Guerra pelo Governo do Maranhão será também um confronto com uso das máquinas estadual e federal

 

Flávio Dino comanda a máquina estadual e Roseana Sarney e Roberto Rocha usarão a máquina federal
Flávio Dino comanda a máquina estadual e Roseana Sarney e Roberto Rocha usarão a máquina federal na corrida ao voto

Se de um lado a corrida deste ano ao Palácio dos Leões será marcada pelo tom agressivo dos discursos, como já vem sendo evidenciado em episódios isolados, como o da inauguração do trecho duplicado da BR-135, por outro, essa disputa será também carimbada pelo peso da atuação das máquinas estadual e federal, a primeira comandada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), e a segunda manobrada no estado em favor ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), podendo também ser usada em parte pelo senador Roberto Rocha (PSDB). Os fatos recentes demonstraram com clareza que o Palácio do Planalto usará todos os recursos de que dispõe para, se possível, pulverizar o cacife do Palácio dos Leões, sabendo, porém, seus agentes que o envolvimento excessivo do Governo Federal na disputa política no Maranhão poderá dificultar a caminhada do governador Flávio Dino rumo à reeleição, mas também poderá se tornar um tiro fatal pela culatra.

O episódio da inauguração do trecho duplicado da BR-135 pode ser apontado como um marco nesse confronto. Mesmo estando com mais de três anos de atraso, já tendo engolido gastos que se aproximam de R$ 1 bilhão, e ainda bem longe de ser concluída, merecendo mais puxões de orelha do que aplausos, a obra inaugurada trouxe a São Luís, além do ministro dos Transportes, Maurício Quintella, o poderoso e influente ministro Moreira Franco, chefe da Secretaria da Presidência da República, que dificilmente sai do Palácio do Planalto para atos dessa natureza. Sua vinda, acompanhado do ministro Sarney Filho (Meio Ambiente) e dos senadores João Alberto e Edison Lobão, ambos do PMDB, ganhou das vozes do Grupo Sarney um status muito além do merecido. Na sua coluna na edição de fim de semana em O Estado do Maranhão, o ex-presidente José Sarney alimenta a estratégia de falar mal do Governo Flávio Dino e conclui jogando confetes no Governo Federal para inauguração de uma obra que está longe de ser concluída.

Demonstrando ter ciência da estratégia, o governador Flávio Dino jogou com habilidade. Fez as vezes de anfitrião no ato de inauguração, manifestou satisfação com a obra, que classificou como “bela”, agradeceu ao ministro dos Transportes e ao presidente da República. Ao mesmo tempo, mostrou que, mais do que uma ação do Governo de Brasília, a duplicação da BR-135 no trecho que liga Estiva a Bacabeira, é resultado dos esforços, das cobranças e das pressões da atual bancada federal, destacando, sobretudo, a atuação dos seus coordenadores, sendo o primeiro deles o depurado federal Pedro Fernandes, a quem chamou para se apresentar na linha de frente do palanque como um dos “pais da criança”, fazendo em seguida com outros coordenadores – deputados federais André Fufuca (PP), Juscelino Rezende (DEM) e Rubens Jr. (PCdoB), aos quais pediu aplausos. A iniciativa do governador deixou sem ação ministros e senadores, que preferiram tentar reverter a situação de mal-estar que fechou o tempo no Campo de Perizes.

O Palácio dos Leões monitora, claro, a ação dos braços da máquina federal no Maranhão, como o DNIT, que cuida das BRs; da Codevasf, que pulveriza milhões com obras de médio e pequeno porte no estado inteiro; da Funasa, a megaestrutura que realizações na área de saúde; do Incra, que administra os o patrimônio e os conflitos agrários da União; do IPHAN, que investe da preservação do patrimônio histórico; e de dos filões bilionários Mina Casa, Minha Vida e Bolsa Famílias, entre muitos programas de peso criados pelo Governo Lula, e de convênios gordos firmados com a União e Prefeituras. Podem ser milhões e milhões injetados na base e que podem facilmente se transformar em argumentos para pedir votos. No contrapeso. O Governo do Estado mantém uma política de investimentos maciços em páreas como educação e saúde, chegando aos excluídos com o programa Escola Digna, a implantação da rede de hospitais regionais de médio e grande porte, obras de infraestrutura como rodovias e pontes e investimentos na melhoria da qualidade de vida urbana, assim como uma eficiente política de segurança pública, como o aumento do efetivo da PM, por exemplo. E com o diferencial de ser um Governo com elevado grau de transparência e sem a chaga dos desvios.

A corrida ao Palácio dos Leões será, portanto, um confronto que se dará nos dois planos, sendo que no político ela será turbinada por embates ásperos nos discursos, e no plano das máquinas administrativas um jogo pesado do “quem fez mais”.

 

Em Tempo: desde a restauração da eleição para Governador do Estado, em 1982, na campanha que colocou frente a frente Luiz Rocha (PDS) e Renato Archer (MDB), que as máquinas estadual e federal são fortemente usadas. Foi assim em 1986, tendo o candidato Epitácio Cafeteira fortemente apoiado pela máquina federal então sob o comando do presidente José Sarney – naquele ano, a máquina estadual fez corpo mole, já que o então governador Luiz Rocha não queria candidatura de Epitácio Cafeteira. Em 1990, a situação se inverteu, com a máquina federal, então comandada pelo presidente Fernando Collor, apoiou fortemente a candidatura do senador João Castelo (PRN), mas perdeu, porque a máquina estadual estava sob o comando do governador João Alberto (PMDB), elegendo Edison Lobão (PMDB). Em 1094, o presidente Itamar Franco deu uma forço na campanha de Roseana Sarney (MDB) ai Governo, mas o peso maior foi o da máquina estadual, então comandada pelo governador Edison Lobão. Roseana se reelegeu em 1988 no comando do Governo contra Epitácio Cafeteira (PTB), mas a máquina federal, então comandada por FHC,. Em 2002, José Reinaldo tavares (PMDB) se elegeu no Governo contra Jackson Lago (PDT), e usou todo o peso ma máquina estadual para eleger Jackson Lago em 2016. Em 2010, Roseana concorreu no Governo, elegendo-se no 1º turno contra Jackson Lago e Flávio Dino (PCdoB), e em 2014, a máquina estadual foi usada fortemente em favor de Lobão Filho (PMDB), mas não conseguiu bater Flávio Dino.

PONTO & CONTRAPONTO

Cleide Coutinho resolve: será candidata a uma cadeira na Assembleia Legislativa

Cleide Coutinho vai assumir a liderança do grupo criado por Humberto Coutinho
Cleide Coutinho vai assumir a liderança do grupo criado por Humberto Coutinho

Tão logo retorne de São Paulo, onde foi tratar um problema na vista, a ex-deputada estadual Cleide Coutinho, mulher do recém-falecido deputado estadual Humberto Coutinho, presidente da Assembleia Legislativa, deve anunciar sua candidatura a uma vaga no parlamento maranhense. O anúncio da sua decisão de se candidatar confirmará sua ascensão ao comando do grupo político liderado por Humberto Coutinho, e tranquilizará uma série de aliados de peso – como o prefeito de Tuntum e presidente da Famem, Cleomar Tema (PSB) -, que já manifestaram interesse em apoiá-la.

Cleide Coutinho é a herdeira natural do cacife político e eleitoral – cuja consolidação deve muito ao seu trabalho firme ao lado do marido, vale dizer – e caberá a ela conduzir o grupo Coutinho no delicado processo de transição pós-morte do líder principal. Em princípio, ela teria dito que não queria ser candidata, mas depois de avaliar a situação do grupo, que mergulhou orfandade diante do enorme vazio de comando deixado pelo deputado-presidente, Cleide Coutinho decidiu entrar na corrida como herdeira politica e eleitoral do marido. Com a decisão, além de assumir incontestavelmente a liderança da família, e assumirá também o controle do grupo político, que envolve de diversos prefeitos e vereadores da região.

Cleide Coutinho é médica, foi deputada estadual e sempre foi mão firme e ativa ao lado de Humberto Coutinho. Nascida no Rio Grande do Norte, formou-se na Universidade federal da Bahia, onde conheceu o também estudante de medicina Humberto Coutinho. Foi o esteio do marido na construção de um grande grupo empresarial, que inclui hospitais, faculdades e criação de gado, entre outras atividades. Nada mais natural que assuma o comando do grupo e mantenha a influência política que ajudou a construir.

 

Ricardo Murad afirma que será candidato a governador, mas é alvo de muitas dúvidas

Ricardo Murad: projeto de candidatura sob suspeita
Ricardo Murad: projeto de candidatura sob suspeita

O ex-deputado Ricardo Murad (PRP) tem dito e repetido a interlocutores diversos e a jornalistas que sua candidatura a governador é para valer e não se enquadra na categoria de “laranja” para facilitar as coisas para a ex-governadora Roseana Sarney, candidata do PMDB. Ele afirma que quando negociou o seu ingresso no PRP o fez com a condição de disputar um mandato majoritário, tendo optado pelo Palácio dos Leões. Além disso, garante que não comunicou sua decisão à Roseana Sarney nem ao ex-presidente José Sarney, assegurando que não deu satisfações a ninguém sobre a guinada partidária e o projeto de candidatura.

Há, porém, alguns pontos a serem esclarecidos nessa operação político-partidária protagonizada pelo ex-todo poderoso secretário de Saúde do Governo Roseana Sarney. Para começar, Ricardo Murad migrou sozinho do PMDB para o PRP, não levando junto os deputados estaduais Andrea Murad, sua filha e porta-voz, que permanece no PMDB, partido pelo qual Roseana Sarney disputará o Governo, e Souza Neto, que permanece no PROS, agremiação comandada no Estado pelo ex-ministro Gastão Vieira e que já integra a aliança comandada pelo governador Flávio Dino. Já corre no meio político que Adrea Murad não deixará o PMDB, o que a obrigará a fazer campanha para Roseana Sarney, devendo pedir votos para o pai, o que certamente não será tolerado pelo presidente pemedebista, senador João Alberto. A mesma situação envolve o deputado Souza Neto: se permanecer no PROS, terá de pedir votos para Flávio Dino, e não para o sogro.

Experiente nesse jogo de entra-e-sai de partido – já esteve no PDS, PFL, PMDB, PDT, PSB -, Murad tem consciência de que a presença dos seus dois pupilos parlamentares nos partidos em que se encontra cobre de suspeita os seus movimentos, reforçando a tese – ainda não comprovada – de que, se entrar para valer na corrida governamental, o fará para alvejar o governador Flávio Dino e facilitar a vida da ex-governadora Roseana Sarney.

São Luís, 14 de Janeiro de 2018.

 

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