Não bastassem os problemas que o governador Flávio Dino (PCdoB) enfrenta na área de segurança pública, agora o Palácio dos Leões se vê obrigado a acionar a sua base na Assembleia Legislativa para, pelo menos, minimizar a dura tréplica dos deputados oposicionistas César Pires (DEM), Edilázio Jr. (PV) e Adriano Sarney (PV) à réplica do secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, a cobranças feitas pelo primeiro por causa da chamada “Chacina de Panaquatira”. Usando o twitter, provavelmente inspirado na forma de comunicação preferida do governador do Estado, o secretário, entre outras pancadas, escreveu que os parlamentares da oposição são “lixo da história” e “sabujos do Sarney”.
O clima se tornou pesado para o lado do secretário Jefferson Portela, ontem, na Assembleia Legislativa. O primeiro atingido a se manifestar foi o deputado César Pires, que usou pelo menos uma dezena de adjetivos para desqualificar o secretário: “incompetente”, “inconsequente”, “descontrolado”, “destemperado”, “incapaz”, “agressivo”, “irresponsável”, “despreparado”, “incoerente” e “metido a”. Na mesma linha se manifestou o deputado Edilázio Jr., para quem Jefferson Portela “é a incompetência em pessoa”, “despreparado para exercer cargo tão importante, porque só consegue responder uma crítica com agressão”. E Adriano Sarney também não amenizou, pois além de criticar duramente a reação “destemperada” do secretário de Segurança, cobrou uma ação da Assembleia Legislativa exigindo reparo e sugeriu, em tom de cobrança, que o governador demita Portela e nomeie o deputado Raimundo Cutrim (PCdoB) para o cargo, “que foi um grande secretário”.
O episódio é claro. O secretário Jefferson Portela pisou na bola ao reagir agressivamente às críticas dos parlamentares de oposição à atuação da Polícia, sob seu comando, na tragédia em que três pessoas, entre elas um policial, foram assassinadas por bandidos numa residência em festa, e que se tornou manchete nacional.
Dono de um temperamento forte, diante da crítica – que, diga-se de passagem, foi incisiva, mas não agressiva – o secretário, provavelmente mal informado sobre o que fora dito pelos parlamentares, esqueceu as nuanças políticas do cargo e encarnou o militante do PCdoB. E nessa condição, usou o twitter, não para responder às críticas, como faria o secretário de Estado que ele deixou de lado naquele momento, mas para dar troco a agressões que não lhe foram dirigidas. O erro foi tão grotesco, que os próprios deputados da base governista sentiram a pancada.
Na democracia brasileira, detentor de mandato parlamentar tem a prerrogativa de dizer o que pensa sem o risco de censura ou retaliação. Ao secretário de Estado não é garantido esse direito, por não ser ele detentor de mandato, mas um assessor de ponta responsável por uma tarefa de caráter administrativo. Cabe-lhe responder com esclarecimentos e explicações, e nunca com ofensas ou agressões, principalmente se a crítica ou a cobrança for feita por um deputado, seja da situação ou da oposição. E as manifestações dos deputados oposicionistas foram de cobranças duras, mas é fato que não houve excesso em nenhuma das falas. Daí não haver motivo para a reação “destemperada” do secretário de Segurança.
O virulento contra-ataque de Jefferson Portela causou forte mal-estar na Assembleia Legislativa e colocou o Palácio dos Leões numa delicada situação de defesa. Tanto que, conforme destacou Edilázio Jr., “Nenhum deputado governista saiu em defesa desse secretário incompetente”. E o incômodo do governo era tanto que após a artilharia verbal pesada da oposição contra a metralha de Jefferson Portela no twitter, o deputado governista Othelino Neto (PCdoB) – que, diga-se de passagem, tem sido competente no embate com a oposição -, teve de fazer malabarismo verbal para revelar o sentimento do Palácio dos Leões acerca do incômodo episódio.
“O governador Flávio Dino desaprova palavras ofensivas contra deputados”, disse Othelino Neto, fazendo as vezes de porta-voz do Palácio dos Leões. E em seguida criticou a oposição pelas cobranças que ela tem feito ao governo na área de segurança, recorrendo ao argumento fatal: a situação está assim porque o governo passado não fez o que deveria ter feito. Diante do esforço de Othelino Neto para minimizar o episódio, dois outros deputados governistas, Fernando Furtado e Marco Aurélio, ambos do PCdoB, ensaiaram, quase que como uma obrigação, uma defesa do secretário Jefferson Portela.
O que ficou claro ontem foi o seguinte: Jefferson Portela se comportou mal como secretário, a oposição reagiu à altura, o governo ficou numa saia justa, mas deixou claro que, mesmo com a orelha vermelha, Portela continuará no cargo. Até porque, fora os rompantes, trata-se de um bom policial.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Líder de longe
O líder do Governo, deputado Rogério Cafeteira (PSC), assistiu de longe a reação dos deputados oposicionista às pancadas do secretário Jefferson Portela. Era natural que ele ocupasse a tribuna para externar a posição do governador Flávio Dino em relação ao caso, mas a tarefa foi desempenhada pelo deputado Othelino Neto. O não envolvimento do líder no caso sugeriu uma série de indagações e ensejou especulações as mais diversas. A primeira dá a entender que o secretário não tem prestígio na bancada governista. A outra: o líder foi atropelado por Othelino Neto ou o escalou para dar o recado do governador.
Ninguém mais
O deputado Edilázio Jr. acertou em cheio quando disse que o secretário Jefferson Portela não recebeu manifestações de apoio na bancada governista. Ao contrário, ele foi duramente criticado por aliados nos bastidores por ter reagido agressivamente às cobranças feitas por deputados de oposição. As manifestações a favor do secretário se resumiram aos seus colegas de partido Marco Aurélio e Fernando Furtado. Othelino Neto defendeu a política de segurança do governo, mas em nenhum momento a associou ao secretário.
São Luís, 02 de junho de 2015.