Não passou de um sopro perdido do ex-senador Roberto Rocha (sem partido), mas sua iniciativa de sugerir a entrada da deputada federal Roseana Sarney (MDB) na corrida à Prefeitura de São Luís faz todo sentido no que diz respeito ao cenário político da Capital. Sem desmerecer os atuais candidatos ao Palácio de la Ravardièrie, a começar pelo prefeito Eduardo Braide (PSD), que conseguiu estatura política e busca a reeleição, falta nessa corrida representatividade e densidade política e partidária à altura de uma cidade com mais de um milhão de habitantes, que enfrenta problemas gravíssimos e desafiadores, que é Patrimônio Cultural da Humanidade e que não consegue avançar efetivamente em áreas básicas como saúde, educação e emprego e renda. É como se São Luís tivesse zerado o seu prestígio e fosse vista pelas elites políticas – tanto à direita quanto à esquerda – do Maranhão como um objetivo secundário.
Esta Coluna tem perguntado por que políticos da expressão do senador Weverton Rocha (PDT) da senadora Eliziane Gama (PSD), dos deputados federais Márcio Jerry (PCdoB) e Pedro Lucas Fernandes (UB), e dos deputados estaduais Othelino Neto (Solidariedade) e Neto Evangelista (UB), e também personalidades como os ex-deputados federais Sarney Filho (PV) e Haroldo Sabóia (PSOL) e o próprio ex-senador Roberto Rocha, que já foi vice-prefeito, não se interessam por disputar o comando da maior e mais importante cidade do Maranhão. Nesse cenário, a sugestão para que a ex-governadora por quatro vezes do Maranhão entre nessa disputa é um alento no sentido de que a campanha possa discutir São Luís no nível que a cidade, seus problemas e seus encantos, precisa ser discutida.
Existem hoje, claramente, duas São Luís. Uma é a cidade é do cotidiano, com seu déficit habitacional, seu baixo nível de saneamento básico, das ocupações imensas – caso da Cidade Olímpica, a maior invasão do País – e com seus problemas na área de transporte de massa, com seus limites viários, onde faltam calçadas e ciclovias e outros equipamentos urbanos já comuns no mundo inteiro, e onde praias são, via de regra, proibidas para banho, além de um bom serviço de saúde e uma rede escolar digna em todos os aspectos. A outra São Luís é a joia histórica, titularizada como patrimônio da Humanidade pela Unesco, um tesouro sem medida de importância, mas que está se deteriorando a olhos vistos, apesar dos indiscutíveis esforços de preservação das últimas décadas; é a reserva cultural de base única com os seus folguedos populares, o seu teatro, a sua música e a sua literatura.
Este espaço registrou que na campanha de 2020 nenhum candidato ao Palácio de la Ravardière – nem nas campanhas individuais nem nos debates – se manifestou sobre os problemas do Centro Histórico, sobre os museus da cidade, sobre os centros de cultura; enfim, nas suas falas, nenhum deles lembrou que São Luís é Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. Também nenhum deles apresentou um projeto econômico para a cidade.
Os nomes sugeridos são mais capazes do que os atuais candidatos? Negativo. Mas a importância dessa diversidade política tem o mérito de poder transformar a campanha num fórum efetivo de um amplo debate sobre a cidade, para que ela se torne muito mais do que um entreposto turístico entre o mundo e os Lençóis Maranhenses. Com a sua experiência e o know-how acumulados nos seus anos de poder, a deputada federal Roseana Sarney poderia contribuir fortemente com esse debate. O senador Weverton Rocha mostrar que estás preparado para comandar a Capital e, depois, o estado, o que não conseguiu mostrar na campanha de 2022.
Nas rodas políticas, diz-se que, por mais que seja rodeado de encantos e guarde uma boa dose de poder e de desafios, o Palácio de la Ravardière não tem o fascínio e o poder de sedução e de fogo do Palácio dos Leões. Epitácio Cafeteira e Jackson Lago perceberam a importância de São Luís e chegaram onde chegaram.
PONTO & CONTRAPONTO
CPI dos contratos suspeitos terá semana decisiva
Essa será uma semana decisiva para a CPI da Câmara Municipal que investiga denúncia de irregularidades em contratos para obras emergenciais na Prefeitura de São Luís
O principal depoente será o empresário Antônio Calisto Neto, dono da empresa Construmaster, Construção e Locação. Seu nome chegou à CPI por meio de requerimento do presidente do parlamento municipal, vereador Paulo Victor (PSB), que afirma ter ouvido de Calisto Neto denúncias sobre esses contratos e com a afirmação der que teria provas para confirmar o dito.
Depois de um vai-não-vai, ele decidiu comparecer, mas na condição de convidado, uma vez que se fosse convocado, poderia sair do Palácio Pedro Neiva de Santana como herói, ou seja, um cidadão que cumpriu o seu dever e denunciou corrupção no servido público, ou como vilão, podendo inclusive deixar a Comissão na condição de preso.
Uma das poucas fontes com trânsito no Palácio de la Ravardière garante que o prefeito Eduardo Braide (PSD) está seguro de que nada existe para afetá-lo. A mesma fonte informa que o empresário Antônio Calisto Neto aparece em 35 processos judiciais, 28 dos quais no Maranhão, o que lhe dá a marca da controvérsia.
Bancada maranhense no Senado sofrerá mudança nesta terça-feira
Um novo integrante terá assento, a partir de terça-feira (09) e durante 90 dias, na bancada maranhense no Senado: Bene Camacho, cardiologista de Imperatriz, secretário de Saúde na gestão Ildon Marques, ex-deputado federal (PTB) e segundo suplente na chapa liderada pela senadora Eliziane Gama.
Sua posse se dará porque o primeiro suplente, Pedro Fernandes, é prefeito de Arame, está muito bem avaliado, lidera com folga as pesquisas e caminha sem susto para a reeleição. Para assumir a vaga de senador por quatro meses, Pedro Fernandes teria de renunciar ao cargo de prefeito, o que não faria sentido algum.
A senadora Eliziane Gama se licencia para tratar de assuntos pessoais, mas na verdade a parlamentar vai mergulhar na campanha eleitoral para dar a suporte a aliados na corrida a prefeituras. Eliziane tem uma decisão política difícil para tomar no ano que vem, e o resultado das eleições municipais poderá ajudá-la a decidir se tenta renovar o mandato de senadora ou tenta uma cadeira na Câmara Federal.
Bene Camacho, por sua vez, vai, claro, aproveitar o poder de fogo de um senador da República com a vantagem de quem já foi deputado federal e conhece o caminho das pedras que liga o Congresso Nacional à Esplanada dos Ministérios. Seu foco é disputar de novo vaga na Câmara Federal.
São Luís, 07 de Julho de 2024.