Moro e Dino travam embate à parte, mas o senador sabe que não é páreo para o ministro

Flávio Dino reage a fala de Sérgio Moro, dando forma ao embate que os dois travarão daqui para a frente no plano nacional

Senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) em post no twitter: “Gostaria de entender por que um dos criminosos do PCC, investigado no plano de sequestro e assassinato, utilizava como endereço de email lulalivre1063”.

Ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, senador licenciado (PSB-MA): “Essas afirmações de ligações do PT com o PCC não passam de canalhice. Não há indício, prova, nada; só canalhice mesmo. Lembro que não há imunidade parlamentar para proteger canalhice”.

O embate acima mostra duas situações bem claras e que devem pautar parte expressiva do debate político nacional nos próximos tempos. De um lado, o senador Sérgio Moro, ex-juiz federal, chefe maior da Operação Lava Jato, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do Governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Do outro, o senador licenciado Flávio Dino (PSB), ex-juiz federal, ex-deputado federal, ex-governador do Maranhão em dois mandatos e atual ministro da Justiça e Segurança Pública. Sérgio Moro ganhou notoriedade como juiz-chefe da controvertida Operação Lava Jato, que o alimenta até hoje, apesar da suspeita cada vez mais forte de que sua ação contra o então ex-presidente Lula da Silva (PT) pode ter sido uma grande armação em favor do então candidato a presidente Jair Bolsonaro em 2018. Flávio Dino, por sua vez tem posição destacada entre os políticos mais importantes da sua geração, já tendo lugar na história como o ministro da Justiça que vem combatendo às ações golpistas da extrema-direita, como o 8 de Janeiro, e que atua diante do silêncio complacente do senador Sérgio Moro.

As eleições de 2022 defiram o espaço de Sérgio Moro, que faz oposição cerrada ao presidente Lula da Silva, e o de Flávio Dino, que é a face mais expostas do Governo Lula da Silva. Havia forte expectativa por um embate direto, face to face, que eles travariam no plenário do Senado. Mas esse confronto anunciado foi adiado por conta da ida de Flávio Dino para o Ministério da Justiça. Alguns ataques e contra-ataques verbais, porém, sinalizaram claramente que eles medirão força. A descoberta, pela Polícia Federal hoje subordinada a Flávio Dino, de um plano do crime organizado para assassinar autoridades, entre elas o senador Sérgio Moro, antes de aliviar as tensões, serviu mesmo foi para acirrar os ânimos. O senador paranaense, em vez de agradecer a descoberta, preferiu engrossar o coro de suspeitas disseminadas pela base bolsonarista de que o PT estaria por trás da trama. O “bateu-levou” de cima, travado na tarde-noite de sábado, foi o mais recente.

Esse quadro de tensões é revelador de que, mesmo tendo figuras como o ministro Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), senadores, a presidente petista Gleisi Hoffman, deputados federais e governadores, tem cabido ao ministro Flávio Dino a dura tarefa de confrontar a oposição estridente. O ministro da Justiça é hoje o mais afinado com o discurso político do presidente Lula da Silva, atuando como a régua e o compasso do Governo nesse campo de enfrentamentos.

Por uma série de fatores, Sérgio Moro sabe que não é páreo para Flávio Dino. Tem boa formação jurídica, mas é cultural e politicamente limitado, além de amargar uma evidente pobreza retórica e o fato de que não foi forjado nas lutas estudantis nem nas guerras pelo voto. Tem a seu favor uma imagem de magistrado sério por uma parte da opinião pública, mas essa sofre um rápido processo de erosão que fragiliza muito a sua identidade política. Flávio Dino, ao contrário, tem trajetória consolidada, que não perde substância nem densidade. Sua atuação como ministro da Justiça, se assanha a falange e alguns chefes do bolsonarism0, é elogiada pelos mais exigentes segmentos esclarecidos da sociedade, independentemente de credo político. Ou seja, na balança dos méritos, o senador paranaense vê sua bola murchando, enquanto o ministro da Justiça vê a sua inflar a cada dia, apesar dos ataques implacáveis que sofre, diariamente, disparados por apoiadores de Sérgio Moro e partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro.

No contexto desse embate, a coerência é fator decisivo para medir a honestidade política do senador Sérgio Moro e do ministro Flávio Dino. Sérgio Moro é acusado de ter usado a condição de magistrado para tentar liquidar adversários e se tornou ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro, principal beneficiado com a prisão ilegal do presidente Lula da Silva por ele decretada. Flávio Dino, ao contrário, denunciou o direcionamento da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, manteve o discurso durante o tempo de prisão do ex-presidente e reafirmou-o durante a campanha de 2022.

Qualquer análise fria e isenta levará à conclusão de que, sem desconhecer os méritos que possa ter, Sérgio Moro não é páreo para Flávio Dino.

PONTO & CONTRAPONTO

Começa o preenchimento dos cargos federais intensamente disputados no Maranhão

Zé Carlos Araújo chega ao Incra indicado pelo PT; Clovis Paz (com a deputada Fabiana Vilar, do PL), vai comandar a Codevasf por indicação de Weverton Rocha e o aval de Josimar de Maranhãozinho

A nomeação do ex-deputado federal Zé Carlos Araújo (PT) para o comando regional do Incra, indicado por seu partido, e a do engenheiro Clóvis Paz para a direção do braço estadual da Codevasf, bancada pelo senador Weverton Rocha (PDT), marcaram o início do processo de ocupação dos cargos federais no Maranhão. Nele, as escolhas estão se dando em meio a uma guerra que envolve partidos, senadores e deputados federais, com intervenção eventual de ministros e até mesmo do governador Carlos Brandão (PSB). Além do Incra e da Codevasf, são vários os braços da administração federal no estado cujos comandos estão sendo disputados intensamente por partidos, especialmente PT, PSB, PCdoB, PP, MDB, União Brasil, Republicanos, Patriotas e, por incrível que pareça, até o PL estaria de olho numa dessas ativas fontes de poder.

Entre os órgãos federais no Maranhão, o mais disputado por correntes políticas é a representação estadual do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que movimenta milhões na construção e conservação da estrutura rodoviária federal no estado. O PCdoB, por exemplo, quer emplacar o ex-secretário de Infraestrutura Clayton Noleto, mas o PT, o PP e o PSB têm candidatos. Outros alvos graúdos são as representações do Ministério da Pesca, do Ministério da Agricultura, do Ministério do Trabalho, do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, e o comando dos Correios e da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), para citar apenas uma parte mais visível.

Algumas definições sairão antes do presidente Lula embarcar para a China.

Afastamento do pai prefeito no Piauí constrange deputada no Maranhão

Viviane Coelho e o pai, Wagner Coelho, prefeito afastado de Uruçuí, no PI

É de grande desconforto e constrangimento a situação da deputada estadual Viviane Coelho (PDT), causados pelo afastamento, sexta-feira (24), do pai dela, Wagner Coelho, do comando da Prefeitura de Uruçuí, no Piauí. Wagner é acusado de envolvimento com agiotagem na região de Balsas, principal base eleitoral de Viviane Coelho, que é mulher do prefeito de Balsas, Eric Silva (PDT). Numa operação destinada a desbaratar esquemas de corrupção, a Operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Piauí (MP-PI), identificou o desvio de mais de R$ 100 mil em recursos públicos para empresários, familiares e gestores da Prefeitura de Uruçuí. Wagner Coelho é também pai de Helano Coelho, ex-prefeito de Nova Colinas, no Maranhão, e secretário de Finanças de Uruçuí.

Uma fonte balsense ouvida pela Coluna garantiu que a deputada não tem envolvimento com o caso.

São Luís, 26 de Março de 2023.

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