Assassinato político mostra a indiferença da maioria da bancada federal às ações que ameaçam a democracia  

 

Flávio Dino tem mantido o discurso crítico contra movimentos antidemocráticos de Jair Bolsonaro

O assassinato a tiros de um militante do PT em Foz do Iguaçu por um bolsonarista, com todos os indícios de que foi motivado por intolerância política, chocou o País e parece ter acordado grande parte da classe política para o clima de tensão que começa a ganhar corpo na fase inicial da corrida às urnas. Todas as evidências apontam o projeto de poder do presidente Jair Bolsonaro (PL) como a fonte das ações que desenham o ambiente instável e tenso em que se dará a campanha eleitoral. O presidente criou e tenta alimentar o factóide contra as urnas eletrônicas, incentiva seus partidários a manterem o discurso político do ódio e prega indiretamente a violência quando estimula partidários a se armarem. Até ontem o posicionamento crítico em relação a essa realidade estava restrito a poucas vozes, sendo a principal, delas a do ex-governador Flávio Dino (PSB), que mantém inalterado o seu discurso de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. A brutalidade política que resultou no assassinato do militante petista levou o governador Carlos Brandão (PSB), o senador Weverton Rocha (PDT), a senadora Eliziane Gama (Cidadania), e vários deputados federais a se manifestarem nas redes sociais condenando a estupidez política que ameaça a normalidade do processo eleitoral e a própria democracia.

As reações de líderes maranhenses ao caso de Foz do Iguaçu foram positivas e oportunas, isso não se questiona. Ao mesmo tempo, é óbvio, são posicionamentos relativamente tardios em relação ao cenário nacional de tensão e instabilidade, cujo rascunho foi iniciado no momento em que o presidente Jair Bolsonaro começou sua catilinária contra as urnas eletrônicas e iniciou o incentivo à formação de milícias armadas. Tal situação foi evidenciada no discurso do presidente na célebre reunião ministerial de 2020, na qual ele defendeu claramente os pilares de uma guerra civil no País e ganhou forma no ensaio de golpe de 7 de Setembro de 2021 e agora ameaça desestabilizar o processo eleitoral.

No Senado, apenas a senadora Eliziane Gama tomou posição clara em relação a esses problemas. O senador Weverton Rocha registrou sua indignação com o episódio, mas passou seus primeiros três anos e meio na Câmara Alta mergulhado numa surpreendente indiferença em relação à política armamentista do presidente da República, como também não se posicionou de maneira consistente em relação aos questionamentos ao sistema de votação do País, mantendo uma “neutralidade” inexplicável diante das manifestações golpistas do presidente Jair Bolsonaro e seu entorno. O mesmo acontece com o senador Roberto Rocha (PTB), com o diferencial de ser ele partidário do presidente da República, o que o torna indiferente à agressiva política armamentista, às “boiadas” para tornar a Amazônia terra de ninguém, além, é claro, do uso das Forças Armadas para respaldar o seu perigoso nhenhenhém contra as urnas eletrônicas. O seu silêncio o coloca no banco comum dos que consentem se calando.

Com exceção dos deputados Bira do Pindaré (PSB), Márcio Jerry (PCdoB), Rubens Jr. (PT), Zé Carlos Araújo (PT), quase nenhum outro parlamentar externou, em discurso ou entrevista, alguma preocupação com relação aos impulsos autoritários do presidente Jair Bolsonaro, a começar pelo fato de que grande parte da bancada é vinculada ao Centrão. Os deputados Josimar de Maranhãozinho (PL), Júnior Lourenço (PL), Pastor Gildenemyr (PL), Marreca Filho (Patriotas), Juscelino Filho (União Brasil), Josivaldo JP (PSC), André Fufuca (PP), Gil Cutrim (Republicanos) e Cléber Verde (Republicanos), todos alinhados ao senador Weverton Rocha, parecem concordar com os projetos e as iniciativas do presidente Jair Bolsonaro para desestabilizar a democracia, usando para isso o anacrônico e surrado “temor” de que o Brasil se torne “um país comunista”.

De maneira igualmente enfática, mas fora da esfera de influência do senador pedetista, os deputados Aluísio Mendes (PSC) e Edilázio Jr. (PSD) apoiam as ações e o discurso do presidente da República, atuando como aliados fiéis, também usando o anticomunismo como argumento. Já os pré-candidatos a governador Lahesio Bonfim (PSC) e Edivaldo Holanda Jr. (PSD), ao contrário dos seus chefes partidários, mantêm silêncio sepulcral sobre o assunto, como se vivessem em outro país e nada tivessem a ver com o risco a que está submetida a democracia brasileira. Na mesma linha de indiferença estão situados os deputados Hildo Rocha (MDB), João Marcelo (MDB) e Pedro Lucas Fernandes (União Brasil).

O fato é que a crise está rascunhada e começa a ser desenhada, criando no País um clima de incerteza. Esse ambiente poderia ser menos tóxico se as vozes que representam os maranhenses no Congresso Nacional se levantassem contra a ameaça em curso.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Ida de Bolsonaro a Imperatriz reforça Weverton e Roberto Rocha

Pastor Cavalcante anunciou a ida de Jair Bolsonaro a Imperatriz nesta quarta

Se confirmada a informação do deputado estadual Pastor Cavalcante (PSD), o presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcará nesta quarta-feira (13) em Imperatriz, para participar da 35ª Assembleia Geral Ordinária da Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus. Trata-se, óbvio, de um evento de natureza religiosa, mas ganhará uma conotação fortemente política ao receber o chefe da Nação que está em pré-campanha aberta em busca da reeleição. O presidente Jair Bolsonaro já teve o apoio da grande maioria dos eleitores evangélicos, mas essa vantagem vem diminuindo fortemente com a mudança de correntes na direção da pré-candidatura do ex-presidente Lula da Silva. Imperatriz é um bastião bolsonarista, que lhe deu maioria de votos em 2018. Mas é também espaço de uma população politicamente mesclada, onde o líder petista também conta com apoiadores determinados. Ao atender ao convite dos líderes da Assembleia de Deus, deslocando-se para a Princesa do Tocantins, o presidente Jair Bolsonaro mostra que está correndo sério risco de ser mandado para casa e por isso tenta reforçar sua posição com aliados. Ao mesmo tempo, essa visita à Região Tocantina reforça a posição do senador Weverton Rocha (PDT) no município, onde ele já é bem situado, e a do senador Roberto Rocha (PTB), que é a expressão maior do bolsonarismo naquela região. O evento, se acontecer mesmo, certamente levará o governador Carlos Brandão a fazer um contraponto, levando Lula da Silva à região.

 

Imagens coladas mostram as diferenças da disputa em curso no Maranhão

Felipe Camarão e Hélio Soares: imagens acabadas das forças em disputa no MA

A fotomontagem, que circula desde ontem nas redes sociais, mostra com nitidez as diferenças que separam ex-secretário de Educação Felipe Camarão (PT), pré-candidato a vice-governador na chapa do governador Carlos Brandão (PSB), do deputado estadual Hélio Soares (PL), pré-candidato a vice-governador na chapa do senador Weverton Rocha (PDT).

Felipe Camarão veste camisa vermelha com a estampa de Lula da Silva como símbolo maior do PT, e de longe o maior e mais importante nome de um espectro que vai do centro à chamada esquerda democrática, que tem força de gigante no Maranhão, onde se elegeu presidente duas vezes com esmagadora maioria de votos. Jovem e de reconhecida competência como gestor público, é a imagem acabada da renovação que está em curso na política maranhense.

Hélio Soares, um político já maduro, com a carreira marcada por altos e baixos, aparece um pouco mais comedido, mas visivelmente empolgado ao estampar a esfinge do presidente Jair Bolsonaro (PL), esforçando-se na tentativa de virar o jogo no estado, ou pelo menos reduzir a diferença que está sendo pronunciada nas pesquisas. Homem de confiança de Josimar de Maranhãozinho, Hélio Soares é a imagem das forças conservadoras que farão a dobradinha Weverton/Bolsonaro no Maranhão.

São Luís, 12 de Julho de 2022.

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