Os movimentos iniciais para as eleições municipais, especialmente em São Luís, estão obrigando o MDB a se dar conta dos ajustes que precisa fazer depois de ter dado uma guinada de muitos graus no seu modus operandi com a troca de comando em que saiu a deputada federal Roseana Sarney e assumiu o empresário Marcus Brandão. Na semana que passou, o partido foi sacudido por um foco de crise interna, causado pela tensa divergência entre a direção estadual e o comando municipal em relação ao projeto de reeleição do prefeito Eduardo Braide (PSD). A direção estadual decidiu tirar André Campos da Secretaria Municipal de Articulação e Desenvolvimento Metropolitano, enquanto o presidente do diretório municipal do MDB, deputado federal Cleber Verde, reafirmou seu apoio ao prefeito mantendo Romário Barros, também indicado pelo partido, na Secretaria Municipal de Esportes. O comando estadual está inclinado a apoiar a candidatura do deputado federal Duarte Jr. (PSB).
A decisão do comando estadual e a reação do comando ludovicense permitiram que viessem à tona as profundas diferenças que existem dentro do MDB maranhense nesse novo momento. O embate é rescaldo de um partido no qual a palavra da presidente Roseana Sarney resolvia divergências em qualquer nível. Agora, o MDB tenta ser uma agremiação mais flexível, na qual os temas mais complexos sejam definidos por debate, sem a imposição do chefe maior.
No caso da sucessão em São Luís há uma complicada diferença estremecendo o partido e que dificilmente será solucionada a contento. Quando se filiou ao MDB, em maio do ano passado, e foi designado presidente do Diretório Municipal, o deputado federal Cleber Verde avisou que o partido apoiaria a candidatura do prefeito Eduardo Braide à reeleição. A declaração causou desconforto, tendo o vice-presidente estadual e uma das mais influentes vozes do partido, deputado Roberto Costa, declarado que se tratava de uma manifestação pessoal do novo emedebista e que o assunto seria discutido pelo partido em outro momento. Cleber Verde manteve o discurso de que o MDB está apoiando o projeto de reeleição do prefeito Eduardo Braide, enquanto o comando estadual, depois de vários meses de indefinição, decidiu cortar os laços com o prefeito e se posicionar favorável a apoiar a candidatura do deputado federal Duarte Jr..
O conflito se instalou dentro do partido. Numa iniciativa coerente, o comando estadual determinou que André Campos pedisse demissão da Secretaria Municipal de Articulação de Assuntos Metropolitanos. Por seu turno, o presidente do Diretório municipal, Cléber Verde, decidiu manter um indicado seu, Romário Barros, na Secretaria Municipal de Esportes, reafirmando sua disposição de manter a aliança do MDB com o PSD em São Luís. Só que, ato contínuo, o vice-presidente regional, deputado estadual Roberto Costa, mandou um recado duro a Cleber Verde: o MDB não vai apoiar a candidatura do prefeito Eduardo Braide e Romário Barros não representa o MDB no Governo Municipal, sendo, portanto, uma indicação pessoal do chefe do partido em São Luís. Formada, portanto, a “tempestade perfeita” dentro do MDB.
Cléber Verde alega ter “dificuldades” para abraçar a candidatura de Duarte Jr.. Ele diz ter conversado com o presidente Marcus Brandão e que vai continuar dialogando, ou seja, tentando convencer o partido de apoiar o prefeito Eduardo Braide. Só que tem pela frente o deputado Roberto Costa, vice-presidente e articulador do partido, que deixou bem claro, falando de alto e bom tom: quando Cléber Verde se filiou, já estava decidido que a posição do MDB em São Luís, devido ao seu peso no contexto estadual, seria o resultado de um consenso das lideranças do partido, construído pelo presidente Marcus Brandão, a deputada Roseana Sarney e o próprio Cléber Verde.
Não há dúvidas de que conversas realistas, focadas no futuro do partido, resolverão a pendência, provavelmente sem que o partido saia arranhado do episódio. Mas, a julgar pelo perfil politicamente ousado do deputado federal Cleber Verde, a solução vai demorar a ganhar forma, embora o MDB conte com a coragem e o desembaraço do deputado Roberto Costa para fazer o contraponto.
PONTO & CONTRAPONTO
Hilton Gonçalo lança nome à sua sucessão em Santa Rita e pensa no Palácio dos Leões
Um dos políticos mais bem sucedidos do Maranhão no plano municipal, o prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (PMN), já resolveu sua sucessão no que diz respeito à escolha de candidato. Sem poder concorrer à reeleição, já que é reeleito, ele lançou o médico e empresário Milton Gonçalo Jr., com o apoio de sete dos 11 vereadores.
Falta agora definir o candidato à sucessão da sua mulher, Fernanda Gonçalo, também já reeleita, na Prefeitura de Bacabeira, o que deve acontecer em pouco tempo.
Quanto ao seu futuro político, ele próprio já declarou que está trabalhando o projeto de ser candidato a governador, que, aliás, não é novo. Quando Jackson Lago anunciou sua candidatura, Hilton Gonçalo, que era filiado ao PDT, chegou a propor prévias no partido para a escolha do candidato. Não funcionou, porque o PDT fechou questão em torno do seu fundador.
Há pouco mais de um mês, ao inaugurar uma obra no interior de Santa Rita, ele deixou claro que seu projeto é suceder o governador Carlos Brandão, de quem é muito amigo, no governo do Estado.
Surpresas que a política costuma fazer
A política é dinâmica e costuma surpreender. Agora mesmo, o Maranhão está assistindo a uma dessas situações que fazem da política a “arte do possível”: vários nomes da direita radical, que abraçaram a linha de ação do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e bradaram contra a volta do ex-presidente Lula da Silva (PT) ao poder, ressuscitando jargões da Guerra Fria contra comunistas, estão sendo acomodados em cargos importantes na máquina federal.
O caso mais recente e que chamou muito a atenção é do advogado e primeiro suplente de deputado federal pelo PSD, Edilázio Jr., que responde pela presidência do partido no Maranhão. Numa articulação com a direção nacional do partido, ele saiu do mais absoluto ostracismo e desembarcou no majestoso prédio da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro, na condição de assessor especial da presidência da petroleira. Nada mal para quem exerceu um mandato federal concordando com as decisões mais controversas do Governo Bolsonaro.
Antes dele, o ex-deputado federal Gil Cutrim (Republicanos) conseguiu um cargo relevante na Codevasf, que lhe permite está, se não no centro, mas muito próximo do centro de decisões da estatal, cujo mister é gastar milhões com pequenas obras de infraestrutura nos municípios, cujo acesso é o sonho colorido de deputados federais e estaduais. Gil Cutrim foi deputado pelo PDT, mas rompeu com o partido quando começou a abraçar o governo bolsonarista, do qual se tornou partidário.
Há quem diga que isso é só o começo.
São Luís, 14 de Janeiro de 2024.