Sinais locais e nacionais estão indicando que o braço maranhense do PSDB será sacudido por forte agitação interna, que poderá resultar numa troca de comando ou na sedimentação da permanência do vice-governador Carlos Brandão à frente do partido. Os rumores de que o ninho provavelmente não continuará como está surgiram ainda no velório do ex-governador João Castelo e ganharam corpo nas últimas semanas, levando o presidente Carlos Brandão a avisar que não deixará a direção do ninho e que tem boa relação com o chefe maior do tucanato nacional, senador Aécio Neves. Nos bastidores, porém, correm rumores dando conta de que o comando do PSDB no Maranhão está sendo disputado por Carlos Brandão, pelo senador Roberto Rocha (PSB) e pelo deputado federal e ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB). Não foi possível identificar ainda o que é verdade e o que é mera especulação nesses rumores, mas o fato é que o meio político começa a viver certa expectativa em relação ao desfecho de uma trama política que poderá resultar na definição de candidatura ao Senado e até mesmo ao Governo do Estado.
Não é segredo para ninguém que o senador Roberto Rocha sempre teve uma queda pelo PSDB e que mantém no bolso do paletó o projeto de retomar o comando do partido no Maranhão, que já foi seu. Mesmo bem acomodado no PSB, pelo qual se elegeu, Roberto Rocha avalia que sua posição no partido não é sólida como seria se estivesse no controle do PSDB. Sabe também que para se consolidar na legenda socialista – que só controla inteiramente em São Luís -, precisa reconstruir uma relação saudável com o deputado federal José Reinaldo, que tem o controle do PSB no plano estadual. As diferenças que o separam de Tavares são, porém, tão fortes, que muitos observadores acreditam não haver possibilidade de uma reaproximação no nível de aliança política, embora concordem que em política tudo é possível.
Numa disputa entre Roberto Rocha e José Reinaldo pelo comando do PSDB no Maranhão, ninguém duvida de que o vice-governador Carlos Brandão ficará com o ex-governador, de quem é seguidor político e foi o influente chefe da Casa Civil do seu Governo. Mas se a tendência da cúpula nacional vier a ser a de entregar o partido para o senador Roberto Rocha, Brandão ficará em situação delicada e deverá jogar todo o peso do seu prestígio de vice-governador para não ficar numa posição desconfortável. Para isso, teria de contar, primeiro, com o apoio de Dona Gardênia Castelo e seus filhos, que, junto com aliados, ocupa espaço expressivo dentro do partido e certamente terá sua posição levada em conta pela direção nacional. Até onde é sabido, as relações de Carlos Brandão com a família Castelo não são as melhores, mas nada que uma conversa franca e uma boa equação política não resolva. Precisa também consolidar o apoio do ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, que tem prestígio na cúpula nacional, e se prepara agora para enfrentar as urnas, como candidato a senador ou a deputado federal.
É um erro também menosprezar o poder de fogo do vice-governador Carlos Brandão. Desde que assumiu o comando do PSDB maranhense, quando já integrava a bancada dos tucanos na Câmara Federal, ele vem driblando dificuldades e previsões negativas quanto ao seu futuro no partido e se mantendo no comando partidário. Tem feito até aqui um cuidadoso trabalho para manter o PSDB na base de apoio do governador Flávio Dino, com quem costurou um bom relacionamento. É verdade que até aqui não enfrentou ameaça tão séria como a de Roberto Rocha. Quem conhece o senador sabe que ele não ingressaria no PSDB para ser comandado por Carlos Brandão, não porque não goste dele ou coisa parecida, mas porque seu projeto só faz sentido se ele próprio tiver o controle absoluto do partido em 2018, o que não será possível com Brandão presente. Por isso é que Rocha está tentando conseguir o comando total do PSB no estado, o que não conseguiu até agora porque José Reinaldo controla o Diretório estadual. Se os dois não chegarem a um acordo que supere as feridas do passado e os una para projetos futuros, os dois projetos estarão sob ameaça, com a diferença de que no PSDB José Reinaldo certamente terá Carlos Brandão com o aliado, restando a Roberto Rocha o apoio do suplente de senador Pinto Itamaraty.
O fato é que a indefinição partidária de Roberto Rocha e José Reinaldo Tavares poderá resultar numa luta pelo controle do PSDB maranhense, e no meio desse embate, que será de vida ou morte política, estará o vice-governador Carlos Brandão, que já avisou que não deixará o comando do partido.
PONTO & CONTRAPONTO
Lobão pode ser escolhido hoje presidente da CCJ do Senado
O senador Edison Lobão pode ser escolhido hoje pela bancada do PMDB para presidir a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante do Senado da República. Edison Lobão disputa a presidência da CCJ com o senador paraibano Raimundo Lira. A decisão deveria ter sido tomada ontem, mas como não houve consenso, o líder da bancada pemedebista, senador Renan Calheiros, decidiu adiar o desfecho para hoje. Presidente de Comissão pode ser escolhido por consenso na bancada ou por votação no âmbito da bancada ou da Comissão. Via de regra, o líder da bancada esgota todos os esforços para que a escolha seja consensual, mas quando isso não é possível, é obrigado a recorrer à votação para eleger o presidente. Além dos dois senadores, a senadora paulista Marta Suplicy também pleiteava a presidência da CCJ, mas ontem, depois de perceber que não teria chance, retirou sua candidatura e foi escolhida por consenso para presidir a Comissão de Assuntos Sociais. Edison Lobão, que é considerado o nome mais forte, tem contra si o fato de ter sido citado quatro vezes nas investigações da Lava Jato. Ele garante que as denúncias não se sustentam – uma delas já foi arquivada -, por isso está pleiteando a presidência da CCJ, cuja primeira tarefa importante será sabatinar o ministro afastado da Justiça, Alexandre Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer para a vaga de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal. Edison Lobão tem dito que se não houver consenso, ele topa disputar no voto. “Creio que, numa situação como esta, a solução democrática é o voto na bancada. Quanto a mim, respeitarei a decisão, qualquer que ela seja”, disse o senador maranhense, ontem, ao final da reunião da bancada.
“Viagens” para dar destino ao VLT
Primeiro foi o candidato do PMDB a prefeito de São Luís, Fábio Câmara, que sugeriu o óbvio como quem não sabe exatamente o que está dizendo: usar a antiga estrada de ferro para dar utilidade ao VLT, que faria o percurso do Aterro do Bacanga ao Tirirical, como se tecnicamente isso fosse simples. Agora, quem surpreende é o deputado Eduardo Braide (PMN), que abraçou uma ideia do prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (PCdoB), que pretende usar o VLT para ligar São Luís à Santa Rita. Entusiasmado, Braide discursou em defesa da proposta de Gonçalo. Câmara, Gonçalo e Braide parecem não ter entendido que VLT é um veículo para curtas distâncias, com capacidade de carga limitada, e que por isso não se enquadra nas suas propostas. Além do mais, falta combinar com o seu atual dono, o prefeito Edivaldo Jr. (PDT), que parece ter outro destino para o trambolho comprado à vista, por R$ 5 milhões, na gestão do prefeito João Castelo (2009/2012).
São Luís, 07 de Fevereiro de 2017.