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ao secretário Emílio Murad
A greve nos transportes coletivos de São Luís, iniciada segunda-feira, terminou ontem à noite. O encerramento foi o resultado de uma conjunção de fatores que tiveram peso no acordo fechado entre o Sindicato das Empresas de Transportes, o poderoso SET, e o Sindicato dos Rodoviários, que também é forte, mediado pela MOB, agência do Governo do Estado para o setor de transportes, perante representantes da Justiça do Trabalho. O primeiro fator foi a reação dura do prefeito Eduardo Braide (PSD), que mais uma vez se negou a conceder reajuste às tarifas e enviou à Câmara Municipal projeto de lei autorizando a Prefeitura de São Luís a pagar transporte por aplicativos (Uber, 99, entre outros) se a guerra continuasse, e também pedindo autorização da Câmara Municipal para abrir um novo processo de licitação para a contratação de novas empresas. A Câmara Municipal aprovou, por unanimidade e em regime de urgência, as duas propostas num só projeto de lei, tendo os vereadores ido em comissão ao Palácio de la Ravardière entregar a lei aprovada, autorizando o prefeito a começar a agir imediatamente em caso de continuação da greve.
A greve foi encerrada por negociação, tendo o SET e o Sindicato dos Rodoviários encerrado o dia tentando passar a impressão de que está tudo em ordem, que tudo aconteceu como sempre. A verdade, porém, é que a iniciativa do prefeito Eduardo Braide de propor o uso de recursos públicos para pagar corrida de Uber para trabalhadores sem transporte coletivo por conta de greve mudou radicalmente a relação da Prefeitura com as empresas. Primeiro porque a iniciativa ganhou o aval integral da Câmara Municipal, assim como a prerrogativa de abrir licitação para mudar as empresas que prestam serviços. O prefeito, portanto, acertou em cheio na estratégia de se contrapor à greve com medidas fortes para usar a qualquer momento, se necessário.
Com o aval da Câmara Municipal, Eduardo Braide sai do episódio paredista munido de dois instrumentos poderosos para enfrentar uma próxima paralisação, seja ela por qual motivo for. A autorização para pagar corrida em carros de aplicativo para cidadãos afetados pela falta de transporte de massa foi um disparo certeiro na arrogância dos donos de ônibus, que correm o risco de perder receita. Isso porque a principal chave dessa estratégia está no fato de que, segundo o prefeito Eduardo Braide, o dinheiro que usará em situações como essa será exatamente o que seria repassado como subsídio em situação de normalidade – cerca de 7,5 milhões ao mês. Ou seja, não faltará dinheiro, restando agora apenas a definição da forma como será feito o pagamento às corridas por aplicativo.
Nos empresários do sistema de transporte coletivo, o impacto maior foi a decisão do parlamento ludovicense de autorizar o prefeito Eduardo Braide a abrir nova licitação destinada a mudar as empresas. Isso significa dizer que as empresas que atualmente são detentoras da concessão podem ser banidas do sistema, abrindo vaga para que outras sejam contratadas, de preferência atendendo a todas as exigências do contrato, o que não é o caso das atuais associadas do SET, que alegam não ter dinheiro para melhorar suas frotas, mesmo recebendo o subsídio mensal. Mas o maior temor dos empresários é mesmo perder a concessão, o que pode acontecer, se o prefeito de São Luís partir, de fato, para uma nova licitação – a última foi feita no final do primeiro mandato do prefeito Edivaldo Jr., em 2016.
O fato é que, mesmo sem participar diretamente das negociações, que foram conduzidas pela MOB, o prefeito Eduardo Braide sai do episódio como o principal responsável com a volta dos ônibus às ruas. Isso porque não há dúvida de que a sua reação e a resposta dada pela Câmara Municipal foram, de fato, os fatores decisivos para que o sistema de transporte de massa da Capital volte hoje à “normalidade”, assegurando o deslocamento de mais de 600 mil trabalhadores e estudantes ludovicenses.
PONTO & CONTRAPONTO
Alema ganha Memorial com 10 milhões de páginas e faz homenagem a Zuleide Bogéa
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Vale comanda vários momentos da inauguração
do Memorial, incluindo a exibição de
um holograma de Manoel Bekcman
Com a inauguração, ontem, do Memorial do Legislativo Maranhense Deputada Zuleide Bogéa, o comando da Assembleia Legislativa conjugou dois aspectos importantes da memória do Poder Legislativo, hoje presidido pela deputada Iracema Vale (PSB) Isso porque, a um só tempo, criou as condições para a preservação da memória legislativa de quase dois séculos, com a conservação de 10 milhões de páginas documentais digitalizadas, acessível a qualquer cidadão, e resgatou o marco inicial da participação da mulher na vida política e parlamentar do Maranhão com a homenagem à professora Zuleide Bogéa, que fez história em 1934 como primeira mulher a conquistar mandato de deputada estadual e a compor o plenário da Assembleia Legislativa.
Foi um momento especial na programação dos 190 anos do parlamento maranhense. Primeiro por conta do acervo memorial preservado e disponível e pela homenagem à deputada Zuleide Bogéa – no ato representada pelo sobrinho-bisneto Robson Bogéa Gois Neto -, e depois pelo fato de a Assembleia Legislativa de agora ser composta por nove mulheres, sendo uma delas, a deputada Iracema Vale, presidente eleita e reeleita. Além de abrigar documentos e informações históricas da Casa legislativa, também conta a trajetória dos mais de 500 deputados que fizeram a história do Parlamento maranhense. Além de abrigar documentos e informações históricas, o Memorial também registra o perfil e a trajetória dos mais de 500 deputados que fizeram a história do Parlamento maranhense nos seus 190 anos de existência.
E foi sob forte emoção que a presidente Iracema Vale, na presença de mais de duas dezenas de deputados e muitos convidados, declarou: “Esse Memorial cumpre muito bem o papel de aproximar o povo da sua Casa, que é a Assembleia Legislativa. Ele é um instrumento de reconhecimento, uma fonte de pesquisa e inspiração para todos que desejam compreender e transformar uma sociedade. Agradeço a todos os envolvidos. Está tudo disponível de forma física e online com acesso facilitado e interativo. É um espaço aberto para pesquisadores e estudantes, curiosos, e todos que desejarem visitar”.
E foi mais longe, mais emocionada ainda, que Iracema Vale, ladeada por um grupo de deputadas, assinalou: “É uma justa homenagem a Zuleide Bogéa, a primeira mulher eleita deputada estadual. É um ato que resgata a luta histórica das mulheres por ocupação de espaço de poder. Esse momento me faz ter a sensação de dever cumprido com o povo do Maranhão. Estou muito feliz, emocionada e grata a Deus por essa oportunidade”.
A homenagem à deputada Zuleide Bogéa faz todo sentido, a começar pelo fato de ela ter sido a primeira mulher eleita – outras duas foram eleitas naquele pleito, mas tiveram seus registros cassados na guerra política – para o parlamento estadual, tendo isso acontecido exatamente um século depois da sua instalação. A criação do Memorial dando-lhe o nome é uma homenagem não apenas à deputada Zuleide Bogéa, mas à trajetória difícil das mulheres maranhenses na vida política, na qual a presidente Iracema Vale é atualmente a representante mais proeminente.
Em Tempo: a programação continua hoje, às 9hs, com o lançamento do aplicativo AlemaPlay, que permite o acesso ao acervo documental do Memorial Zuleide Bogéa. E amanhã, data do aniversário, com sessão solene comemorativa, 9h30), que será marcada com o lançamento de reedição da Constituição do Estado do Maranhão, atualizada e comentada.
Dino manda investigar destino de R$ 490 milhões em emendas “pix”; medida pode alcançar deputados maranhenses
A decisão do ministro Flávio Dino, da Corte Suprema, de mandar investigar o destino de 644 emendas “pix”, envolvendo quase meio bilhão de reais mergulhou o Congresso Nacional, em especial a Câmara Federal, num clima de polvorosa.
E em meio aos muitos deputados federais que terão de dar explicações sobre o destino do dinheiro certamente estão alguns maranhenses. Além deles, um grupo de prefeitos, para cujos municípios as emendas foram destinadas, também terão de dar explicações.
O ministro Flávio Dino determinou a investigação exatamente porque os recursos dessas emendas seguem para os seus destinos sem que fiquem registros sobre projeto, responsáveis, prestação de contas e outros itens. Ou seja, ninguém, a não ser o parlamentar e o destinatário, sabem para onde o dinheiro foi.
E é exatamente o que o ministro está cobrando: para onde foram e como foram empregados esses mais de R$ 490 milhões do dinheiro. E com uma condição simples e lógica: se tudo foi feito corretamente, com o dinheiro aplicado em benefício da população, tudo bem. Se não, os responsáveis terão que se explicar na Justiça.
São Luís, 19 de Fevereiro de 2025.