Em meio a uma agenda atribulada e marcada pela polêmica e por muitas contradições, dadas as tensões políticas do momento como o adiamento da votação do projeto da Reforma da Previdência na Comissão de Constituição, por exemplo, numa reação corporativa dos senadores por causa da ação da Polícia Federal na Casa, o Senado viveu ontem um momento de sublimação ao homenagear, em sessão especial, a renomada professora, farmacêutica e fitoterapeuta maranhense Terezinha Rêgo. O ato resultou de iniciativa do senador Weverton Rocha (PDT), inspirada no fato de que a mestra e pesquisadora está completando 55 anos de trabalho intenso e produtivo na busca de medicamentos extraídos da flora maranhense. A homenagem é mais que justa, e ao fazê-la, o senador Weverton Rocha contribuiu para a coroação de uma trajetória rica sob todos os aspectos: pesquisa, descoberta, benefício à sociedade – em especial os mais pobres -, enfim, dedicação integral à causa da ciência e da vida. Além disso, Terezinha Rêgo simboliza fortemente a necessidade de preservação da flora brasileira num momento em que ela é agredida ao extremo.
A professora, farmacêutica e fitoterapia Terezinha de Jesus Almeida da Silva Rêgo não é uma cidadã qualquer. Aos 86 anos, trabalhando sem parar em busca do que há de saudável na flora maranhense, ela representa também a Universidade Federal do Maranhão, onde fundou e coordena até hoje o Herbário Ático Seabra, base da sua pesquisa e fonte de muitos medicamentos fitoterápicos repassados à baixo custo à população carente de São Luís, do Maranhão e de todo o País. Seus esforços inspiraram o Projeto Farmácia Viva-Hortos Terapêuticos, coordenado pela Secretaria de Saúde do Maranhão no atual Governo e que consiste no cultivo, conservação e utilização de plantas medicinais, sendo parte do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse trabalho ganhou o mundo, sendo reconhecido por todos os centros acadêmicos e de pesquisa do Brasil e por universidades e organizações de investigação científica de todos os continentes. As atividades desenvolvidas pela professora Terezinha Rêgo têm sido temas de monografias e teses acadêmicas, e objeto de exames por centros de pesquisa renomados, tendo lhe dado vários prêmios no campo acadêmico.
O senador Weverton Rocha acertou em cheio quando decidiu homenagear a fitoterapeuta maranhense na Câmara Alta. Isso porque, além de um gesto de justiça, a homenagem levou para o plenário do Senado uma personalidade cuja razão de existir é a preocupação com a ciência e com a saúde humana. E mais do que isso, ela representa o melhor exemplo de que, ao invés de ser alvo de destruição como está sendo, a riqueza vegetal nacional deve ser preservada a qualquer custo. Uma das marcas do trabalho de Terezinha Rego é exatamente o desenvolvimento de medicamentos à baixo custo e acessível às comunidades mais carentes, e isso depende da flora viva e diversificada. Entre suas descobertas mais marcantes estão o uso do princípio ativo da “cabacinha” no combate à sinusite e do xarope de urucum e da tintura de assa-peixe para doenças respiratórias.
– Reconhecer o valor do trabalho da professora Terezinha Rego é praticamente um dever de consciência de todo maranhense. Várias gerações, a minha incluída, cresceram conhecendo e admirando o trabalho desta mulher que dedicou a vida à pesquisa e ao desenvolvimento de técnicas de cultivo de plantas medicinais”, disse o senador Weverton Rocha, durante a sessão especial por ele presidida. Ele assinalou que atualmente o projeto tem 32 hortos implantados em órgãos estaduais, instituições de ensino, escolas, comunidades quilombolas e terreiros, além de 10.141 capacitações para manejo de hortos realizados no estado. E destacou: “As hortas medicinais comunitárias, que sempre foram um projeto de vida da professora Terezinha Rego, salvam vidas e garantem a cura para pessoas que teriam dificuldade de acesso aos caros medicamentos alopáticos”. O senador também elogiou a sensibilidade do governador Flávio Dino por criar o programa: “Fico honrado em ver que o meu estado já está trilhando o caminho de valorização da pesquisa e da ciência ao incluir o Projeto de Farmácia Viva no Programa de Políticas Públicas do Maranhão, numa iniciativa do governador Flávio Dino”.
Emocionada, a professora Terezinha Rêgo agradeceu em discurso lido pela filha, Tânia Rêgo, fechando um momento de grandeza no Senado da República.
Em Tempo: A presença do prefeito de Timon, Luciano Leitoa, na sessão especial se deve ao fato de ser ele presidente do PSB, partido ao qual Terezinha Rêgo é filiada e pelo qual foi candidata ao Senado em em 1998.
PONTO & CONTRAPONTO
Destaque
Othelino Neto garante manifestação pacífica e lançamento de Frente conservadora na Assembleia Legislativa
Mesmo com a agitação causada por manifestantes que foram ao Palácio Manoel Beckman protestar contra a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a controvertida Damares Alves, que preferiu ficar em Brasília e mandar representante, a Assembleia Legislativa oficializou ontem a Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, iniciativa da ultraconservadora deputada Mical Damasceno (PTB). Vista por muitos como fruto de uma iniciativa conservadora, com traços ideológicos da direita ranzinza, a Frente Parlamentar é, porém, um movimento legítimo, à medida que nasceu dentro de um parlamento plural e foi aprovada por votos de direitistas, centristas e esquerdistas. Pode-se discutir democraticamente os seus fundamentos, criticar o conservadorismo dos seus valores e até mesmo a sua inclinação religiosa, à medida que está declaradamente apoiada por segmentos evangélicos. A própria deputada Mical Damasceno tem deixado muito claro nos seus discursos que, para ela e os líderes que a apoiam, que religião e política andam juntas, coisa que só tolerada numa democracia que preza pela liberdade de credo.
Nesse sentido, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), demonstra muita habilidade política. Militante de esquerda, seria perfeitamente natural que ele se esquivasse de chancelar a criação da Frente conservadora criada pela deputada Mical Damasceno, passando a tarefa para outro membro da Mesa Diretora. Mais uma vez, no entanto, o presidente contrariou a lógica, não apenas presidindo o ato, mas dando-lhe a dimensão de uma iniciativa parlamentar. Antes, contrariando o costume, foi ao encontro aos manifestantes, invocou as regras da democracia e obteve deles a garantia de que seu protesto contra a ministra, que também e um direito, seria barulhento, mas pacífico. Com muita habilidade e noção de direito, o presidente da Assembleia Legislativa demonstrou que a democracia plena abriga com segurança a convivência sempre tensa e zoadenta de contrários.
Os movimentos do presidente foram decisivos para que os manifestantes externassem sua insatisfação com a ministra ausente e a Frente da deputada Mical Damasceno fosse lançada com a devida pompa. E com a presença dos deputados Arnaldo Melo (MDB), Neto Evangelista (DEM), Roberto Costa (MDB), Zito Rolim (PDT), Helena Duailibe (SD), Felipe dos Pneus (PRTB), Daniella Tema (DEM), Thaísa Hortegal (PP), Marco Aurélio (PCdoB), Wellington do Curso (PSDB) e Dr. Yglésio (PDT), além da deputada licenciada Ana Mendonça, secretária de Estado da Mulher.
Astro de Ogum deixa Comissão de Ética, pode sair da base governista e acusa secretários sem nominá-los
O ex-presidente e atual vice-presidente da Câmara Municipal de São Luís, vereador Astro de Ogum (PP), falou ontem aos seus pares sobre o caso em que é acusado de participar de um esquema de chantagear jovens para obter favores sexuais e que culminou com a sua prisão por porte ilegal de arma e de dois assessores denunciados como os chantagistas. Três pontos do seu discurso chamaram a atenção. No primeiro ele anunciou o seu desligamento da Comissão de Ética da Câmara, presidida pelo vereador Afonso Manoel (??). Uma iniciativa sensata, à medida que corre o risco de ser convidado a se retirar para ser por ela investigado caso a sua situação venha a se complicar. O outro ponto é a de conversar que terá com o prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT) para decidir se continua ou não como integrante da base parlamentar do Governo municipal. Dificilmente o prefeito lhe dirá que não quer mais o seu voto, mas com base nos valores que defende e a acusação a Astro de Ogum seja confirmada, Edivaldo Holanda Jr. certamente ficará incomodado de ter um aliado com tal perfil na sua base de apoio. Finalmente, Astro de Ogum disse que dois secretários da prefeitura comemoraram sua prisão. Não deu nomes, e isso pegou mal. Seria melhor ter ficado calado nesse caso.
São Luís, 25 de Setembro de 2019.