Movimento de prefeita mostra instabilidade no jogo partidário no Maranhão pós-Dino

Paula Azevedo e Aluízio Mendes: guinada
para a direita conservadora

A aliança costurada pela prefeita Paula Azevedo (PCdoB), de Paço do Lumiar (126 mil habitantes), o terceiro maior município da Ilha de Upaon Açu e um dos dez maiores do estado, com o deputado federal Aluísio Mendes, chefe maior do braço maranhense do Republicanos, dá bem a medida das voltas e reviravoltas que a política estadual começa a viver por causa da saída do senador licenciado Flávio Dino – ainda ministro da Justiça e futuro ministro do Supremo Tribunal Federal, da cena política do Maranhão. Observado de longe, o movimento de Paula da Pindoba – como também é conhecida, é expressivo. E quando colocado no contexto político atual do Maranhão, revela fortes sinais de instabilidade nos grupos. Paula Azevedo é do PCdoB, parece não ter mais afinidade com o seu partido e surpreende ao se aliar exatamente à direita conservadora, onde estão vozes estridentes da direita radical, como é o caso do deputado federal Aluísio Mendes, ex-vice-líder do Governo Bolsonaro na Câmara Federal.

A pergunta que fica no ar é a seguinte: onde está o PCdoB? Vale ampliar o eco e insistir: onde estão os diferentes partidos de esquerda em relação a esse caso? A indagação faz todo sentido à medida que não faz nenhum sentido negar suporte à prefeita de um dos municípios mais importantes do Maranhão, que representa um colégio de pelo menos 70 mil eleitores. A chave para a compreensão desse quadro são as montagens para as eleições municipais. Em Paço do Lumiar, a base governista resolveu apostar na candidatura do ex-vereador Fred Campos, a quem Paula Azevedo venceu nas urnas em 2020. Diante desse cenário, a prefeita passa a contar com o apoio do deputado Aluísio Mendes – uma relação que envolve apoio político mútuo, destinação de emendas e compromisso de apoio eleitoral em 2026.

Numa entrevista recente, que estremeceu as bases do Governo Lula da Silva e repercutiu fortemente no meio político, o ex-todo-poderoso cardeal petista José Dirceu, ao avaliar o cenário político nacional, declarou que o PT – e a esquerda de modo geral – voltou ao poder, mas está sem norte, e que a direita vem se mantendo organizada e criando condições de ocupar espaços, quando a lógica indicava o contrário. Guardadas as devidas proporções e excluindo alguns fatores, a situação de Paço do Lumiar se encaixa com precisão na análise do principal ideólogo petista, referência em toda a esquerda. Não se registrou uma só manifestação, por exemplo, do presidente regional do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry – um dos líderes de uma cruzada contra os movimentos da direita radical no Congresso Nacional, em relação aos movimentos da prefeita Paula Azevedo, que já foi muitas vezes por ele apontada como um bem para o partido no Maranhão.

Numa avaliação mais abrangente, poder-se-ia colocar o caso na conta do governador Carlos Brandão (PSB), mas não colaria, porque o chefe do Executivo cuida da aliança que dá sustentação ao seu Governo, não havendo razão para interferir na linha de ação dos partidos alinhados. O que se observa com clareza é a inércia do PCdoB diante do fato de que a prefeita Paula Azevedo foi à sede do Republicanos e ali confirmou a aliança, assumindo o compromisso de pedir votos para o deputado federal Aluísio Mendes. Se houver agora uma reação do “partidão”, será tardia, uma vez que a prefeita já colocou Paço do Lumiar na órbita do Republicanos, escanteando o PCdoB, pelo menos até do ano que vem. Ou, o que também faria sentido, migrando para outro partido.

Chama a atenção ainda o fato de essa ocorrência política acontecer num dos mais importantes municípios do Maranhão, situado ao lado da Capital e que deveria ser comandado por organização partidária sólida e confiável, como foi o PCdoB sob a liderança de Flávio Dino.

PONTO & CONTRAPONTO

TJ abre Ano Judiciário empossando desembargadores e juízes e defendendo o trabalho do TJ

Foto 1: entre Sebastião Madeira, Iracema Vale e
Eduardo Braide, Paulo Velten defendeu o trabalho
da Justiça. Foto 2: Márcia Chaves, Nilo Ribeiro
Filho e Oriana Gomes são os novos desembargadores

O Tribunal de Justiça abriu ontem o Ano Judiciário reforçando o seu quadro de julgadores nas duas instâncias. O Tribunal Pleno recebeu os desembargadores Oriana Gomes, Márcia Chaves e Nilo Ribeiro Filho, enquanto a Justiça de base recebeu 11 novos juízes auxiliares. Poucas vezes o ano Judiciário foi aberto levando em conta os problemas da própria Justiça. E esse viés ficou muito claro no denso discurso do presidente do Poder Judiciário, desembargador Paulo Velten, no qual ele fez uma declaração contundente sobre o desempenho da Justiça maranhense: “Não há dúvida, estamos no rumo certo! Precisamos agora aumentar a velocidade e julgar mais processos!”

Na presença da presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB), do secretário-chefe da Casa Civil Sebastião Madeira, que representou o governador Carlos Brandão (PSB), do procurador geral de Justiça, Eduardo Nicolau, e do prefeito Eduardo Braide (PSD), o presidente do Judiciário defendeu a harmonia entre os Poderes e repudiou qualquer ato destinado a quebrar essa harmonia.

O presidente Paulo Velten elogiou os três desembargadores empossados. Eles são, de fato, expressões da geração que está dando o ritmo do Poder Judiciário. Márcia Chaves e Nilo Ribeiro Filho são magistrados experimentados na ciranda das entrâncias e com vivência nos bastidores do Poder, não tendo surpreendido o fato de eles terem chegado ao topo da magistratura maranhense pelo critério de merecimento. Já Oriana Gomes, que se tornou desembargadora pelo critério de antiguidade, depois de cumprir todas as etapas da magistratura, inclusive como juíza auxiliar da Corregedoria de Justiça, é um exemplo de merecimento pleno. A isso se acrescente o status de professora do Curso de Direito da UFMA, o que reforça sua estatura como magistrada.

De origem humilde, Oriana Gomes é uma lutadora, que não se intimida diante de qualquer obstáculo. Ao longo de sua carreira, enfrentou percalços, incompreensões, preconceito, mas os “atropelou” impiedosamente com a sua coragem, com a sua noção plena de cidadania e com a sua consciência acerca do papel do magistrado. Conciliadora, atenta dos direitos e deveres, mas implacável e justa como julgadora.

Quem a conhece de longa data espera da agora desembargadora o uso do seu cada vez mais aguçado e amadurecido senso de Justiça

REGISTRO

Pontes de Aguiar, homem de poucas letras, mas uma raposa política como poucas

Pontes de Aguiar: uma das maiores raposas
políticas da história recente do Maranhão

A Assembleia Legislativa divulgou nota na qual, em nome dos seus integrantes, a presidente do Poder, deputada Iracema Vale (PSB), externou pesar pela morte do ex-deputado Antônio Pontes de Aguiar. Ele faleceu sábado (20/01), em Chapadinha, sua terra natal, aos 97 anos, a maioria deles dedicada à política, sendo 32 anos exercendo mandatos, sete como deputado estadual e um como prefeito.

Pontes de Aguiar, como ficou conhecido em todo o Maranhão político, foi, mais do que um político convencional, uma “raposa” da melhor estirpe das surgidas no Maranhão dos anos 60 do século passado para cá. Homem de pouquíssimas letras, mas dono de uma inteligência superior e de uma desenvoltura desconcertante, Pontes de Aguiar se tornou inicialmente um comerciante bem-sucedido, tornando-se, durante muito tempo, uma das referências mais destacadas do comércio de Chapadinha e região.

Sua vida sofreu uma guinada radical quando se elegeu prefeito de Chapadinha em 1966, integrando um grupo alinhado ao então governador José Sarney, a exemplo de Aluízio Lobo, em Caxias, entre outros prefeitos. Sua gestão mudou a estatura de Chapadinha e lhe deu gás político para se eleger deputado estadual por sete vezes, transformando-se numa marca e numa referência do Poder Legislativo maranhense e num dos aliados mais fiéis de José Sarney durante toda a vida.

Mesmo enfrentando dificuldades com o português, Pontes de Aguiar ganhou estatura parlamentar pelo seu faro político e pela habilidade com que enfrentava oponentes. Adversários tentavam ridicularizá-lo, mas suas “tiradas” na tribuna muitas vezes desconcertaram a turma da oposição.

No início de 1986, José Teixeira, o então todo-poderoso secretário de Fazenda do Governo Luiz Rocha, inventou se lançar pré-candidato a governador, sonhando receber o apoio de rochistas insatisfeitos com a decisão do então presidente José Sarney de lançar o então deputado federal Epitácio Cafeteira. José Teixeira tentou transformar o lançamento num grande ato. Convidou deputados estaduais, prefeitos, torcida organizada e orientou sua assessoria a contratar o maior número possível de fotógrafos, para “queimar flash” no Ginásio Costa Rodrigues.

Atendendo ao convite, Pontes de Aguiar assistiu à opereta. Virou-se para o editor da Coluna, que estava ao seu lado como repórter político de O Estado do Maranhão, e tascou: “Eu não sei por que o Teixeira está gastando dinheiro com essa besteira. Todo mundo aqui sabe que o candidato será o Cafeteira e vai ganhar a eleição”.

Semanas depois o presidente José Sarney bateu martelo e lançou Epitácio Cafeteira, que foi eleito com votação retumbante. José Teixeira arquivou o projeto de ser governador e se elegeu deputado federal constituinte.

Após algum tempo, quando a relação Sarney/Cafeteira parecia de amor eterno, em nova conversa com o jornalista Pontes de Aguiar prognosticou: “Essa amizade não vai dar certo nunca. O Cafeteira vai trair o Sarney”.

O rompimento de 1990 mostrou que ele tinha razão.

São Luís, 25 de Janeiro de 2024.

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