Se perder Pedro Lucas, como anunciou Roberto Jefferson, o PTB corre o risco de definhar no Maranhão

 

Sem demonstrar preocupação com a ameaça de Roberto Jefferson, Pedro Lucas (d) esteve ontem no Palácio dos Leões, onde conversou sobre quadro político estadual e nacional como governador Flávio Dino e com o chefe da Casa Civil, Marcelo Tavares 

Se, de fato, o presidente nacional do PTB, ex-deputado federal Roberto Jefferson, confirmar a destituição do deputado federal Pedro Lucas Fernandes do comando do PTB no Maranhão, cometerá um ato de violência e de burrice política. A começar pelo fato de que o partido, que vem definhando sob sua presidência, transformando-se num agregado de segunda da base governista na Câmara Federal, perderá um deputado federal, que é, ao mesmo tempo, um parlamentar de excelência e um quadro político de ponta dentro e fora do Congresso Nacional. A estupidez contida na decisão ganha dimensão gigantesca por causa do motivo da rebordosa: o voto de Pedro Lucas Fernandes favorável à decisão do Supremo Tribunal Federal de mandar prender o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), o ogro político bolsonarista que pregou o golpismo num vídeo dedicado a ataques a ministros da Corte maior e à Constituição da República. Isso dá ao jovem político maranhense argumento suficiente para declarar que sairá honrado e com a cabeça erguida, não só da presidência, mas também do partido.

Por mais que o ex-deputado Roberto Jefferson, que foi o grande protagonista do Mensalão – apelido cunhado por ele próprio quando denunciou o então deputado federal José Dirceu (PT), ministro-chefe da Casa Civil do Governo Lula –, argumente que Pedro Lucas Fernandes contrariou a orientação partidária, vale lembrar que a causa foi nobilíssima, justificando plenamente o voto pela prisão. Quem lembra do então jovem deputado Roberto Jefferson, que como advogado preparado defendia ardorosamente as instituições e a Democracia, dificilmente acredita que ele, mesmo cassado por usar o PTB como lavanderia de dinheiro sujo, tenha se transformado num ardoroso partidário de um presidente que nutre ostensivo desprezo pelas regras democráticas. Mais do que isso: chegou ao comando do PTB com o apoio esforçado do então deputado federal Pedro Fernandes.

Vários dados deveriam servir para levar o controvertido presidente nacional do PTB a refletir melhor sobre o partido perder um quadro da estatura de Pedro Lucas Fernandes. O primeiro deles: na dura guerra travada pelos partidos para eleger o maior número de prefeitos no ano passado, o PTB do Maranhão elegeu nada menos que 14 prefeitos, deixando para trás agremiações como DEM (11), MDB (7), PSC (7), PSB (6), PSD (5), Patriota (4) e PSDB (4). Dentre esses prefeitos, Pedro Fernandes, ex-líder do PTB na Câmara Federal e que se elegeu para comandar o município de Arame. O bom desempenho do PTB nas urnas de 2020 no Maranhão, que inclui vários vices e uma boa penca de vereadores, entre os quais Silvana Noely em São Luís – se deveu em grande medida ao intenso e bem articulado trabalho partidário de Pedro Lucas Fernandes, hoje um líder político  respeitado em todo o estado.

Fundado por Getúlio Vargas nos anos 50 e extinto pela ditadura militar em 1966, o PTB renasceu nos anos 80, quando os militares se recusaram a entregá-lo para Leonel Brizola, sucessor natural de Vargas e de João Goulart, e o entregaram à então deputada federal Ivete Vargas, sobrinha-neta do ex-presidente, que mantinha laços com o regime militar. No Maranhão, o PTB foi assumido pelo médico e ex-deputado Cesário Coimbra, que se manteve no comando até sua morte, em 1993. Desde então, o PTB vem sendo comandado pela família Ribeiro, passando por Manoel Ribeiro, Pedro Fernandes e chegando a Pedro Lucas. Se for destituído da presidência do PTB no Maranhão, Pedro Lucas fatalmente deixará a agremiação. Tanto que já se especula que seu destino poderá ser o PSL, hoje dividido, mas que pode voltar a ser uma legenda de centro-direita quando a banda bolsonarista migrar para o partido – provavelmente o Patriota -, ao qual o presidente Jair Bolsonaro se filiará, segundo ele próprio, em março.

Sem os Ribeiro no seu comando no Maranhão e mantendo o alinhamento quase submisso ao presidente Jair Bolsonaro, a tendência do PTB é definhar, perdendo grande parte do que ganhou nas eleições municipais.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Sem o comando de Roberto Rocha, tucanos maranhenses deverão voltar à aliança governista

Gil Cutrim e Eliziane Gama podem se converter ao tucanato e assumir o ninho no MA

Diante dos sinais, cada vez mais fortes, de que o senador Roberto Rocha deixará o PSDB, devendo se filiar ao partido no qual vier a se abrigar o presidente Jair Bolsonaro, o ninho dos tucanos no Maranhão já começa a ser rondado. Há quem diga que a chefia do tucanato maranhense será entregue ao deputado Gil Cutrim, que há muito vem dando sinais de total falta de afinidade com o PDT. A outra possibilidade – essa levantada pelo jornalista Marco D`Eça em seu blog -, é a de que o braço do PSDB no Maranhão seja entregue à senadora Eliziane Gama, hoje no Cidadania, pelo qual se elegeu.

Uma avaliação cuidadosa certamente levará à conclusão de que o PSDB, que ainda é um partido forte no âmbito nacional, se encaixa melhor no perfil do deputado Gil Cutrim, que ideológica e programaticamente nada tem a ver com o PDT, só permanecendo no partido fundado por Jackson Lago e Neiva Moreira, que é de centro-esquerda, até encontrar um pouso partidário com que se identificar. Os tucanos certamente o receberão de bom grado, principalmente se ele levar junto o irmão, deputado estadual e vice-presidente da Assembleia Legislativa Glaubert Cutrim.

Há também quem aposte alto na entrega do PSDB do Maranhão à senadora Eliziane Gama, hoje filiada ao Cidadania. Há tempos se especula que Eliziane Gama estaria em busca de um novo partido, convencida de que precisa de um partido com mais musculatura para ajudá-la a enfrentar novos desafios, como a possível candidatura ao Governo do Estado em 2022 ou à Prefeitura de São Luís em 2024, ou ainda a reeleição para o senado em 2026. O PSDB, com a estrutura que tem no Maranhão, e ainda o caminhão de votos para serem procurados e atraídos, pode ser o partido ideal para a senadora seguir em frente com o seu projeto político. Ao mesmo tempo, é difícil imaginar a senadora Eliziane Gama se filiar a um partido que está e continuará na contramão do governador Flávio Dino.

Mas como a política costuma produzir situações inimagináveis, não será surpresa se o PSDB voltar à base do governador Flávio Dino, como já o foi quando esteve sob o comando do vice-governador Carlos Brandão, hoje no Republicanos.

 

Juscelino Filho instala hoje o Conselho de Ética para julgar Daniel Silveira

Juscelino Filho terá holofotes no julgamento de Daniel Silveira

Um ano depois de ter assumido a presidência do Conselho de Ética da Câmara Federal, o deputado federal Juscelino Filho (DEM) estreia hoje, efetivamente, no cargo, com a instalação do colegiado. E o fará sob os holofotes, por causa do agressivo delírio golpista do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), e também do fardo em que se transformou a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), acusada de mandar matar o marido. São muitos os casos de desvio de conduta de parlamentares pendentes no Conselho de Ética, mas a pressa de reinstalá-lo veio da necessidade de enquadrar logo a cria bolsonarista. Se não for trocado em meados de março, com a provável eleição de um novo presidente, Juscelino Filho viverá pelo menos dois meses sob holofotes e microfones, sonho cor de rosa de todo deputado.

São Luís, 23 de Fevereiro de 2021.

 

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