Quando, ainda em 2016, o governador Flávio Dino (PCdoB), respaldado pela condição de ex-juiz federal e ex-presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), começou a apontar excessos cometidos pelo então juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba e comandante da Operação Lava Jato, especialmente em relação ao ex-presidente Lula da Silva (PT), vendo neles um ostensivo viés político, muitas vozes criticaram duramente o líder maranhense. Nos últimos três anos, Flávio Dino manteve inalterada sua postura crítica em relação a atitudes e decisões de Sérgio Moro no caso envolvendo Lula da Silva, atacando com clareza e firmeza cada ato e gesto controverso do magistrado e insistindo na suspeita de que por trás de tais procedimentos nada republicanos estava em curso um ousado e bem armado projeto de poder. A controvertida condenação de Lula da Silva, impedindo-o de ser candidato a presidente, a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) e a decisão de Sérgio Moro de deixar a magistratura para se tornar ministro da Justiça de novo Governo, confirmaram em parte as suspeitas de Flávio Dino.
As bombásticas ver revelações do sítio de notícias Intercept Brasil, que deixaram os brasileiros perplexos por mostrarem as linhas gerais de um conluio criminoso do juiz Sérgio Moro com os procuradores federais responsáveis pelas investigações com o objetivo explícito de condenar o ex-presidente de qualquer maneira, atestam que o governador Flávio Dino sabia exatamente onde estava pisando e o que estava fazendo. Na sua mais recente manifestação sobre o caso nas redes sociais, Flávio Dino escreveu, em tom didático, mas com efeito devastador sobre a defesa até aqui muito frágil do ministro Sérgio Moro: “Fui juiz federal durante 12 anos e nunca: mandei no Ministério Público, determinei que procuradora fosse fazer “treinamento”, orientei procurador sobre produzir provas, mandei descumprir decisão de desembargador”. Os defensores contumazes de Sérgio Moro desta vez se calaram, evidenciando terem também sido abatidos com as revelações do conluio feito pelo Intercept Brasil.
A monumental confusão institucional que vem colocando os brasileiros em estado de alerta vem também rascunhando um desenho primário do cenário político para a sucessão presidencial de 2022. Até duas semanas atrás, Sérgio Moro se mantinha como a primeira opção da direita bolsonariana para ser o candidato à sucessão do atual presidente. Nesse ambiente, o governador Flávio Dino vem sendo cotado para ser o candidato de uma grande aliança de centro-esquerda. Agora, a ser confirmada a grande armação evidenciada pelas conversas entre o então juiz-chefe da Operação Lava Jato e membros do Ministério Público Federal com o objetivo de liquidar o ex-presidente Lula da Silva com a marca de corrupto, Sérgio Moro tende a embicar rumo ao limbo moral, ético e político. Para muitos observadores, o ministro já perdeu, de cara, a possibilidade de ser indicado para o Supremo Tribunal federal (STF), e na esteira do desprestígio que começa a atingi-lo, poderá também ver sua pretensão presidencial arquivada pelas circunstâncias. Os próximos dias serão decisivos para o ministro da Justiça, que deve ter amargado o revelador recado do chefe maior Jair Bolsonaro avisando que só confia 100% em pai e mãe.
Nesse contexto, o governador Flávio Dino constrói uma trajetória inversa, e até aqui bem-sucedida. Deixou a magistratura para encarar as urnas, elegendo-se deputado federal e duas vezes governador, acumulando respeito e credibilidade à frente de um governo eficiente, produtivo e limpo, fazendo do Maranhão uma espécie de “ilha” num mapa em que a esmagadora maioria dos estados, principalmente os mais ricos, enfrenta problemas gigantescos, causados por má gestão e corrupção. Ao contrário de Sérgio Moro, Flávio Dino segue em frente ampliando seu espaço político sem perder um só naco da sua credibilidade, e agora transitando com desenvoltura e boa perspectiva na esfera dos que podem vir a disputar vaga no Senado ou mesmo a Presidência da República. Seus alertas sobre os desvios de conduta do então juiz-chefe da Operação Lava Jato indicaram sua preocupação com a plenitude do estado democrático de direito, ameaçada por Sérgio Moro e sua turma.
Muitos enxergam uma disputa entre Flávio Dino e Sérgio Moro. Se ela existe, o governador do Maranhão, mesmo sem os gigantescos holofotes da Operação Lava Jato, está levando a melhor até aqui, de vez que seu prestígio só aumenta, enquanto o do ainda ministro da Justiça entrou de vez na rota de ladeira abaixo.
PONTO & CONTRAPONTO
Maura Jorge ganha a Funasa tendo como “patrono” o senador tucano Roberto Rocha e o aval do MDB
Nada surpreendente a nomeação de Maura Jorge comandar o braço maranhense da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Depois de se tornar aliada primeira do candidato Jair Bolsonaro no Maranhão, de ter alcançados surpreendentes 4,5% dos votos para o Governo do Estado, batendo o senador Roberto Rocha (PSDB), e de ter peregrinado semanas a fio por Brasília no período de montagem do novo Governo, sem nada conseguir, era natural que Maura Jorge, a ex-deputada estadual, ex-secretária em um dos governos de Roseana Sarney (PSDB) e ex-prefeita de Lago da Pedra fosse premiada com um filão político como a Funasa. Chama a atenção, porém, o fato de que, para ganhar o cargo, ela, agora militante do PSL, precisado do aval pelo senador Roberto Rocha, atual líder do PSDB no Senado, e também por lideranças do MDB, como a prefeita de Rosário, Irlaih Moraes, que compareceu à posse, em Brasília.
Convém registrar que a Funasa, que atua principalmente na área de saneamento com o objetivo de melhorar a saúde pública, opera quase sempre com orçamento robusto e projetos diversos, o que a torna suas superintendências regionais poderosos instrumentos de ação política muito disputadas por aliados do Palácio do Planalto. Isso explica, por exemplo, que no auge do poder do Grupo Sarney, a Superintendência da Funasa no Maranhão tenha funcionado por mais de uma década como uma espécie de feudo do então deputado federal Sarney Filho (PV). Mais recentemente, o órgão foi controlado pelo MDB, com dirigentes indicados pela cúpula do partido. Agora, o seu comando será de Maura Jorge, mas ninguém duvida que no plano majoritário o grande beneficiário dos dividendos políticos das suas ações será o senador Roberto Rocha, que já controla também a regional da Codevasf. Maura Jorge, claro, vai tirar o proveito político possível, cacifando-se para disputar a Prefeitura de Lago da Pedra em 2020 ou ambicionar um mandato vistoso em 2022, como deputada federal, por exemplo.
DESTAQUE
“Arraiá do Povo”: Assembleia Legislativa traduz o espírito social e popular dos festejos juninos do Maranhão
Vários outros arraiais animaram o fim de semana em Ilha de Upaon Açu, mas nenhum exprimiu o espírito das festas juninas de São Luís como o “Arraiá do Povo”, realizado pela Assembleia Legislativa, nas imediações do Palácio Manoel Beckman. Ali, nos dois primeiros dias – sexta-feira e sábado – deputados, assessores, servidores, convidados e o povo em geral reencontraram as expressões mais fortes e poderosas da cultura popular do Maranhão, a exemplos dos irresistíveis batalhões pesados da Maioba e do Maracanã e o Boizinho Barrica, além de quadrilhas, grupos de cacuriá e dança portuguesa, numa fantástica diversidade de ritmos, cores e movimentos e uma culinária só encontrados no mesmo espaço em São Luís do Maranhão. O presidente da Assembleia Legislativa, Othelino Neto (PCdoB), e a presidente do Grupo de Esposas de Deputados (Gedema), Ana Paula Lobato, foram anfitriões irrepreensíveis da grande festa, dedicando atenção aos presentes e aos brincantes, numa tradução correta do espírito democrático e sem barreira social que move a natureza colegiada da Poder Legislativa. Pelo “Arraiá do Povo” passaram parlamentares estaduais e federais, prefeitos, vereadores, cidadãos comuns com suas famílias, festejando sem barreiras políticas ou sociais. Nesse sentido, o “Arraiá do Povo” –cuja programação terá ponto final neste domingo – foi bem mais que uma simples festa popular em homenagem aos santos da época. Foi uma demonstração de que, além das responsabilidades institucionais de legislar, fiscalizar e dar vazão às demandas da sociedade maranhense, mantém laços fortes com a cultura maranhense, principalmente o seu viés popular. Nesse sentido, o presidente Othelino Neto e a presidente do Gedema, Ana Paula Lobato têm enfatizado a natureza popular das iniciativas sociais e culturais da Assembleia Legislativa. E nesse contexto não há dúvida de que o “Arraiá do Povo” cumpriu plenamente o seu papel no calendário cultural do Poder Legislativo. Para tanto, vale ressaltar o empenho das Diretoria da Casa, em especial a de Comunicação, comandada pelo jornalista Edwin Jinkins, cuja equipe espalhou para o mundo, em ondas de rádio e TV, as imagens da grande festa.
São Luís, 16 de Junho de 2019.