Secretário ganha força na base governista e vice mantém projeto de chapa com governador ao Senado

Carlos Brandão reforça posição de Orleans Brandão
e Felipe Camarão mantém pré-candidatura
com governador ao Senado

Não há no meio político quem já aposte alto que o rompimento do governador Carlos Brandão (PSB) com o grupo ligado ao ministro Flávio Dino (STF) seja fato consumado e irreversível. Mas as declarações recentes do chefe do Executivo estadual informando que só decidirá sobre sucessão no ano que vem, mas também avisando, numa (in)direta disparada há pouco mais de uma semana em Cajapió, que pode lançar Orleans Brandão (MDB), secretário de Assuntos Municipalistas e seu sobrinho, à sua sucessão, sinalizaram que já pode haver um projeto sucessório em curso na base governista. E nesse cenário, que está sendo construído nos discursos enfáticos, feitos pelo governador Carlos Brandão e seus aliados, não está sendo definido o espaço a ser ocupado pelo vice-governador Felipe Camarão (PT), que por sua vez contribuiu fortemente para esse rascunho ao declarar que será candidato a governador e gostaria de ter o chefe do Executivo como candidato ao Senado.

A repercussão nos dois grupos, com discursos fortes de ambos os lados, a começar pela agressiva fala da deputada Mical Damasceno (PSD), que atacou duramente o vice-governador Felipe Camarão e pediu ao governador Carlos Brandão que permaneça no Governo e eleja seu sucessor. Essa fala desencadeou um intenso bate-rebate entre dinistas e brandonistas no plenário da Assembleia Legislativa, criando um ambiente político em que as posições defendidas pelos aliados do governador Carlos Brandão vão aos poucos se impondo, quase não deixando espaço para o contraponto. Todos os deputados alinhados ao Palácio dos Leões encerraram seus discursos afirmando que apoiarão, sem pestanejar, o candidato que ele vier a escolher para disputar a sua sucessão, deixando claramente implícito que o candidato pode ser Orleans Brandão.

Nos eventos de inauguração e anúncio de obras que vem sendo feitos na Ilha de Upaon Açu e no interior do estado, a grande estrela ungida pelo governador Carlos Brandão, pela presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB) e por vozes da base governista, é o secretário de Assuntos Municipalistas. Antes apontado como candidato a deputado federal, ele agora foi colocado de vez no campo da sucessão estadual. Presente em quase todos os eventos da agenda do governador, o secretário tem sido, via de regra, alvo de elogios de prefeitos e deputados pela sua atuação política municipalista do Governo.

Na semana passada, em Bacabal, onde esteve com o governador na inauguração dos 34 quilômetros da Estrada do Leite e outras obras e entregas, o movimento pró-secretário de Assuntos Municipalista foi mostrado com clareza. Ali, o prefeito Roberto Costa, que tem prestígio na Região do Médio Mearim, preside a Federação dos Municípios e é um dos líderes mais importantes do MDB maranhense, fez um denso discurso destacando o papel do secretário na relação do Governo com prefeitos, demonstrando que está plenamente alinhado ao governador Carlos Brandão. Na sequência, a presidente Iracema Vale (PSB) e os deputados Florêncio Neto (PSB) e Davi Brandão (PSB) bateram na mesma tecla e com a mesma ênfase. E assim tem sido na maioria dos municípios por onde o governador tem passado.

É precipitado afirmar que o martelo nesse caso esteja batido e com ponta virada. A começar pelo fato de que o vice-governador Felipe Camarão está em pré-campanha embalado por três argumentos politicamente fortes: o seu trabalho como administrador eficiente, sua ligação com o ministro Flávio Dino e o aval do presidente Lula e do PT à sua candidatura. A seu modo, ele vai mantendo o discurso em defesa da aliança com o governador Carlos Brandão, propondo uma dobradinha, num aviso claro que se chegar ao Palácio dos Leões em abril do ano que vem, buscará a reeleição.

Nesse contexto, o governador Carlos Brandão vai movendo suas peças, ciente de que o que está em jogo vai muito além do que uma disputa de candidatáveis à sua sucessão. E do jeito que as coisas estão acontecendo, o cenário para a sucessão só estará definido nos minutos finais do dia 3 de abril de 2026. E com um dado crucial: sua evolução e seu desfecho interessa diretamente ao prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD).

PONTO & CONTRAPONTO

Cúpulas partidárias colocam senadores maranhenses em situação incômoda

Weverton Rocha e Ana Paula Lobato vivem
incômodo no PDT, e Eliziane Gama, no PSD

A decisão da bancada do PDT na Câmara Federal de deixar a base governista e adotar posição independente em relação ao Governo do presidente Lula da Silva (PT), em represália à demissão do presidente do partido, Carlos Lupi, por causa do escândalo bilionário do INSS, colocou em situação delicada os senadores Weverton Rocha e Ana Paula Lobato, que integram a bancada do partido na Câmara Alta. Em outra seara, declaração do presidente do PSD, Gilberto Kassab, colocou a senadora Eliziane Gama (PSD) em situação incômoda.

O clima de tensão causado pela decisão da bancada na Câmara Federal atingiu mais fortemente o senador Weverton Rocha, que lidera o partido no Senado e tem fortes ligações com o PT e acesso ao presidente Lula da Silva. Partiu dele a posição em que os três senadores – o terceiro senador é Leila Barros, representante do Distrito Federal – permanecessem alinhados ao Palácio do Planalto, contrariando a bancada na Câmara.

O senador Weverton Rocha nada tem a ganhar se o PDT se afastar mesmo do Governo Lula da Silva, muito ao contrário. Em busca da reeleição, ele vem apostando todas as suas fichas na relação com o Palácio do Planalto para embalar a sua candidatura. Isso porque, sem esse apoio, a sua situação poderá se complicar, já que até aqui é visto como adversário pelo Palácio dos Leões. E se não contar com o aval político do PT e do presidente Lula da Silva, correrá o risco do isolamento, repetindo a situação que viveu como candidato a governador em 2022, quando, rompido com a aliança liderada por Flávio Dino, fez um pacto esdrúxulo com a direita bolsonarista, o que, em vez de ajuda-lo, o puxou para o terceiro lugar na corrida ao Governo.

Sem o peso de estar em busca de votos, a senadora Ana Paula Lobato pouco tem a perder com esse afastamento do PDT do Governo. Como seus colegas, ela fechou questão no sentido de continuar na base governista, situação em que se manterá se a relação do PDT com o Planalto não se agravar. Em caso de agravamento, tem a opção de mudar de partido.

Os próximos passos da cúpula nacional do PDT definirão os rumos dos senadores maranhenses.

Por sua vez, a senadora Eliziane Gama (PSD) passou a conviver ontem com um problema criado pelo comandante nacional do seu partido, Gilberto Kassab. Ele declarou, sem meias palavras, que o PSD poderá lançar candidato próprio à sucessão presidencial. E perguntado sobre como fica a relação com o Governo do PT, ele declarou que “o PSD não está no Governo”.

A fala-recado de Gilberto Kassab coloca a senadora Eliziane Gama em risco de saia justa, já que ela é muito alinhada ao Governo petista e ao próprio presidente Lula da Silva.

Ataques de Mical Damasceno a Felipe Camarão têm origem em veto a projeto conservador e inconstitucional

Mical Damasceno ataca Felipe Camarão
por veto a projeto inconstitucional

Vão muito além das diferenças ideológica, política, partidária, cultural e religiosa a largura e a profundidade do fosso que separa a deputada Mical Damasceno (PSD) do vice-governador Felipe Camarão (PT), a quem vem atacando frequente e agressivamente.

Aos motivos já citados se somou o veto que Felipe Camarão, na condição de governador em exercício aplicou, no dia 9 de julho de 2024, ao Projeto de Lei Ordinária nº 441, por meio do qual a deputada Mical Damasceno, sua autora, pretendeu conceder o direito de pais e responsáveis vedarem a participação de filhos em atividade pedagógica de gênero no âmbito das escolas de todo o estado do Maranhão, prevendo penas severas às instituições de ensino que descumprissem tal regra.

Com o lastro de procurador federal de carreira, professor e secretário de Estado de Educação, o governador em exercício baseou seu veto numa decisão da Suprema Corte de tornar inconstitucional lei idêntica aprovada de Alagoas, que tinha o objetivo de proibir o tratamento de gênero e educação sexual no âmbito do ensino.


“Legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional é competência da União, conforme dispõe o artigo 22, inciso XXIV, da nossa Constituição. E é nosso dever, enquanto Estado, assegurar um ensino plural, que prepare os indivíduos para a vida em sociedade, sem violação à liberdade de ensinar e de aprender. Por essas razões, aponho veto total ao Projeto de Lei, visto que não foram atendidas as disposições do artigo 22 e do artigo 206, ambos da Constituição Federal”, escreveu o governador em exercício no texto do veto.

Movida pelo seu conservadorismo radical de evangélica extremista, e apoiada por grupos bolsonaristas, a deputada Mical Damasceno reagiu violentamente ao veto. E desde então tem sido inimiga política implacável do vice-governador, que nunca respondeu a nenhum dos seus ataques. Em vez disso, tem procurado ampliar suas relações com o os segmentos evangélicos maranhenses, deixando a deputada muito incomodada.

São Luís, 10 de Maio de 2025.

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