Reencontro de Lula e Sarney pode reeditar aliança PT/MDB, mas com dificuldades no Maranhão

 

Lula da Silva e José Sarney, ontem, em Brasília: amizade reafirmada. Só isso?

Ainda que tenha causado certo impacto devido às circunstâncias políticas do momento e também pelo fato de que seu visitante mais recente fora exatamente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a visita de ontem do ex-presidente Lula da Silva (PT) ao ex-presidente José Sarney (MDB) foi escrita nas estrelas mesmo antes de ser agendada. Por uma série de razões, entre elas a simpatia mútua que liga há muito os dois chefes da Nação, de vez que José Sarney é fã de Lula da Silva, e vice-versa, em que pesem as profundas diferenças políticas, ideológicas e culturais que os separam. O almoço de ontem, na residência de José Sarney, em Brasília, além do reencontro de dois amigos, proporcionou-lhes a oportunidade de fazer analisar a complicada situação social e econômica do País causada pela pandemia do novo coronavírus, o desastre administrativo e político do Governo Bolsonaro e, claro, o futuro que pode ser desenhado pelas eleições do ano que vem com a participação efetiva e decisiva do PT e do MDB. O Maranhão certamente foi tema da conversa, mas não se sabe sob que enfoque.

A aproximação pessoal e o estreitamento de relações políticas entre os ex-presidentes são de duas décadas atrás. Os dois se conhecem muito bem, de modo que na relação que travam não existem armadilhas nem jogo de faz de contas. Nesse momento, além refazer os laços como amigo, Lula da Silva quer o apoio do MDB na guerra que travará para voltar ao Palácio do Planalto, agora enfrentando o presidente Jair Bolsonaro, numa eleição que já parece polarizada. José Sarney, por seu turno, quer o MDB de volta ao poder, possibilidade viável apenas numa composição com o PT, reedição de 2002 e 2006, com Lula da Silva tendo o industrial mineiro José Alanca como vice, e de 2010 e 2014, com a eleição e a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), tendo como vice o líder emedebista Michel Temer, que acabou presidente. As mágoas em relação ao impeachment da presidente petista evaporaram ou estão cuidadosamente sufocadas.

Sem participação direta na atual gestão do MDB, comandada pelo deputado federal paulista Baleia Rossi, José Sarney detém, porém, uma visão política privilegiada e atualizada, é um dos líderes mais consultados da República, e pode influenciar, sim, na tomada de posição do MDB na corrida presidencial. Não será surpresa, portanto, se a aliança PT/MDB de 2002, que durou até 2014, for reeditada com o aval do ex-presidente José Sarney. Nada indica que essa possibilidade seja algo definido, mas nada também sugere sua inviabilidade. O fato é que, sem a aliança com o PDT, que parece estar se acomodando em torno do ex-governador Ciro Gomes, o PT precisará, mais do que nunca, de um aliado de centro, forte, com capilaridade em todo o País, perfil no qual o MDB se encaixa perfeitamente. A julgar pelo cenário do momento, não será surpresa se PT e MDB venham a reatar politicamente e compor uma aliança nacional para 2022.

Nesse contexto, o fator Maranhão pode surgir como uma dificuldade incontornável num projeto nacional unindo PT e MDB. Para começar, no estado está a base maior do PCdoB, o principal aliado do PT na esquerda, como também a sua principal referência, o governador Flávio Dino, o mais destacado apoiador da presidente Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, e do ex-presidente Lula da Silva durante a via crucis que lhe foi imposta pela banda bolsonariana da Lava Jato. Diferentemente de 2010 e 2014, o PCdoB e Flávio Dino são aliados agora preferenciais. Causará no mínimo perplexidade se em 2022 o PT não estiver na base do projeto liderado pelo governador Flávio Dino, seja com a candidatura do vice-governador Carlos Brandão (PSDB), seja com chapa encabeçada pelo senador Weverton Rocha (PDT).

O fato é que o reencontro de Lula da Silva com José Sarney, além do simbolismo expressado num encontro de ex-presidentes da República, tem peso político importante no cenário em evolução no País. E não surpreenderá se vier a produzir desdobramentos com força para sacudir intensamente as bases políticas do País. Principalmente se a forte tendência de crescimento de Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto para 2022 for consolidada.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

José Reinaldo avalia que Brandão terá força para se reeleger quando “sentar na cadeira”

José Reinaldo vê futuro no projeto de candidatura de Carlos Brandão

O ex-governador José Reinaldo Tavares (PSDB), que ocupa, sem favor, a posição de conselheiro do vice-governador Carlos Brandão (PSDB) voltou ontem a assanhar a base de apoiadores do senador Weverton Rocha. Em entrevista à TV Mirante, ele reafirmou sua aposta na candidatura de Carlos Brandão ao Governo, vendo-a como escolha natural pelo governador Flávio Dino.  E disse acreditar que, ao “sentar na cadeira” de governador, em Abril do ano que vem, Carlos Brandão terá condições de, apoiado por Flávio Dino, que será candidato ao Senado, reunir força política e partidária para se reeleger.

José Reinaldo sabe o que diz nessa seara, porque analisa um quadro que ele próprio viveu em 2002, como vice-governador. Em janeiro daquele ano, Roseana Sarney (DEM), completando o segundo mandato no auge do seu poder político e nome forte na corrida presidencial, tirava-lhe o sono dando a entender que lançaria outro nome à sua sucessão. No final daquele mês, numa longa e franca conversa com o colunista, o então vice-governador declarou, enfático: “Quando eu assumir, em Abril, quero ver quem vai me dizer que não serei candidato. Com apoio ou sem apoio, vou disputar e vou ganhar a eleição”.

Em março daquele ano, a Operação Lunus, da Polícia Federal, autorizada pelo então jovem juiz federal Carlos Madeira, destruiu a base nacional do projeto presidencial da ainda governadora do Maranhão, que logo renunciou para se candidatar ao Senado numa situação dramática. José Reinaldo assumiu em Abril, anunciou sua candidatura à reeleição sem colocar o assunto em discussão, enfrentou Jackson Lago (PDT) e Ricardo Murad (PSB) e foi reeleito no primeiro turno, numa dobradinha sem afeto com a ex-governadora, que se elegeu senadora. Quatro anos depois (2006), o governador comandou o movimento político que resultou na histórica vitória do pedetista Jackson Lago sobre a emedebista Roseana Sarney (MDB).

Em resumo: sem ser o dono da verdade e sujeito a equívocos, José Reinaldo sabe o que diz quando avalia o cenário político do Maranhão.

 

Executivo e Legislativo mantêm sintonia fina na relação institucional

Othelino Neto e Flávio Dino: sintonia fina entre os Poderes Executivo e Legislativo

Sintonia fina e relação produtiva. Foi o que ficou mais uma vez demonstrado em nova reunião institucional entre o governador Flávio Dino e o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), realizada ontem no Palácio dos Leões. O governador e o presidente avaliaram a pauta mais recente e concluíram que o parlamento estadual tem sido ativo e produtivo em relação às matérias propostas pelo Poder Executivo, assegurando benefícios para a população maranhense nos momentos mais dramáticos da pandemia.

Num balanço franco, o presidente Othelino Neto avalia que a Assembleia Legislativa tem se posicionado sem demora em relação a todas as matérias propostas pelo Palácio dos Leões. Agora mesmo, o Poder Executivo protocolou projeto de lei propondo a criação do Agente de Desenvolvimento Rural Quilombola, no âmbito do programa ‘Maranhão Quilombola’. O propósito é promover ações que garantam maior qualidade de vida a essas comunidades.

Na conversa de ontem, o governador Flávio Dino reconheceu o empenho da Assembleia Legislativa no sentido de dar resposta positiva às propostas do seu Governo, como também a ação dos deputados na destinação das emendas parlamentares.

Executivo e Legislativo têm mantido convivência harmônica e produtiva, alimentando um ambiente institucional sem qualquer traço de crise. Ao contrário do que acontece, por exemplo, no plano federal.

São Luís, 07 de Maio de 2022.

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