Na semana que passou, o FSBinfluênciarCongresso, um dos vários braços da web que atualmente medem o cacife dos membros do Congresso Nacional nas redes sociais anunciou uma nova medição e nela, entre os 589 senadores e deputados federais avaliados, o senador Weverton Rocha (PDT) apareceu a 115ª posição, como o congressista maranhense mais influente, e o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB) na 132ª, em segundo lugar. Independentemente das suas colocações no ranking nacional – que não é ruim, pois estão entre os 25% mais influentes -, o senador Weverton Rocha e o deputado Márcio Jerry são atualmente os congressistas mais influentes do Maranhão. O poder de fogo dos dois pode ser medido nos mais diversos aspectos, a começar pelo fato de que, além do peso político pessoal, comandam as duas máquinas partidárias (PDT e PCdoB) mais poderosas do estado, cacife reforçado pelas duas maiores bancadas na Assembleia Legislativa. Ambos adicionam aos seus arsenais o fato de serem chefes partidários com poder de decisão.
Os canais da web que medem o cacife dos congressistas via de regra utilizam a presença deles nas redes sociais, contabilizando aparições e número de seguidores, privilegiando claramente espertalhões com mandato que passam boa parte do tempo tagarelando ao vivo nas redes, mas que nada produzem efetivamente no plano parlamentar. O senador Weverton Rocha e o deputado federal Márcio Jerry estão fora dessa. Eles atuam forte e intensamente na atividade parlamentar, respondem por bancadas e partidos, são propositivos e estão efetivamente sintonizados com a pauta que de fato interesse nesse momento, como a Reforma da Previdência, por exemplo, ambos divergindo da proposta do Governo Bolsonaro. Combatem a corrente liberal, que propõe o “cada um por si e Deus por todos”, defendendo com firmeza a proteção do Estado aos menos privilegiados ou sem privilégio algum.
No Senado, onde é líder do PDT, Weverton Rocha tem mesclado sua atuação com temas destacados da pauta nacional e assuntos de interesse do Maranhão. Vem marcando posição firme na corrente que enxerga na proposta do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de Reforma da Previdência regras para prejudicar os mais pobres, defendendo com unhas e dentes a aposentadoria rural e o Benefícios de Prestação Continuada (BPC), protegendo a sobrevivência de desvalidos idosos e inválidos. Na pauta estadual, sua última iniciativa, na semana passada, foi defender o aumento, de seis para 44, do número de municípios maranhenses na região do semiárido, o que lhes assegura uma série de benefícios. Politicamente, Weverton Rocha investe pesado para fortalecer o PDT, que comanda com mão de ferro, nas eleições municipais de 2020, ampliando a construção de uma base que o leve ao Governo do Estado em 2022, já tendo a Federação dos Municípios (Famem), agora presidida pelo aliado fiel Erlânio Xavier (PDT), prefeito de Igarapé Grande, como suporte.
O deputado Márcio Jerry tem cumprido uma verdadeira maratona eletrizante, que inclui uma intensa agenda na Câmara Federal, onde atua como umas das vozes mais influentes da bancada do PCdoB, as atividades partidárias – no momento prepara o PCdoB, hoje o maior partido do estado, para disputar as eleições em 120 municipais -, e ainda uma forte atuação como o mais influente conselheiro político do governador Flávio Dino. Como parlamentar, Márcio Jerry vai aos poucos se consolidando na tribuna e nas comissões técnicas como uma das vozes mais atuantes e duras contra o Governo Bolsonaro, participando ativamente do grande debate da pauta em curso, votando ora por questões programáticas, ora por definições partidárias e ora por pragmatismo. Seu foco principal no momento é concentrar esforços para que a Câmara Federal aprove uma reforma previdenciária “que não seja a reforma que só interessa ao mercado”. Incansável, o deputado federal e líder partidário Márcio Jerry trabalha todos os dias da semana na perspectiva de manter a aliança liderada pelo governador Flávio Dino no comando do Estado.
Não há como checar as informações que levaram o FSBinfluênciarCongresso a colocar o senador Weverton Rocha e o deputado federal Márcio Jerry nas respectivas 115ª e 135ª posições do seu ranking. Certamente seus agentes não investigaram os dois parlamentares integralmente. Se seus critérios fossem mais amplos e rígidos, o senador pedetista e o deputado federal comunista provavelmente teriam colocações bem melhore, mesmo alvos que são de pesado ataques de adversários e até mesmo do chamado “fogo amigo”.
PONTO & CONTRAPONTO
No plano estadual, Othelino Neto ocupa espaço amplo na cena política com trajetória bem construída
Enquanto o senador Weverton Rocha e o deputado federal Márcio Jerry, pelas condições que detêm, movimentam-se como os membros mais influentes da bancada federal, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), atua como o nome mais destacado do tabuleiro parlamentar estadual. Othelino Neto não tem comando partidário nem herdou lastro político. Ele deve suas conquistas a uma atuação política eficiente, coisa rara na engrenagem política estadual. Othelino Neto soube avaliar o cenário de cada momento e se colocar na posição certa e na hora certa. Soube também escolher aliados, mostrou perspicácia nas articulações e chegou ao comando da Casa na esteira de uma caminhada bem planejada e bem construída, não havendo qualquer “porém” em relação ao poder que ele concentra e que manterá pelos próximos três anos e meio, reeleito que foi, antecipadamente, para o comando do Legislativo estadual. Essa construção política inteligente, além de lhe dar o comando do Poder Legislativo, o colocou no epicentro do processo sucessório estadual, com vários destinos, dependendo de outras definições. Por exemplo: se o governador Flávio Dino sair para disputar a presidência da República e o vice-governador Carlos Brandão se candidatar a governador, Othelino Neto deve ser candidato a senador. Mas, se numa outra hipótese, remota mas plausível, Flávio Dino sair e Carlos Brandão optar por outro caminho, Othelino Neto assumirá o Governo e certamente será candidato a governador. É esse potencial que administra com o cuidado de um político maduro.
Atos Secretos: Ney Bello Filho tem razões pessoais de sobra para não participar do julgamento que envolve José Sarney
O desembargador federal Ney Bello Filho não vai relatar o Caso dos Atos Secretos do Senado, que será julgado no dia 18 de junho pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O caso, apontado como um dos grandes escândalos da República neste século, tem como figuras centrais os ex-presidentes do Senado da República José Sarney (MDB), Garibaldi Alves (MDB), ex-senador pelo Rio grande do Norte, e também o então todo-poderoso diretor da Casa e hoje deputado distrital (Distrito Federal) Agaciel Maia – o ex-senador baiano Antônio Carlos Magalhães, já falecido. A rigor, o desembargador Ney Bello Filho não tem um argumento formal para fundamentar sua decisão de se dar por impedido, mas no aspecto puramente ético, no caso lastreado por uma forte dose de bom senso, o magistrado passou o processo em frente num gesto também de prudência e decência. Tivesse decidido permanecer como relator, faria sua parte sem problemas de natureza formal e técnica, mas pagaria algum preço, independentemente de qual fosse o seu voto.
Várias razões explicam a prudência do desembargador Ney Bello Filho. A primeira é o fato de ser membro destacado da terceira geração de uma família politicamente influente, que no seu auge – décadas de 50 e 60 do século passado – foi liderada pelo seu avô, o governador Newton Bello, adversário duro e implacável do governador José Sarney, que o sucedeu em 1966. A posição adversária aos Sarney foi mantida na família Bello pelo advogado Newton Bello Filho, conselheiro do Tribunal de Contas por quase quatro décadas. No final dos anos 90, numa tentativa de sepultar as diferenças entre os Bello e os Sarney, a então governadora Roseana Sarney batizou o viaduto da Cohab de “Governador Newton Bello”, homenagem recebida pelo então juiz federal Ney Bello Filho em nome da família. No início de 2003, uma traumática reviravolta na relação das duas famílias. A Operação Navalha, que prendeu o ex-governador José Reinaldo Tavares, levou junto o respeitado engenheiro civil Ney Bello, então secretário estadual de Obras e pai do então juiz federal. Sua prisão surpreendeu a todos, ganhando conotação política a partir da especulação de que os então senadores José Sarney e Roseana Sarney estariam por trás da operação, o que nunca ficou comprovado. Ney Bello saiu do escândalo inocentado e moralmente intacto, já que nada foi provado contra sua atuação correta na Secretaria de Obras. Finalmente, quando foi escolhido pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para o cargo de desembargador federal, Ney Bello Filho enfrentou, incomodado, mas equilibrado, especulações maldosas de que o ex-presidente José Sarney influenciou a então presidente da República a favor da nomeação. Nada ficou comprovado, tornando-se evidente que a escolha foi respaldada pela classe política maranhense.
Como se vê, o desembargador poderia atuar no caso, já que nada o impede. Mas as razões de natureza ética o fizeram passar a bola para o juiz federal Pablo Zuninga Doudado.
São Luís, 09 de Junho de 2019.