O Poder Legislativo como instituição não pode parar, e deve seguir em frente primando pelo princípio do equilíbrio interno e pela harmonia nas relações com o Poder Executivo e o Poder Judiciário, formando com eles o tripé que sustenta a democracia. Foi motivado por essa equação que o deputado estadual Othelino Neto (PCdoB), na faixa dos 40 anos, assumiu, formalmente, a presidência da Assembleia Legislativa, sucedendo o deputado Humberto Coutinho (PDT), que faleceu domingo (1º). Além da pesada tarefa de chefiar um Poder, Othelino Neto tem agora a obrigação de comandá-la como uma Casa política, composta por diversas correntes partidárias e onde diferenças e interesses se chocam a todo momento, alimentando o permanente embate entre Governo e Oposição. Seu maior desafio é presidir a Assembleia Legislativa depois de três anos de gestão de um líder da estatura do deputado Humberto Coutinho, que se tornou uma rara unanimidade na condução do Poder.
Jornalista e economista por formação, servidor público – é concursado do Tribunal de Contas do Estado -, e político nascido nas teias do movimento estudantil, Othelino Neto vem construindo uma carreira surpreendente, que o fez militante do PV, do qual foi um dos fundadores no Maranhão, foi secretário de Estado do Meio Ambiente no Governo José Reinaldo Tavares, foi suplente de deputado e efetivado em 2013, e deputado eleito em 2014, sendo eleito e reeleito também 1º vice-presidente da Alema. Com o agravamento do estado de saúde do presidente Humberto Coutinho, o 1º vice foi assumindo gradativamente as responsabilidades de comandar a Casa como presidente interino.
Um dos quadros mais ativos da aliança liderada pelo governador Flávio Dino, Othelino Neto vinha sendo voz frequente e posicionada no combate à oposição sarneysista no plenário da Assembleia Legislativa. Com um discurso pausado, bem articulado, e permeado de frases duras para atingir fundo os adversários, sem elevar o tom de voz nem se exceder em agressividade. O orador Othelino Neto sempre disse o necessário para incomodar os atacantes oposicionistas. Cioso do que deve ser o discurso parlamentar, sempre manteve a linha, evitando que o embate duro, mas civilizado, resvalasse para a agressão pessoal a quem quer que fosse. Nesse contexto, em que pese a seus corajosos contra-ataques às investidas da Oposição sarneysista, mantem relacionamento afável com todos os deputados. E com esse ânimo, consegue estabelecer o diálogo nas situações mais tensas, mostrando que aprendeu, à sua maneira e ao seu estilo, a separar diferenças politicas de conflitos parlamentares, como fez sempre o ex-presidente Humberto Coutinho.
Othelino Neto assume o comando do Poder Legislativo num momento especialmente delicado, pois além de suceder o experimentado gigante político Humberto Coutinho, há menos de um mês o parlamentar perdeu o pai, o renomado jornalista Othelino Filho, que era também sua referência pessoal e seu conselheiro político. Ciente dos desafios que se aproximavam com o agravamento da saúde do presidente Humberto Coutinho, o presidente em exercício vestiu a capa da coerência, calçou as sandálias da humildade e assumiu progressivamente a postura da moderação. E na entrevista coletiva que concedeu após o ato formal de investidura no cargo, o novo presidente do Poder Legislativo pediu “paciência e compreensão”. Avisou que a instituição não será submetida a mudanças traumáticas, e que os ajustes, se necessários, serão feitos progressivamente.
Politicamente, o grande desafio do presidente Othelino Neto é comandar a Mesa e cumprir a pauta, principalmente por se tratar de um ano eleitoral. Ele terá de ser o mediador dos duros embates que certamente serão travados e o principal interlocutor do governador Flávio Dino em nome da Casa, usando discernimento e habilidade para desarmar bombas e construir consensos. Tem plena consciência de que não será nada fácil, mas já tem experiência suficiente para saber que se as regras forem usadas, sua presidência pode ser bem sucedida, e sua estrada, longa e cheia de percalços. É fato que a partida de Humberto Coutinho deixou um enorme espaço para o surgimento de uma nova liderança no parlamento. A oportunidade está com o jovem deputado do PCdoB.
PONTO & CONTRAPONTO
Fábio Macedo assume a 1ª vice-presidência e Rafael Leitoa se torna deputado titular
Marcado pela discrição, devido ao fato de a instituição encontrar-se ainda sob o impacto da morte do presidente Humberto Coutinho, o ato de formalização do deputado Othelino Neto como presidente do Poder Legislativo aconteceu sem pompa, na sala da Presidência, no Palácio Manoel Beckman.
“Estamos ainda num momento de tristeza e muito pesar, com o falecimento do presidente Humberto, mas esse rito formal tinha que ser feito, mas como ele era sempre preocupado que a Assembleia continuasse seu ritmo e sua rotina, agora vamos dar prosseguimento ao belo trabalho que foi feito por ele. Não só internamente, mantendo a harmonia entre os deputados de diferentes correntes, que são marcas características de um Parlamento, mas trabalhando principalmente para ajudar a melhorar a vida dos maranhenses, porque é à população que devemos a maior satisfação”, assinalou.
O ato marcou também a efetivação de do deputado Fábio Macedo no cargo de 1º vice-presidente; Josimar de Maranhãozinho (PP) na 2ª vice e Adriano Sarney (PV) na 3ª vice, por ordem de sucessão natural, deixando em aberta a 4ª vice-presidência. Na mesma oportunidade, Rafael Leitoa (PDT) se tornou deputado efetivo na vaga de Humberto Coutinho, abrindo vaga de suplente que foi assumida por Fernando Furtado (PCdoB), porque o titular Neto Evangelista (PSDB) continua como secretário de Estado de Desenvolvimento Social.
Posse administrativa e sem convites atraiu governador em exercício e 1º vice da Câmara Federal
O que seria um mero ato administrativa, para o qual não houve convite, a formalização do deputado Othelino Neto na presidência da Assembleia Legislativa e dos ajustes na composição da Mesa Diretora e do Plenário acabou se transformando num ato político de expressão. No comando interino do Governo do Estado, Carlos Brandão (PRB) fez questão de comparecer. E aproveitou para declarar, num discurso informal não previsto, que foi “prestigiar a posse do amigo Othelino, mesmo nesse momento triste – mas a vida tem que continuar -, e desejar sucesso muito grande e contribuir para o sucesso de sua gestão”.
E mesmo em meio ao recesso parlamentar, deputados estaduais e federais se deslocaram para o Palácio Manoel Beckman para respaldar a posse do novo presidente. Além do governador em exercício Carlos Brandão, compareceram o deputado federal André Fufuca (PP) – que exerce o importante cargo de 1º vice-presidente da Câmara Federal -, o deputado federal e ex-governador José Reinaldo Tavares (sem partido mas em vias de ingressar no DEM), e os deputados estaduais Marco Aurélio (PCdoB), Roberto Costa (PMDB), Rafael Leitoa (PDT), Glaubert Cutrim (PDT), Cabo Campos (DEM), Zé Inácio (PT), Adriano Sarney (PV), Levi Pontes (PCdoB), Ricardo Rios (SD), Graça Paz (PSL), Ana do Gás (PCdoB), Josimar de Maranhãozinho (PP) e Paulo Neto (PSDC).
São Luís 04 de Janeiro de 2018.