O ato administrativo de mudança no comando da Secretaria das Cidades (Secid), com a saída de Joslene Rodrigues, mulher do deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), após nove anos no cargo – mais de dois períodos de governo -, foi açodadamente interpretado por alguns como o acirramento da crise na relação do grupo que seguia a liderança do então governador Flávio Dino (PSB). Mas o próprio Márcio Jerry colocou ponto final no caso, declarando, de alto e bom som, que Joslene Rodrigues deixou o cargo porque quis, sem qualquer pressão, e que a prova de que não houve problema foi a nomeação do jornalista Robson Paz para o cargo, por indicação do partido. “Se ela quisesse, permaneceria no cargo”, disse o presidente do braço maranhense do PCdoB, para reforçar o fato de que o governador Carlos Brandão (PSB) fez a troca atendendo a um pedido.
Certo, foi isso mesmo. Mas, independentemente da troca no comando da Secid, não há como negar a existência de um desgaste agudo e tenso na relação do governador Carlos Brandão e seus liderados com o grupo remanescente do dinismo, que perdeu referência e comando com a aposentadoria política do agora ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa convivência fadigou de tal maneira que nos bastidores já corre que a comunicação do governador com o ministro praticamente não existe.
A falta de interlocução vem permitindo a ocorrência de episódios estranhos e aparentemente sem sentido, como a desistência do vice-governador Felipe Camarão (PT) de assumir a coordenação da candidatura do deputado federal Duarte Jr. (PSB), após “consultar Brasília” depois de haver acertado os termos do seu afastamento da Secretaria de Estado da Educação. O recuo criou claro embaraço para o governador Carlos Brandão, que a partir de então tomou uma decisão: o que ficar acertado será cumprido, sem reversão “após consulta a Brasília”.
Claro está que, ao se deixar seduzir pela toga do Supremo, a ele entregue pelo presidente Lula da Silva (PT), obrigando-se a se afastar da política, na qual estava se tornando uma das mais importantes referências do País, Flávio Dino abriu, conscientemente, um enorme vazio no cenário político maranhense. E estava escrito nas estrelas que, no comando do Governo, agora sem sombra, com o aval da esmagadora maioria da Assembleia Legislativa, liderada por uma aliada fiel, a deputada Iracema Vale (PSB), e com um bom relacionamento com a bancada federal, o governador Carlos Brandão naturalmente agiria para ocupar esse espaço. E está ocupando o vazio sem trombetas e sem gestos ostensivos de hostilidade, e porque conhece como poucos quem é quem e quem é o quê no tabuleiro da política estadual.
A conclusão óbvia é que, como a política como prática é o jogo pelo poder, não há como cobrar do governador Carlos Brandão compromissos que perderam sentido quando o vazio político foi aberto no dia 20 de fevereiro de 2023, quando Flávio Dino renunciou ao mandato de senador para se tornar ministro da Suprema Corte. E o desdobramento na política local aconteceu como já era previsto: o governador não se deixou envolver por pequenas, mas expressivas, tramas – como o desgastante bloqueio temporário da nomeação do advogado Flávio Costa para o TCE, por exemplo. Mas tem deixado cada vez mais claro que, se a corda esticar para valer, ele ficará no cargo até o último dia do mandato, provavelmente dando posse a um governador a quem ajudou a eleger.
Na semana passada, ao participar de uma convenção em Icatu, o governador Carlos Brandão disse que ainda tem dois anos e meio de governo, ou seja, 30 meses. E como a desincompatibilização para disputar o Senado ocorrerá daqui a 18 meses, bloqueios antenados e políticos sedentos fizeram as contas e concluíram que Carlos Brandão estava mandando um recado de que pode ficar no cargo até o final do mandato. Em meio ao alvoroço que tomou de conta dos bastidores da política, esta Coluna perguntou ao governador se ele pensa, de fato, concluir seu mandato no cargo. Sua resposta foi esclarecedora:
– Vamos aguardar os acontecimentos.
PONTO & CONTRAPONTO
André Fufuca acompanha de Paris boas e más notícias sobre candidatos do PP
Ao mesmo tempo em que curte as Olimpíadas de Paris, comandando a representação do Brasil nos Jogos, o ministro do Esporte, André Fufuca, administra notícias não muito alvissareiras, mas também com informações importantes sobre o peso do PP nessas eleições. Exemplo de notícia nada alvissareira é Imperatriz, enquanto informação positiva vem de Santa Inês.
O caso mais preocupante é do deputado Rildo Amaral, candidato do PP à Prefeitura de Imperatriz. Ele vinha medindo força com o candidato do PSD, deputado federal Josivaldo JP, e agora dizem que terá de se preocupar também com a candidata do Republicanos, a suplente de deputada federal Mariana Carvalho, que já estaria em terceiro lugar, turbinada pela declaração de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Já o caso do prefeito Felipe dos Pneus, candidato à reeleição em Santa Inês, tranquiliza o ministro, que deve disputar a senatória em 2026. Depois de uma série de problemas, Felipe dos Pneus acertou o rumo, virou o jogo e parece ter sua reeleição assegurada.
Se Domingos Paz não for julgado hoje, a Câmara Municipal terá de arquivar a denúncia
Ficou feio para a Câmara Municipal de São Luís adiar a votação do relatório da Comissão Processante que propõe a cassação do mandato do vereador Domingos Paz (Democracia Cristã), acusado de usar o poder do mandato do dinheiro para abusar sexualmente de mulheres indefesas pelo grau de pobreza.
O fato de 11 dos 31 vereadores não terem comparecido à sessão de ontem pareceu claramente uma manobra destinada a poupar o parlamentar. Mais do que o corporativismo sem sentido, a ausência causou a impressão de que os ausentes querem poupar o colega da degola, não dando importância ao fato de que a São Luís inteira está ciente do que aconteceu e que pode acertar contas com esse grupo nas urnas, em outubro.
Domingos Paz é ciente da sua própria culpa e do estrago que suas investidas sexuais fizeram na sua carreira, que já decidiu não mais concorrer à reeleição, colocando no seu lugar sua mulher na sua vaga partidária.
Vale registrar que os 20 vereadores que compareceram à sessão foram: Paulo Victor (presidente), Fátima Araújo, Ribeiro Neto, Álvaro Pires, Jhonatan Soares, Marcial Lima, Domingos Paz, Karla Sarney, Concita Pinto, Dr. Gutemberg, Pavão Filho, Andrey Monteiro, Edson Gaguinho, Silvana Noely, Octávio Soeiro, Nato Júnior, Raimundo Penha, Marquinhos Silva e Chico Carvalho.
Já os ausentes foram Francisco Chaguinhas (vice-presidente), Antônio Garcês, Astro de Ogum, Daniel Oliveira, George da Companhia do Som, Marcos Castro, Marlon Botão, Rosana da Saúde, Thiago Freitas, Tiririca do Maranhão, Umbelino Júnior e Zeca Medeiros.
Vele conferir os números e o resultado da sessão extraordinária de hoje, uma vez que, se o pedido de cassação não for julgado, o processo irá para o arquivo morto da Casa e Domingos Paz continuará como um “honrado” vereador de São Luís.
São Luís, 09 de Agosto de 2024.