Se não aconteceram os esperados duelos de vida ou morte entre Eduardo Braide (Podemos), Duarte Júnior (Republicanos), Neto Evangelista (DEM) e Rubens Júnior (PCdoB), como muitos aguardavam, o debate entre os 10 candidatos à Prefeitura de São Luís realizado ontem pela TV Guará foi, de longe, o mais completo na abordagem sobre a cidade e seus problemas. Durante quase três horas, eles mostraram que estão preparados, assim como Bira do Pindaré (PSB), Jeisael Marx (Rede), Yglésio Moises (PROS), Franklin Douglas (PSOL), Hertz Dias (PSTU) e Sílvio Antônio (PRTB), que tiveram participações altamente positivas. Todos os candidatos mostraram que têm compreensão macro e detalhada do que é hoje cidade de São Luís, sabem das dificuldades que aterrissarão na mesa do próximo ocupante do gabinete principal do Palácio de la Ravardière e dos principais desafios a serem encarados por sua administração, notadamente nos campos da Saúde, da Educação, da Mobilidade, da Infraestrutura e das Finanças. O debate também permitiu um bom embate político, com provocações e reações que acabaram por expor com clareza os vieses partidários dos concorrentes, bem como os seus campos de atuação.
O debate foi tão equilibrado que não seria justo apontar um vencedor. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Eduardo Braide foi fustigado por todos que tiveram chance de provocá-lo, mas nenhum dos petardos o atingiu fortemente, o que lhe permitiu defender-se sem maiores esforços e aproveitar os espaços para apresentar e defender suas propostas, sem apresentar qualquer novidade além do que já apresentou durante a campanha. Na mesma linha, Duarte Júnior não deixou passar em branco nenhum segundo dos tempos que lhe foram dados, falando com habilidade, mostrando-se como um realizador e reafirmando ser possível colocar em prática propostas que seus oponentes apontam como inviáveis. E como sempre usou Procon e Viva Cidadão como referências. Reagiu no mesmo tom a todas as estocadas que lhe foram endereçadas, e que não foram poucas. Como Eduardo Braide, saiu como entrou.
Neto Evangelista foi eficientes nas suas intervenções, defendendo propostas que ele definiu como realistas e reafirmando o compromisso de “não fazer proposta mirabolantes”. Foi provocado por Duarte Júnior em relação ao mal-amado VLT comprado pelo prefeito João Castelo, mas rebateu mostrando que nada teve a ver com o caso. Manteve o discurso de gestor produtivo, lembrando as ações que comandou no Governo Flávio Dino, como a expansão do programa dos restaurantes Populares. Por sua vez, Rubens Júnior também teve desempenho positivo, com um discurso firme, associando gestão pública com posição política. Ao contrário da maioria dos outros candidatos, mostrou suas realizações como secretário das Cidades em São Luís, mas também enfatizou sua posição política e partidária como parte do grupo liderado pelo governador Flávio Dino e com o apoio do ex-presidente Lula, ainda líderes da sua base de apoio, como a senadora Eliziane Gama (Cidadania). “Eu não escondo meus aliados”, provocou.
Bira do Pindaré teve bom desempenho, se mostrou um candidato antenado com a cidade, mas focado em temas de natureza social, como mulher, raça, minorias, mas também com propostas ousadas em várias áreas, como o bilhete único para o transporte coletivo. Jeisael Marx mostrou mais uma vez uma ampla compreensão dos problemas que afetam São Luís e apresentou propostas racionais para diversos deles, e não demonstrou interesse no embate político. Yglésio Moises mais uma vez chamou a atenção pela sua inteligência espantosa inteligência e pela honestidade com que abordou todos os temas que lhe foram propostos. Dedicou parte do seu tempo a fazer contas para mostrar que outras propostas não faziam sentido e deu um “banho” no item Saúde.
Franklin Douglas se consolidou como o grande provocador dessa campanha. Não perdeu uma só oportunidade de estocar duramente os oponentes, usando argumentos diversos, todos baseados na lógica, para apontar incoerência nos seus discursos. Já Hertz Dias manteve inalterado o seu discurso de inimigo ranzinza do capitalismo, anunciando, por exemplo, que estatizará o serviço de transporte coletivo e avisando que, se eleito, quem vai dar as cartas serão os conselhos populares que criará. E finalmente Sílvio Antônio, que não deu qualquer contribuição para o debate, a começar pelo fato de que tem uma visão muito limitada dos problemas de São Luís.
Qualquer avaliação despida de engajamento político sobre o debate de ontem da TV Guará certamente confirmará a impressão, agora mais forte ainda, de que São Luís nunca teve uma safra de candidatos tão bem articulados e capacitados para comandar a máquina administrativa da Capital.
Em Tempo: vale registrar o formato e a perfeita organização do debate pela equipe da TV Guará, além da eficiente condução do jornalista Hugo Reis.
PONTO & CONTRAPONTO
Candidatos reafirmaram posições políticas e ideológicas
Se algum candidato foi para o debate da TV Guará com o objetivo de partidarizar ou ideologizar a disputa para a Prefeitura de São Luís, este certamente não foi bem-sucedido. Mesmo assim, o debate teve momentos políticos interessantes, que vale a pena registrá-los.
Primeiro, sem muito esforço, alguns candidatos tentaram colar a pecha de bolsonarista em Eduardo Braide, Duarte Júnior e Neto Evangelista, por causa dos seus partidos – Podemos, Republicanos e DEM. Não colou, tanto que não foi preciso que eles fizessem muito esforço para rebater o petardo.
Rubens Júnior, Franklin Douglas e Hertz Dias manifestaram-se orgulhosos dos seus partidos e aliados. O primeiro destacou o peso do seu partido e dos seus aliados, como o PT e o Cidadania, e festejou, como vem fazendo, a condição de candidato do governador Flávio Dino e do ex-presidente Lula (PT), fazendo declarações enfáticas nesse sentido. O segundo também exaltou seu partido e reafirmou com orgulho a aliança que o PSOL tem com o PCB e a UD, que para ele forma “a verdadeira esquerda” no Maranhão. E o terceiro exaltou seu partido e recitou postulados clássicos e já superados postulados de uma esquerda que na realidade não existe mais.
Bira do Pindaré acusou o golpe sobre sua posição difícil nas pesquisas mais recentes. Sua reação nesse sentido foi menosprezar os levantamentos, insinuar que eles não são sérios e dizer ao eleitor que “pesquisa não ganha eleição”, para acrescentar: “Quem decide eleição é o seu voto”.
E a manifestação ideológica e partidária mais enfática partiu do candidato Sílvio Antônio, que se declarou “de direita, conservador e defensor da família”, e fez um discurso forte defendendo o presidente Jair Bolsonaro, mas não citou o maior nome do seu PRTB, o vice-presidente Hamilton Mourão.
Imperatriz: Marco Aurélio lidera com Assis Ramos e Ildon Marques empatados em segundo
Pesquisa Econométrica jogou finalmente luzes sobre a corrida para a Prefeitura de Imperatriz, que passou quase duas semanas na base do disse-me-disse alimentado pelos 11 candidatos a prefeito e seus porta-vozes e apoiadores. Ali, segundo a pesquisa, a disputa está se dando entre quatro candidatos politicamente fortes. O deputado Marco Aurélio (PCdoB) lidera com 27,8% das intenções de voto, seguido do prefeito Assis Ramos (DEM) com 21% e dos ex-prefeitos Ildon Marques (PP) com 20,2% e Sebastião Madeira com 12,1%. A vantagem de Marco Aurélio encontrada pela Econométrica é sólida, mesmo que tecnicamente ela esteja dentro da margem de erro.
A julgar pelos números levantados pela Econométrica, entre os demais sete candidatos, a candidata do PSC, Mariana Carvalho, a única mulher entre os postulantes, se destaca como a grande novidade da disputa, ainda que suas chances sejam mínimas. Ela aparece com 5,1%, à frente de Daniel Fiim (Podemos) com 3,6%, Pastor Daniel Vieira (PRTB) com 1,3%, Aluízio Melo (PSOL), Manoel Garimpeiro (PMB) e Sandro Ricardo (PCB) os três com 1%.
A distribuição das intenções de voto produziu um detalhe decisivo: apenas 3,8% eleitores com intenção de votar nulo, e somente 4,4% indecisos. Isso significa dizer que o eleitorado de Imperatriz. E como o levantamento foi realizado entre os dias 27 e 29 de Outubro, data da visita do presidente Jair Bolsonaro à cidade, os números sinalizam que o “Fator Bolsonaro” não influenciou o resultado.
Esse cenário inclui a candidatura do ex-prefeito Ildon Marques, que de acordo com a Justiça, não poderia se candidatar. Ele recorreu de decisão nesse sentido, mas até agora não se tem notícia da resposta da Justiça ao seu recurso. O fato de ter recorrido lhe assegura permanência na disputa. Se o recurso for acatado, ele poderá ser votado, mas se for negado, ele terá de sair da corrida. E aí ninguém sabe para onde seus eleitores migrarão.
Em Tempo: A pesquisa Econométrica ouviu 605 eleitores entre os dias 27 e 29 de Outubro, tem intervalo de confiança de 95%, margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou para menos e está registrada na Justiça Eleitoral sob o número MA-01182/2020.
São Luís, 06 de Novembro de 2020.