Gonçalves Dias tem estatura literária e dimensão histórica consolidadas em atos por seus 200 anos

Gonçalves Dias homenageado na Assembleia Legislativa e com selos comemorativos na Academia Maranhense de Letras, exibidos por Felipe Camarão, Flávio Dino e Eduardo Braide

Dois séculos após seu nascimento e 159 anos após sua morte, o caxiense Gonçalves Dias teve ontem confirmados os títulos de pai da poesia romântica brasileira e de criador da identidade nacional com a exaltação das raças que formam o caldeirão da miscigenação racial e cultural que resultou no Brasil de hoje. Esse reconhecimento vem sendo destacado em inúmeros eventos programados para lembrar a sua obra e a sua dimensão como intelectual de visão larga, que enxergou muito além do seu tempo e anteviu a tragédia, ainda em curso, que vai matando aos poucos as culturas originárias brasileiras, bem como o universo verde que os abriga, também dura e cruelmente ameaçado. São Luís celebrou os 200 anos do nascimento de Gonçalves Dias em dois eventos de proa: uma sessão especial na Assembleia Legislativa e uma sessão mais especial ainda na Academia Maranhense de Letras (AML), que também completou neste 10 de Agosto 115 anos de fundação, sendo o genial vate caxiense patrono de uma das suas cadeiras.

Nascido nos arredores de Caxias, filho de uma cafuza com um comerciante português, e alcançando a adolescência naquela cidade, foi mandado aos 15 anos para Portugal, onde estudou e se formou advogado na prestigiada Coimbra, Gonçalves Dias se agigantou, e em 21 anos de vida adulta, entre o Brasil Imperial e a Europa, tornou-se o grande poeta romântico e indianista, além de jornalista, teatrólogo, filólogo, advogado e servidor público, e foi respeitado no seu tempo como uma celebridade no mundo das letras e como um intelectual de proa e identificado com a cultura. As interpretações de Gonçalves Dias e sua obra vão desde estudos acadêmicos mais fechados e inacessíveis até as avaliações mais simples e despretensiosas.

Cada um no seu plano, os dois eventos da quinta-feira, 10 de Agosto de 2023, realizados em São Luís, cidade onde amou perdidamente e trabalhou como advogado, lembraram Gonçalves Dias com a devida distinção. A sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, iniciativa do deputado Roberto Costa (MDB) e comandada pela presidente da Casa, deputada Iracema Vale, enfocou o gênio maranhense das letras sob diversos ângulos em cinco discursos. Dois se destacaram, o do deputado Roberto Costa, que resumiu inteligentemente a sua biografia e lhe deu a estatura gigantesca de pai da poesia romântica brasileira, além das inúmeras atividades que praticou. Naquele ato, o presidente da Academia Maranhense de Letras, o desembargador e escritor Lourival Serejo discursou mostrando por que a obra poética de Gonçalves Dias permanece atualizada, invocando a tragédia dos ianomâmi como um fato previsto e alertado pelo gênio caxiense em sua obra. Além das falas, houve um artista que declamou a Canção do Exílio, o seu poema mais conhecido, e cantou o hino de Caxias. Tudo dentro do que foi proposto.

A homenagem na AML, comandada por Lourival Serejo, foi bem mais ampla e densa, com a presença dos acadêmicos, entre os quais se destacaram o ex-presidente da República e escritor consagrado José Sarney, o seu decano, e um dos mais ilustres membros da nova geração de acadêmicos, o senador e atual ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino (PSB). Presentes também o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Merval Pereira, e Antônio Carlos Secchin, poeta e crítico literário e membro da ABL, para quem A Carta de Pero Vaz Caminha é a “Certidão de Nascimento do Brasil” e o poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, é a primeira “Carteira de Identidade do Brasil”. A reunião foi aberta com a bela declamação do poema “Se se morre de amor!”, exemplar canto romântico, por uma atriz, e uma reprodução convincente do poeta pelo ator performista Uimar Júnior.

Falaram o presidente da AML, Lourival Serejo, e o presidente da ABL, Merval Pereira. O primeiro, além de ressaltar as qualidades literárias de Gonçalves Dias, o apresentou como um homem do século 19 com uma visão política e social extremamente larga, que defendia as culturas originárias, exaltava as diferentes nações indígenas e abria caminho para o atual discurso ambientalista, especialmente no que respeita à preservação das matas nativas. Já o presidente da ABL destacou o poeta e ativista Gonçalves Dias, mas preferiu enfocar o aniversário da AML, chamando a atenção para o escritor e político maranhense Clodomir Cardoso, seu avô, que foi senador da República e um dos fundadores da AML.

Nos dois eventos que lembraram o bicentenário de Gonçalves Dias, o poeta foi tratado com a dignidade devida, uma vez que o homem e sua obra ganharam estatura intelectual e dimensão histórica na medida certa.

Isso porque ficou no ar a certeza de que “Canção do Exílio”, “I-Juca-Pirama”, “Os Timbiras”, “Ainda uma vez – adeus”, “Se se morre de amor?”, “O que mais dói na vida” e tantos outros poemas geniais da sua lavra continuarão encantando por séculos e mais séculos.

PONTO & CONTRAPONTO

Sarney, Dino, Camarão e Braide: momentos de afabilidade política na festa de Gonçalves Dias

José Sarney, Flávbio Dino e Felipe Camarão:
clima descontraído sob Gonçalves Dias

A sessão da Academia Maranhense de Letras comemorativa dos 200 anos do nascimento do poeta Gonçalves Dias foi marcada por vários momentos de pura civilidade política, protagonizados pelo ex-presidente José Sarney (MDB), pelo ministro Flávio Dino (PSB), pelo vice-governador Felipe Camarão (PT) e pelo prefeito de São Luís Eduardo Braide (PSD). Por uma dessas artimanhas do destino, os quatro ficaram juntos na Mesa dos trabalhos.

Em vez de tensão, o que se viu foi a mais pura descontração. Afável como sempre, José Sarney conversou efusivamente com Flávio Dino, demonstrando publicamente que sabe separar as duas coisas, e a Felipe Camarão, que por sua vez manteve alguns dedos de prosa com Eduardo Braide – que curiosamente estava mais descontraído do que habitualmente.

Desde que chegou, José Sarney foi alvo de muitas atenções, mas devido à idade (94 anos), não abusa do ir r vir num espaço tão acidentado quanto o plenário da AML. Flávio Dino chegou como uma grande estrela, perseguido por um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas em todos os movimentos que fez. Felipe Camarão, representando o governador Carlos Brandão, mostrou toda sua jovialidade, e com gestos efusivos cumprimentou todos os acadêmicos e convidados. E Eduardo Braide chegou discreto como sempre, mas, como os outros três, foi bastante aplaudido todas as vezes que seu nome foi citado.

O fato é que Sarney e Flávio Dino mais uma veza deixaram de lado suas profundas diferenças e conversaram por bom tempo. O ministro também trocou algumas figurinhas com o prefeito de São Luís, ora com a participação de Felipe Camarão, ora de maneira mais reservada.

O que conversaram, ninguém sabe, mas certamente não firmaram acordo para a corrida à Prefeitura de São Luís, para a qual o prefeito Eduardo Braide se mantém como franco favorito.

 Operação do Gaeco cria embaraço na Câmara Municipal de São Luís  

Policiais armados com metralhadoras garantiram a operação no Palácio Pedro Neiva de Santana

A Câmara Municipal de São Luís foi estremecida ontem com a presença de agentes da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal e promotores, pertencentes ao Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Maranhão, que realizou no Palácio Pedro Neiva de Santana a Operação “Véu de Maquiavel” em busca de provas contra quatro vereadores supostamente envolvidos em desvio de verbas. O Gaeco agiu também em Palmeirândia.

Foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Vara Especial Colegiada dos Crimes Organizados.

Nessa fase da Operação, constam como investigados também, além de vereadores e funcionários públicos, outras pessoas físicas e jurídicas envolvidas no suposto desvio e apropriação de verbas de emendas parlamentares, por meio de entidades sem fins lucrativos. Foram feitas busca e apreensão nos gabinetes e residências dos vereadores Edson Gaguinho (UB), Aldir Júnior (PL), Umbelino Júnior (PSDB) e Francisco Chaguinhas (Podemos).

Tão logo os representantes do Gaeco deixaram a sede do parlamento municipal, a direção da Câmara Municipal divulgou nota com o seguinte teor:

Sobre a operação “Véu de Maquiavel”, realizada na manhã desta quinta-feira (10), pelo Ministério Público do Estado do Maranhão, a Câmara Municipal de São Luís esclarece que houve total colaboração com a equipe que esteve presente.  

Os fatos não são atuais e tem como objeto demandas parlamentares de quatro vereadores. Esta casa reforça que está contribuindo com todas as informações e acessos necessários junto ao Ministério Público. 

A Câmara Municipal de São Luís reforça seu compromisso com a transparência diante da população ludovicense e reitera que está sempre à disposição das autoridades para qualquer tipo de esclarecimento”.

Os próximos dias revelarão o que de fato aconteceu.

São Luís, 11 de Agosto de 2023.

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