Há exatamente um ano, os maranhenses acordaram sob o impacto da maior e mais ampla mudança já causada por uma disputa eleitoral em várias décadas. O dia 5 de outubro terminara com a já prevista esmagadora vitória do candidato Flávio Dino (PCdoB), que saiu das urnas com 65% dos votos, contra Lobão Filho (PMDB), apoiado por 35% dos eleitores, num desfecho que significou bem mais do que um processo eleitoral de rotina. Naquele 6 de outubro, os maranhenses começaram a viver um ambiente de virada política radical, com a queda do Grupo Sarney e a ascensão de uma nova geração de políticos forjada na oposição sistemática ao esquema de poder liderado pelo ex-presidente José Sarney.
Passados nove meses da investidura do novo governo, o Maranhão continua com os mesmos gigantescos e desafiadores problemas, mas com a diferença de que eles estão sendo combatidos por outro viés, de maneira mais franca, mais planejada e com decisão política. A sensação é a de que o Maranhão tem hoje um governo que parece saber onde quer chegar, ainda que seja muito cedo para se formular conclusões. Alguns sinais, porém, indicam que Flávio Dino trabalha para que os resultados do seu governo o projetem no cenário nacional.
É fato indiscutível que nos 275 dias que transcorreram desde a sua posse, no dia 1º de janeiro, o governador Flávio Dino fez exatamente o que anunciara na campanha. Com a autoridade que lhe deu a condição de governador mais bem votado do país, Dino começou a governar sem muito alarde e sem impactar os maranhenses com um pacote de medidas radicais. Seu primeiro movimento foi um gesto político: demonstrou que o Maranhão está sob o controle de um governante consciente do seu papel, com propósitos muito claros, e determinado a alcançar os objetivos que anunciou durante a campanha eleitoral. Mais: manteve seu discurso contra os adversários, mas – pelo menos até aqui – não agiu de maneira abusiva nem tripudiou sobre seus inimigos políticos.
Visto por seus adversários como um mandatário arrogante, muito senhor de si, que ainda não encontrou rumo, o governador é tido pela maioria como um dirigente sério, que se movimenta com os pés no chão, levando os seus simpatizantes a vê-lo como um chefe de Estado e de governo que atua com equilíbrio, que não fez concessões fora da lei e que tem se esforçado para se livrar de estereótipos. Para alguns, Flávio Dino ainda não está ajustado ao papel de governador, mas mesmo entre os que fazem essa avaliação há quem reconheça que sua governança passa a certeza de que o Maranhão está sob um governo correto, focado e em condições de efetuar efetivamente mudanças no curso da história política e administrativa do estado.
Seus adversários políticos, liderados pela ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), não dão trégua. Diariamente disparam críticas ao governo e denúncias de distorções administrativas. Mas as investidas oposicionistas não tiram o governador nem o governo do eixo. O governador reage ora ironizando no twitter, emitindo notas de rebate e tomando atitudes de governo. O fato é que Flávio Dino não deixa nenhuma estocada ou ataque sem resposta, reagindo ele mesmo ou seu porta-voz mais ativo, o secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio Jerry, que também preside o PCdoB no Maranhão. No campo político, opera sem descanso para formar uma base política sólida, com o fortalecimento do PCdoB e de outros partidos aliados, como o PDT, por exemplo, de olho também da fragilização cada vez mais acentuada da oposição.
Os nove meses demonstraram que o projeto político do governador tem o Maranhão como base, mas vai muito além das fronteiras do estado. Mas para isso, sabe ele que não irá a lugar algum se não fizer as transformações prometidas e acabar como mais um ex-governador que virou senador. Mas a julgar por suas declarações, sua aspiração vai longe. Na entrevista que concedeu sexta-feira à RedeTV!, a entrevistadora perguntou-lhe se pretende ser presidente da República, e ele respondeu: “Não. Quero dar conta desse primeiro desafio”. Para depois…
PONTOS & CONTRAPONTOS
Doutores com justiça
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) homenageia hoje o poeta Nauro Machado e o ex-governador Jackson Lago (in memorian) com o título de Doutor Honoris Causa. Iniciativa do reitor Natalino Salgado aprovada pelo Conselho Universitário.
Nauro Machado – A láurea a Nauro Machado é mais que merecida, por ser ele um dos gigantes da poesia de língua portuguesa, cuja obra nada deixa a dever a grandes nomes da literatura universal. Tanto que chega aos 80 anos externando cada vez mais sabedoria na sua vigorosa poesia, como, por exemplo, o poema 1177, do livro “O baldio som de Deus”: Embora um outro em mim viesse com a / sua existência feita em duplos cios, /não chegarei aos oitenta de uma soma / acumulada em perdas e extravios: / escavo a cova de uma carne em coma / na escritura da noite sem pavios, / pela presença dessa que me toma, / suando ainda em seus tremores frios. / E na existência que em mim se conta, / para afrontá-la quando a carne afronta / o dentro feito o meu próprio algoz, / sobre a cova sob mim acumulada / minuto e hora de um mesmo nada, / sei desse outro a falar com a minha voz. Nada mais justo, portanto, do que o reconhecimento que a UFMA lhe faz.
Jackson Lago – O mesmo se pode dizer de Jackson Lago, que além de médico renomado e militante político engajado e movido pela coerência, dedicou muito da sua vida à UFMA com o professor do Curso de Medicina. Como médico, Lago foi pioneiro no Maranhão como especialista em cirurgia do baço, com o que contribuiu decisiva e efetivamente para mudar para melhor o tratamento de doença relacionada com aquele órgão humano. Na política, Jackson Lago foi um gigante. Militante de esquerda desde jovem, se manteve nessa seara por toda a sua trajetória política, que incluiu a fundação do PDT juntamente com Leonel Brizola e Neiva Moreira. Foi deputado estadual, prefeito de São Luís por três vezes e governador do Estado. Jackson Lago foi um exemplo de coerência, pois jamais se afastou da linha ideológica e doutrinária que abraçou. Teve seu mandato cassado sem uma mancha na sua imagem pessoal e deixou muitos seguidores, que até hoje o têm como referência. O título concedido pela UFMA contempla o médico e o político.
PTB alinhado
O presidente estadual do PTB no Maranhão, deputado federal Pedro Fernandes, corrige a coluna ao informar que o braço do partido em São Luís não participará de uma frente sarneysista, pois está inteiramente alinhado com o projeto de reeleição do prefeito Edivaldo Jr. (PDT), tendo à frente o vereador Pedro Lucas Fernandes.
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