O governador Flávio Dino (PCdoB) fez mais um movimento político ousado ao responder na bucha e com equilibrada ironia à provocação do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) desdenhando da formação do bloco PDT/PCdoB/PSB, que fará Oposição ao seu Governo na Câmara Federal. Ao tomar conhecimento da formação do bloco, Jair Bolsonaro, usando o seu estilo seco e direto, tuitou: “Se me apoiassem é que preocuparia o Brasil”. Logo em seguida, com a clareza de sempre, Flávio Dino reagiu, também no Twitter: “Jamais pensamos em tal apoio. Seria um disparate, uma vez que o nosso compromisso é, de verdade, com o Brasil, e não com os Estados Unidos”. A troca de farpas é mais uma demonstração de que esse bloco da esquerda moderada, que teve no governador do Maranhão um dos seus principais articuladores, será uma pedra no coturno do futuro presidente. E não há dúvidas de que Flávio Dino será o seu principal porta-voz, já que, pelo menos até aqui, não há nos três partidos nenhum com sua estatura política para encarar um debate aberto com o presidente da República.
Esse clima – que entusiasma os que enxergam o embate político entre Situação e Oposição como o gás que alimenta a democracia, e assombra os que acham que o governador de um estado como o Maranhão deve se curvar ao poder do Palácio do Planalto por medo de retaliação – é normal nesse cenário de incertezas desenhado pelo próprio Jair Bolsonaro, e ao qual ninguém é obrigado a se submeter. Os confrontos eventuais entre o governador e o presidente eleito, que certamente continuarão, ora em tom ameno, ora em trovoadas verbais, são de extrema importância, a começar pelo fato de que revelam, a cada trombada, quem é quem, o que querem e ondem pretendem chegar. Isso porque essas estocadas são, muitas vezes, mais reveladoras do que os discursos formais.
Em relação ao bloco PDT/PCdoB/PSB, os líderes dos três partidos acertaram em cheio ao formá-lo. São agremiações cujos perfis se aproximam muito e que de um modo geral se contrapõem a tudo o que a direita está alinhavando para cumprir a promessa de “mudar” o País. E pelas afinidades ideológicas, doutrinárias e programáticas que os aproxima, todas focadas no desenvolvimento social por meio de uma forte atuação do Estado, o PDT, PSB e PCdoB jamais poderiam se alinhar a um projeto comandado por Jair Bolsonaro, que representa rigorosamente o contrapeso da esquerda. O governador Flávio Dino tem essa visão com clareza, e não é sem razão que a cada dia se consolida como a principal voz dessa que será uma das mais ativas frente da Oposição no País.
O que os assombrados não enxergam é que, independente das abissais diferenças políticas que os separam, o governador Flávio Dino e o presidente Jair Bolsonaro terão de conviver institucionalmente, o primeiro pleiteando melhorias para o Maranhão e o segundo respondendo dentro das regras institucionais. O governador tem dito claramente que não tem qualquer problema para sentar à mesa das negociações no Palácio do Planalto. O presidente eleito, por sua vez, tem dito e repetido que não fará distinção política e que governará para “todos os brasileiros”. E numa democracia plena, como é a brasileira, tem de haver espaço para a convivência institucional, que deve ser franca e respeitosa, e para o enfrentamento político, que pode ser duro e implacável, desde que dentro das regras democráticas.
Nesse contexto, com sua autoridade política, já comprovada pela reeleição consagradora, o governador Flávio Dino tem todo o direito de rebater qualquer provocação do presidente Jair Bolsonaro, que por sua vez, autorizado pela eleição indiscutível, tem também todo o direito de provocar adversários. E que ninguém se engane: o bloco PCdoB/PSB/PDT, formado por 69 deputados e que terá como membros os deputados maranhenses Márcio Jerry e Rubens Jr. pelo PCdoB, Bira do Pindaré pelo PSB e Gil Cutrim pelo PDT, será, de fato, um pedregulho no coturno do Governo Jair Bolsonaro.
PONTO & CONTRAPONTO
Pacto pela Aprendizagem: Governador entrega maior programa do novo mandato ao secretário Felipe Camarão
Pelo tom enfático com que anunciou que seu segundo mandato será focado na Educação com o programa que batizou de Pacto Estadual pela Aprendizagem, o governador Flávio Dino pretende mesmo dar a esse programa um caráter revolucionário. Pelo que deixou entrever na sua rápida fala sobre o assunto em entrevista após a diplomação, terça-feira (25), o Governador desferiu um golpe definitivo contra o analfabetismo e na qualidade do ensino de base no Maranhão. E anunciou que a execução dessa tarefa – gigantesca e desafiadora será comandada pelo secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão. Uma das revelações do serviço público maranhense nos últimos tempos, Felipe Camarão vem dirigindo com êxito a política educacional, que está solidamente fincada num tripé formado pela rede básica de ensino do Estado, com a implantação da escola de tempo integral, programa Escola Digna e a inovadora rede de escola técnicas, os Iemas. O Pacto Estadual pela Aprendizagem envolverá os 217 municípios, de modo que ninguém e nenhuma instituição educacional pública do Maranhão, seja no âmbito do Estado e do Município, ficará de fora. Não será surpresa se, bem-sucedido, Felipe Camarão entrar definitivamente no restrito leque de opções do governador Flávio Dino para disputar a prefeitura de São Luís 2020 ou mesmo sucedê-lo em 2022. É aguardar.
Sarney fica livre de acusação no Caso Transpetro
O ex-presidente José Sarney (MDB) tirou do seu leque de preocupações a acusação de que teria participado de um esquema de desvio de dinheiro na Transpetro durante o longo período em que seu afilhado, o ex-senador cearense Sérgio Machado esteve à frente da companhia, que é o braço da Petrobras responsável pelo transporte de petróleo e combustíveis. A cura dessa enxaqueca se deu pelo pedido feito ontem pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que a denúncia seja arquivada, por prescrição. José Sarney foi denunciado em agosto de 2017 pelo então procurador-geral Rodrigo Janot, com base em delação do ex-presidente Sérgio Machado, que comandou um amplo esquema de corrupção e acusou o ex-presidente da República e outros líderes do então PMDB. Na época, José Sarney reagiu indignado, definindo Sérgio Machado como “um verme asqueroso”. Acusou também Rodrigo Janot de estar fazendo política e desafiou seus acusadores a provar a acusação. No seu pedido, a procuradora-geral Raquel Dodge explica que em razão do tempo decorrido das acusações e da idade do ex-presidente – quase 90 anos -, não pode mais haver punição. Além disso, todas as informações que vieram à tona sobre o caso indicaram que as acusações ao ex-presidente eram frágeis e inconsistentes, parecendo mesmo um esforço retórico de Sérgio Machado para aliviar sua própria barra. O pedido será analisado pelo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, que deverá confirmar o arquivamento. Ao livrar-se dessa mancha, que o vinha incomodando, o ex-presidente José Sarney terá um bom motivo para saborear um bom vinho no Natal.
São Luís, 21 de Dezembro de 2018.