Movimentos deflagram a corrida sucessória na Famem e indicam disputa entre o presidente Cleomar Tema e o 2º secretário Erlânio Xavier

 

Cleomar Tema apontado como favorito numa disputa direta com Erlânio Xavier

Até então objeto de conversas nos bastidores e de alguns movimentos imprecisos, com ditos e desmentidos, avanços e recuos, a sucessão na Federação dos Municípios do Maranhão (Famem) foi deflagrada de vez na última quinta-feira (10), com a sinalização de que deve haver mesmo disputa entre o presidente Cleomar Tema (PSB) e o prefeito de Igarapé Grande, Erlânio Xavier (PDT). Os dois pertencem à base de apoio do governador Flávio Dino (PCdoB), que não parece aceitar de bom grado uma medição de força acirrada entre dois aliados, dando margem para que adversários joguem lenha na fogueira, dando a uma peleja eleitoral saudável a conotação de um racha na aliança governista. Esse cenário de confronto está sendo desenhado pelo fato de o presidente Cleomar Tema, que é prefeito de Tuntum, pertencer ao PSB e ter o apoio do Palácio dos Leões, enquanto seu concorrente, Erlânio Xavier, é um dos aliados de primeira hora do senador eleito Weverton Rocha (PDT), que seria principal apoiador do movimento contrário a um grande acordo para a reeleição de Cleomar Tema.

O mais importante instrumento corporativo dos prefeitos maranhenses, a Famem, quando bem articulada, tem grande peso no contexto político estadual. Primeiro porque tem instrumentos para mobilizar a grande maioria dos prefeitos em torno de questões municipalista de interesse público, como também pode funcionar como canal de articulação política com grande poder mobilização. Daí porque a tradição tem sido os governadores se movimentarem para terem aliados na presidência da entidade municipalista. O presidente Cleomar Tema, por exemplo, foi eleito em 2017 numa equação que uniu o seu largo prestígio entre seus colegas e o apoio declarado do governador Flávio Dino, que, também agora, deve ter palavra decisiva para resolver o confronto em clara gestação.

Na última quinta-feira, Cleomar Tema convocou a imprensa para fazer um balanço da sua última incursão em Brasília, onde, com o apoio do deputado federal Aluísio Mendes (Podemos), reuniu-se com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, com quem tratou de assuntos de interesse dos municípios, como o pagamento de precatórios – que nos cálculos da Famem totalizam R$ 1,4 bilhão – devidos pela União a Prefeituras por conta do Fundeb, e a viabilização do aumento para 1% no aprovação de PEC elevando para 1%da receita líquida da União o valor da transferência de Fundo de Participação dos Municípios (FPM), entre outros assuntos importantes da pauta municipalista. Quase no mesmo momento, prefeitos que articulam a chapa “Humberto Coutinho” e que se apresentaram como “liderados por Erlânio Xavier”, divulgaram nota convocando colegas para uma reunião no dia 16 de Janeiro, no Rio Poty Hotel, “com o objetivo de discutir a nossa entidade maior de representação, a Famem”.

Com a experiência e a segurança de quem exerce o quinto mandato de prefeito de Tuntum e o terceiro como presidente da Famem, Cleomar Tema fez, na quinta-feira, aos jornalistas um balanço otimista da audiência com ministro as Secretaria de Governo, responsável pela articulação com os líderes da Federação – prefeitos e governadores. O líder da Famem relatou que pediu ao ministro que o ajude a regularizar a situação da Saúde, mostrando que o Maranhão recebe R$ 155/ano por habitante, o Piauí recebe R$ 240 e o Tocantins, R$ 248. E reforçou o pleito dos municípios pelo recebimento dos precatórios devidos ela União, propondo que os municípios abrirão de 40% do valor se forem pagos agora. “Nossos pleitos tiveram boa receptividade por parte do ministro Santos Cruz. Ele disse que vai encaminhar tais reivindicações ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e já agendou um novo encontro conosco para daqui a 30 dias, quando nos dará uma resposta sobre os pedidos”, disse.

Tarimbado e conhecedor do caminho das pedras na seara municipalista, Cleomar Tema ainda não se declarou formalmente candidato à reeleição, mas os seus movimentos revelam que ele está em para alcançar e consolidar a maioria no pleito do dia 30. Nos cálculos de aliados seus, ele teria hoje o apoio consolidado de 90 dos 194 prefeitos com direito a voto,

Já seu principal concorrente, Erlânio Xavier, um político arrojado, segue embalado pelo aval do comando do PDT, é candidato assumido faz tempo, dedicando boa parte do seu tempo a ações destinadas a aumentar o número de prefeitos que o apoiam. Na avaliação de um prefeito experiente, se a eleição fosse neste final de semana, Cleomar Tema venceria, mas como a votação será no último dia do mês, pode haver uma disputa mais acirrada, sendo que o atual presidente continua como favorito. Homem de proa de um grupo que segue a linha de ação do deputado federal e senador eleito Weverton Rocha (PDT), Erlânio Xavier concorre à presidência da Famem com a estratégia de quem é parte importante de um projeto bem maior para 2020, tendo o líder pedetista na cabeça.

Com o retorno do governador Flávio Dino, o assunto Famem certamente aterrissará na mesa de trabalho do governador Flávio Dino, que muito provavelmente tentará uma solução que una as duas correntes, podendo também liberar seus aliados para uma disputa sem traumas.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Dino e Brandão têm relação exemplar num contexto de tensões entre titulares e vices

Flávio Dino e Carlos Brandão: sintonia fina entre governador e vice-governador

Num tempo em que muitos vices têm se dedicado a dar dores de cabeça para os titulares, conspirando para derrubá-los dos cargos, por armações que ganham tintura de legalidade, como fez o vice Michel Temer (MDB) com a presidente Dilma Rousseff (PT), ou apelando para a bala, como foi o caso do assassinato do prefeito de Davinópolis a mando do vice-prefeito, é confortável viver num estado onde esse problema simplesmente não existe. E o dado que confirma essa normalidade no Maranhão está numa mensagem do governador Flávio Dino no Twitter:

“Agradeço ao vice-governador Carlos Brandão a colaboração cotidiana para me auxiliar e substituir na função de governar o Maranhão. Entre várias qualidades, Brandao demonstra duas que destaco: disposição para trabalhar e lealdade”.

A mensagem de agradecimento do governador ao vice-governador foi divulgada após o primeiro retornar de 10 dias de férias, período em que o vice-governador assumiu o comando do Governo como chefe do Poder Executivo em exercício com plenos poderes. Carlos Brandão cumpriu fielmente suas funções, atuando rigorosamente no limite das suas prerrogativas. Com o retorno do governador, devolveu-lhe a bola sem um só arranhão.

Só para se ter uma ideia do quanto esse quadro mudou, vale lembrar como foram as relações dos governadores com seus vices nos últimos 40 anos: João Castelo (PDS) terminou seu Governo sem vice, uma vez que seu companheiro de chapa, Arthur Carvalho (PDS), morreu no segundo ano de mandato. Luís Rocha (PDS) rompeu com seu vice, João Rodolfo (PDS), que por ser cunhado e homem de confiança de João Castelo, foi confinado numa pequena sala de um prédio no centro de São Luís, sem ter sequer visitado o Palácio dos leões durante esse período. Epitácio Cafeteira (PMDB), manteve relações tensas com seu vice, Joao Alberto (PDS): numa viagem que fez a Taiwan, em 1988, chefiando uma missão comercial com os poderes de “embaixador plenipotenciário”, dados por decreto pelo então presidente José Sarney (PMDB), Cafeteira passou o Governo para João Alberto, que no cargo tomou ima série de medidas que desagradaram ao titular, que ao retornar desfez o que pode desfazer. Roseana Sarney (PMDB) deu algum espaço para José Reinaldo (PFL), mas acabou isolando-o. Quanto teve João Alberto como vice, Roseana Sarney manteve bom relacionamento, o mesmo acontecendo com Washington Oliveira (PT), a ponto de dar-lhe uma cadeira vitalícia no Tribunal de Contas do Estado.

O relacionamento do governador Flávio Dino com o vice- Carlos Brandão é, portanto, exemplar.

 

PSB e PCdoB ainda não definiram apoio a Rodrigo Maia

Bira do Pindaré, Márcio Jerry e Rubens Jr. ainda não definiram apoio a Rodrigo Maia

Não está inteiramente fechada a posição do PSB em relação em apoiar ou não a candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) a novo mandato de presidente da Câmara Federal. É verdade que na sexta-feira (11) o partido soltou nota anunciando que não apoiará a candidatura de Rodrigo Maia. Mas neste sábado, o PDT, seu parceiro de bloco, decidiu por maior da bancada, declarar apoio à candidatura de Rodrigo Maia. A decisão dos pedetistas colocou os socialistas numa saia justa, levando-os a desconsiderar a nota de “não apoio” a Rodrigo Maia e anunciando que fará consultas ao PCdoB sobre o assunto. Como os socialistas, os comunistas estão ainda com um pé atrás pelo fato de Rodrigo Maia está sendo apoiado pelos partidos já fechados com a base do Governo de Jair Bolsonaro, a começar pelo PSL. Socialistas e comunistas mais flexíveis não enxergam problema no fato de Rodrigo Maia ser apoiado pela base de Jair Bolsonaro. Diante das dúvidas e das restrições, o PCdoB, cuja bancada contará com os deputados Márcio Jerry e Rubens Jr. – deve se posicionar durante esta semana – o partido está dividido entre apoiar e não apoiar Rodrigo Maia -, e muito provavelmente será seguido pelo PSB, cujo representante maranhense será o deputado Bira do Pindaré.

São Luís 12 de Janeiro de 2019.

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