípios.
São Luís, 08 de Agosto de 2020.