O Brasil pagará um preço muito alto se o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) consumar a junção dos ministérios de Agricultura e do Meio Ambiente. O alerta contra tal projeto ganhou força ontem, na Câmara Federal, na voz do deputado federal Sarney Filho (PV), ex-ministro de Meio Ambiente, que não apenas reprovou a ideia, como também manifestou temor de que o novo Governo vá além e retire o Brasil do Acordo de Paris. A pressão que o presidente eleito está recebendo das organizações formadas por produtores rurais – entre elas a União Democrática Ruralista (UDR), fundada no início dos anos 80 pelo então jovem médico e produtor rural Ronaldo Caiado (DEM), atual senador e governador eleito de Goiás – já fez o presidente eleito mudar de posição duas vezes, causando perplexidade nos observadores e aumentando a preocupação de todos os segmentos de alguma maneira ligados à questão ambiental. As declarações de Sarney Filho foram feitas em meio a uma manifestação de deputados membros da Frente Parlamentar Ambientalista (FPA), da qual o maranhense é fundador e um dos membros mais destacados, pela militância que tem na área, considerada uma das mais sensíveis quando se fala do Brasil nos foros internacionais.
Uma das maiores autoridades da seara ambientalista do planeta, status que adquiriu na militância iniciada ainda nos anos 80, e por meio da qual foi um dos fundadores da FPA e, logo depois, do Partido Verde (PV) no Brasil, e também por ter sido ministro do Meio Ambiente nos Governos FHC (PSDB) e Michel Temer (MDB), Sarney Filho se posicionou com firmeza em relação às incertezas produzidas pelo presidente eleito sobre futuro o Meio Ambiente no País. A reação parlamentar surgiu principalmente pelo fato de o presidente eleito estar claramente inclinado a atender aos pleitos dos produtores rurais, que tentam de todas as maneiras alterar regras do Código Ambiental, principalmente no que diz respeito aos limites para desmatamento. E o fato de estar tendo a cúpula da UDR como principal interlocutor tem causado forte preocupação nos militantes conservacionistas, entre eles o ex-ministro Sarney Filho.
Na sua fala, além do alerta para o risco de desastre de uma eventual fusão das áreas de Agricultura e Meio Ambiente num só ministério, o deputado federal Sarney Filho alertou também para a possibilidade de o Governo de Jair Bolsonaro vir a retirar o Brasil do Acordo de Paris, o grande entendimento firmado por quase duas centenas de países com o objetivo de preservar o planeta por meio de medidas destinadas a evitar o aquecimento global. O compromisso do Brasil com as bases do Acordo de Paris vem também do fato de que elas foram lançadas no país, na Rio 92, a maior conferência de chefes de Estado para discutir o futuro do planeta realizada no mundo até então. O Acordo está sendo fragilizado pela ameaça do presidente norte-americano Donald Trump de retirar os EUA, sendo seguido por alguns governantes de direita, posição que, tudo indica, tem a simpatia do presidente eleito Jair Bolsonaro.
As declarações de Sarney Filho soaram como um manifesto destinado a chamar a atenção do presidente eleito e da sociedade para os riscos de tomar decisões precipitadas e equivocadas em relação a uma área como a do Meio Ambiente no Brasil, à qual o mundo inteiro se mantém vigilante. Isso porque nos oito milhões de quilômetros quadrados do território nacional estão abrigadas as mais importantes reservas florestais do planeta, que guardam um acervo imensurável em matéria de biodiversidade, como é o caso da Amazônia, incluindo aí as reservas de água doce e uma infinidade de aspectos que influenciam diretamente na conservação da vida.
O dado político a ser registrado no episódio é que, ao contrário de outros políticos, Sarney Filho não mergulhou na reclusão por não ter sido eleito para uma vaga de senador. Com autoridade política e conhecimento de causa, ele assumiu o protagonismo que tem na seara ambiental defendendo posições lúcidas e firmes diante da possibilidade real de um retrocesso altamente perigoso para o futuro do País.
PONTO & CONTRAPONTO
Aposentadoria de João Alberto abre disputa pelo comando do MDB no Maranhão
Já são evidentes os sinais de que uma disputa se arma dentro do que restou do Grupo Sarney pelo controle do braço maranhense do MDB. De um lado está o senador João Alberto, que comanda o partido desde o início dos anos 90 do século passado, quando o fundador da agremiação no Maranhão, deputado federal Cid Carvalho, caiu em desgraça por seu envolvimento no escândalo dos “Anões do Orçamento”. De lá ara cá, várias tentativas foram feitas para tirar o senador do comando emedebista, mas nenhuma deu certo. A mais recente aconteceu no início do ano passado, comandada pelo ex-deputado Ricardo Murad, que tentou chegar ao comando emedebista lançando sua filha, a deputada estadual Andrea Murad, candidata a presidente do MDB, mas não funcionou. Com a autoridade de quem administra bem o partido e a posição destacada na cúpula do Grupo Sarney, João Alberto se manteve na direção do MDB até agora. A partir de fevereiro, no entanto, ele se aposentará de vez da política, devendo também deixar o comando do MDB no Maranhão. Tudo indica que ele tentará passar o bastão para o deputado federal reeleito João Marcelo de Souza, seu filho, ou para o deputado estadual reeleito Roberto Costa. Só que, com o apoio da ex-governadora Roseana Sarney, o deputado federal reeleito Hildo Rocha já manifestou o desejo de comandar o MDB no Maranhão. É certo que outros nomes – como o deputado estadual e deputado federal eleito Edilázio Jr., hoje no PSD, o atual suplente de senador Lobão Filho, o próprio Ricardo Murad, hoje “exilado” no PRP, por exemplo – entrem na briga pelo comando emedebista. Chefe maior do MDB maranhense, o ex-presidente José Sarney, certamente tentará fazer com que o sucessor de João Alberto seja escolhido por consenso, mas até aqui o que está em construção é um cenário de disputa.
Rogério Cafeteira poderá ser convocado para o Governo
O deputado Rogério Cafeteira, líder do Governo na Assembleia Legislativa, não se reelegeu, mas não deve ficar de fora da vida pública. Rumores que correm nos bastidores governistas dão conta de que ele será convocado pelo governador Flávio Dino (PCdoB) para assumir um cargo no primeiro escalão. Não se falou ainda sobre qual o cargo, mas tudo indica que será na Governadoria, para auxiliar diretamente o governador. Rogério Cafeteira tem sido um líder correto e eficiente, gosta de trabalhar nos bastidores e só ocupa a tribuna para defender o Governo e o governador de ataques da Oposição, como os da deputada Andrea Murad -, linha de frente oposicionista e disposta a infernizar a vida do governador, o que não conseguiu, apesar dos inúmeros e agressivos discursos que pronunciou atacando o Governo. Tanto que, ao contrário de outros governistas que não conseguiram se reeleger e culpam Deus e o mundo pelo fracasso nas urnas, Rogério Cafeteira fez um discurso descente, responsabilizando a si próprio pelo fraco desempenho nas urnas por ter feito acordos equivocados.
São Luís, 01 de Janeiro de 2018.