Movimentos intensos nos bastidores do Palácio Clóvis Bevilacqua, marcados por um clima de confronto entre dois grupos, indicam que a eleição do novo presidente do Tribunal de Justiça (TJ), a ser realizada na quarta-feira (18), poderá ser fruto de uma disputa dura, voto a voto, e com desfecho imprevisível. De um lado, o grupo da Situação, comandado pelo desembargador-presidente José Joaquim Figueiredo dos Anjos, apoia a candidatura do desembargador Lourival Serejo, atual vice-presidente; do outro, o grupo oposicionista dá sustentação à candidatura da desembargadora Nelma Sarney. A disputa pelo comando da Corregedoria Geral da Justiça será igualmente dura, tendo de um lado a desembargadora Maria das Graças Mendes; e do outro o desembargador Paulo Velten, apoiado pela Oposição. Fonte bem situada no Poder Judiciário calcula que cada candidato a presidente tem, seguros, 12 votos, e que as articulações a serem feitas até quarta-feira darão maioria apertada ao vencedor. Não haverá disputa pela vice-presidência, já que a candidatura do desembargador José Bernardo Rodrigues é fruto de um grande acordo, devendo ser ele eleito por larga maioria de votos ou até mesmo por aclamação.
Há muito o Poder Judiciário do Maranhão não era afetado por uma guerra entre grupos tão intensa como agora. O primeiro sintoma veio há dois meses, quando o atual desembargador-presidente José Joaquim Figueiredo dos Anjos se candidatou para vaga do TJ no Tribunal Regional Eleitoral e teve sua eleição ameaçada pela desembargadora Ângela Salazar, lançada candidata à última pela a Oposição. A disputa para o TRE escancarou a divisão e demonstrou que o poder de fogo do presidente estava reduzido. A eleição de quarta-feira caminha na mesma direção, alimentando a quebra da tradição de que, mesmo podendo haver três concorrentes – os mais antigos – as eleições para presidente do TJ/MA têm sido feitas por acordo e muitas vezes por consenso.
O desembargador Lourival Serejo, por sua vez, é o candidato apoiado pelo presidente Joaquim Figueiredo. Sua candidatura, porém, precisa ser confirmada com a renúncia do desembargador Marcelo Carvalho ao direito de ser candidato por ter mais tempo de Casa. Atual corregedor, Marcelo Carvalho já declarou inúmeras vezes que não quer ser candidato a presidente, mas para que Lourival Serejo seja candidato, ele tem de formalizar sua renúncia até a manhã de quarta-feira, pois caso contrário, Lourival Serejo não poderá ser candidato. A expectativa no TJ é a de que Marcelo Carvalho formalize a renúncia nesta segunda-feira ou, no máximo, na terça-feira, de modo a garantir a candidatura de Lourival Serejo, que está em campanha e é tido como favorito nos bastidores da Corte. Ele venceu a eleição na AMMA com 121 votos.
Com trajetória complicada por conta de laços de família – é casada com Ronald Sarney, irmão do ex-presidente José Sarney -, a desembargadora Nelma Sarney afirma nos bastidores que chegou a sua vez e que não abre mão da sua candidatura, um direito garantido por ser ela, de fato, o nome da vez no rodízio que garante a prerrogativa de candidatura aos três mais antigos. Até algum tempo atrás, Nelma Sarney tinha apoio irrisório, principalmente pelo fato de que os presidentes tinham força. Atualmente, há um vazio de liderança no TJ, situação que vem ficando cada dia mais evidente, permitindo um racha crescente no colégio de desembargadores. A candidatura de Nelma Sarney é fruto desse contexto. Numa eleição simulada na Associação dos Magistrados do Maranhão (AMMA), realizada na semana passada, a desembargadora recebeu 43 votos.
A disputa pelo cargo de corregedor geral da Justiça entre os desembargadores Graça Melo e Paulo Velten reflete também o clima de divisão e, em certa medida, de animosidade que atualmente permeia o colégio de desembargadores. Graça Melo deveria ser eleita por aclamação, como foram os últimos ocupantes do cargo, entre eles o atual, Marcelo Carvalho. Mas a entrada de Paulo Velten na disputa mudou radicalmente esse cenário, tornando o desfecho imprevisível. Ninguém arrisca um prognóstico para essa eleição, pelo fato de os dois candidatos estarem decididos a alcançar o cargo e empenhados em busca de votos.
Entre os desembargadores, a expectativa é a de que o desfecho dessa eleição criará as condições para que a Corte volte a viver tempos menos tensos.
PONTO & CONTRAPONTO
Rubens Júnior afasta a timidez e se mostra disposto e entrar na briga por São Luís
O deputado federal licenciado e atual secretário das Cidades e Desenvolvimento Urbano Rubens Júnior caminha para se credenciar efetivamente como o nome que o PCdoB vai lançar para disputar a Prefeitura de São Luís. A evidência indiscutível dessa guinada é um vídeo em que o parlamentar quebra a timidez e se mostra à vontade e dizendo o que pensa sobre, principalmente, ser político. O mote do discurso é “fazer bem feito”, deixando no ar, com clareza solar, a base de uma campanha que começa a ser desenhada, mostrando também um político jovem, determinado, descontraído e se apresentando como alguém que sabe o que e como deve ser feito. Rubens Júnior se movimenta agora apagando a imagem de pré-candidato reservado, que pouco se mostrava. No vídeo, ele se revela em diversos aspectos: o político precoce e atuante que deu certo na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, e o secretário que está preparado para ser prefeito e cidadão normal, de hábitos simples, sem qualquer traço de ostentação. E pelo ânimo que vem demonstrando, parece determinado a ser o candidato do PCdoB, inclusive expondo rara honestidade ideológica, quando se declara um “político de esquerda”, “comunista”, “um vermelho”. E com um dado mais autêntico ainda: a lealdade política ao timoneiro Flávio Dino (PCdoB), a quem se ligou desde os primeiros movimentos na seara político. Rubens Júnior passa a impressão de que é um político integral, preparado e confiável.
Seja ou não candidata, Roseana Sarney terá influência decisiva da escolha do MDB na Capital
Nem MDB nem a ex-governadora Roseana Sarney fixaram prazo para que ela decida se será ou não candidata do partido à Prefeitura de São Luís. Não houve acordo formal nesse sentido, mas pela experiência que ela própria tem acumulada nessa matéria, certamente tomará uma decisão até janeiro, podendo assumir o desafio da candidatura e mobilizar seus partidários, ou declinar da indicação para deixar a agremiação à vontade para seguir o rumo que julgar melhor. Nos bastidores emedebista, porém, há uma certeza circulando, a de que, se não for candidata, Roseana Sarney terá influência decisiva na escolha do candidato do partido à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT). Há quem diga que ela tem um ou dois nomes no bolso do colete, mas prefere manter isso em segredo até ter a certeza de quem é melhor. Circulam também rumores de que a ex-governadora poderá sugerir ao partido uma aliança com o PV em torno da candidatura do deputado estadual Adriano Sarney, um projeto que não é sequer admitido pela cúpula emedebista, mas que poderá ser considerado se o sobrinho quebrar o gelo e conversar com a cúpula do MDB. O fato é que, depois do encontro em que ela foi lançada à revelia, o MDB abriu caminho para que a ex-governadora tenha, se não a palavra final, pelo menos participação decisiva na escolha do candidato do partido ao Palácio de la Ravardière.
São Luís, 15 de Dezembro de 2019.