Ao mesmo tempo em que enfrenta a maior crise sanitária dos tempos recentes, causada pelo novo coronavírus, com milhares de mortes numa curva ainda ascendente, o Brasil avança também para o que poderá ser uma grave crise institucional de desfecho imprevisível, consequência da irracionalidade política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que contraria a razão e teima em marchar na contramão da História. E nesse contexto de alta tensão e forte expectativa, as forças políticas do Maranhão, principalmente os seus representantes no Congresso Nacional, poderão ter de se posicionar clara e abertamente se a situação de fato se agravar no campo político, como os fatos vão desenhando dia após dia, levando, por exemplo, a um pedido de impeachment do controvertido chefe da Nação.
Como aconteceu com a bandada maranhense de 2016, cuja maioria votou pelo polêmico impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a atual representação congressual do Maranhão poderá ter de encarar esse quadro de ruptura e certamente se dividirá nos momentos de decisão. Sob a liderança direta do governador Flávio Dino (PCdoB), os segmentos de esquerda e centro-esquerda e de centro, formado pelos senadores Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (Cidadania) e os deputados federais Márcio Jerry (PCdoB), Bira do Pindaré (PSB), Zé Carlos (PT), Gastão Vieira (PROS) Pedro Lucas Fernandes (PTB) se posicionarão em Oposição ao bolsonarismo. O posicionamento desse grupo está evidenciado nas ações e pronunciamentos políticos do governador Flávio Dino e nas manifestações individuais desses parlamentares contra o presidente e seu governo no agitado cotidiano político nacional.
No confronto cujo roteiro ganha definição a cada dia, o presidente Jair Bolsonaro terá como aliadas as forças assumidamente de direita, representadas, num cenário de crise, pelo senador Roberto Rocha (PSDB) – que até aqui tem contrariado a linha do seu partido – e os deputados federais Edilázio Júnior (PSD), Aluízio Mendes (PSC), Hildo Rocha (MDB), Josimar de Maranhãozinho (PL), Pastor Gildenemyr (PL), Júnior Lourenço (PL), Marreca Filho (Patriotas). São forças difusas, assumidamente de direita, mas que não estão sob o comando de um líder – salvo os deputados do PL, que são chefiados por Josimar de Maranhãozinho. Pertencem à ala bolsonarista do Centrão, não havendo dúvida quanto ao seu alinhamento com o Palácio do Planalto, que poderá ser mantido em caso de ruptura.
No centro político e partidário da bancada federal estão alguns deputados de centro-direita e de direita e cujas atuações não deixam muitas pistas sobre o rumo que tomarão numa situação de confronto. São eles Eduardo Braide (Podemos), Juscelino Filho (DEM), André Fufuca (Progressistas), João Marcelo (MDB), Cléber Verde (Republicanos) e Gil Cutrim (Podemos). Seus partidos pertencem ao Centrão, eles têm boa relação com os comandos partidários, votam via de regra com o Governo, mas são parlamentares que aqui e ali saem dos trilhos de orientação das lideranças para se posicionar com alguma independência, o que os torna imprevisíveis no desfecho traumático de uma crise política.
O que vem por aí está ganhando traços de um cenário politicamente insustentável. Primeiro porque o Brasil tem um presidente irracional, que parece não ter noção do papel de chefe da Nação num sistema presidencialista, mas que tem um Legislativo e um Judiciário que funcionam para balizar as ações do Poder Executivo. E depois, Jair Bolsonaro não consegue sair do submundo da política nacional, passando a impressão nítida de que está definitivamente amarrado ao mundo da conspiração fardada e à paisana contra a democracia e às raízes das milícias cariocas, além de se manter refém das entranhas menos saudáveis das redes sociais. Isso enquanto País mergulha numa guerra no combate a uma pandemia que já infectou centenas de milhares e já matou duas dezenas de milhares, e que minimiza dizendo que os brasileiros estão acometidos de “neurose”. Ontem, por e enquanto milhares de famílias choravam seus mortos, o presidente se divertia pilotando um jet ski no Lago Paranoá e confraternizando com barões candangos que faziam pouco caso da pandemia curtindo o sol nas suas lanchas milionárias.
Nenhum um povo, por mais cordato, pacífico e conformado que seja tolera por muito tempo o que está acontecendo no Brasil. E a solução dessa crise só virá corretamente pela via política, por ação do Congresso Nacional. E nesse processo, os três senadores e os 18 deputados federais maranhenses podem ter de se posicionar a favor ou contra uma virada política radical no País.
PONTO & CONTRAPONTO
Na linha de frente contra o coronavírus, Dino critica passeio de jet ski de Bolsonaro
O passeio de jet ski do presidente Jair Bolsonaro, ontem, no Lago Paranoá, que escandalizou muitos brasileiros, não passou desapercebido da alça de mira verbal do governador Flávio Dino. Logo em seguida, após visitar as instalações de um ambulatório implantado para desafogar as UPAs de São Luís, o governador disparou: “Neste sábado fizemos os ajustes finais no novo ambulatório para coronavírus que vai funcionar a partir de segunda-feira em São Luís, ajudando a desafogar as UPAs e dando atenção maior aos casos com comorbidades. Aqui a gente não tem tempo para passeio de jet ski”.
O que parece ser uma mera provocação, o petardo crítico do governador do Maranhão certamente traduziu a perplexidade e a indignação de milhões de brasileiros que assistiram ao laser presidencial, quando governadores, prefeitos e até mesmo ministro responsáveis estavam na frente de combate à pandemia, indiferentes ao fato de ser sábado. E mais, o presidente foi se divertir no Lago Paranoá depois de ter de cancelar “um churrasco com pelada”, para “uns trinta convidados”, diante da avalanche de críticas, e que, sem a menor cerimônia, disse depois que era “fake”. Não era.
O governador alfinetou o presidente com a autoridade do governante que, tendo feito a opção por salvar vidas, encarou a guerra desde os primeiros momentos e se tornou uma referência em todo o País. E embalado pelo argumento irrefutável, que nem foi preciso usar, de que enquanto o presidente se divertia pilotando um jet ski, o Brasil registrava a assombrosa marca dos 10.627 mortos, sendo 730 nas últimas 24 horas. Situação que motivou as cúpulas do Legislativo e do Judiciário a decretar luto pelas mortes.
Aliança do PDT com o DEM vai depender do aval de Edivaldo Holanda Jr.
Em meio à guerra contra o novo coronavírus, as forças políticas de São Luís se movimentam sutilmente para definir posições em relação à corrida para a sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT). Um dos movimentos – na verdade um jogo de pressões – ocorre exatamente nos bastidores do PDT. Comandante do partido no estado, o senador Weverton Rocha tenta consolidar o projeto de juntar o PDT com o DEM em torno da candidatura do deputado estadual Neto Evangelista. O projeto divide o arraial brizolista, tendo o apoio de uma fatia expressiva identificada com a linha do senador. A outra banda – majoritária, mas muito ativa – não fecha com a candidatura de Neto Evangelista. Há quem garanta que a principal voz de resistência a esse projeto seria o próprio prefeito Edivaldo Holanda Júnior, que prefere levar o PDT para uma aliança com o PCdoB em torno da candidatura do secretário das Cidades, Rubens Júnior. Não existe uma situação de confronto dentro do PDT ludovicense, mas quem conhece as reentrâncias do arraial brizolista aposta que essa parada só será resolvida depois de uma conversa decisiva sobre o assunto entre o senador Weverton Rocha, o prefeito Edivaldo Holanda Júnior, o governador Flávio Dino e o deputado federal Márcio Jerry, que preside o (PCdoB). Faz sentido.
São Luís, 10 de Maio de 2020.