Operação Abscondito II, da Polícia Federal: oito mandados de prisão temporária e um mandado de prisão preventiva de servidores do Sistema Estadual de Saúde, ex-servidores e empresários que atuam nessa área, e nove mandados de busca e apreensão; um deputado estadual, Antônio Pereira (DEM) – reeleito para o terceiro mandato – atingido com busca e apreensão em sua residência, em Imperatriz, e a prisão o ex-deputado estadual Ricardo Murad (MDB), que comandou, com amplos poderes, o Sistema Estadual de Saúde (SES) no Governo de Roseana Sarney (MDB). A Operação Abscondito II é a sétima fase da Operação Sermão dos Peixes, deflagrada em 2015, com o objetivo de apurar indícios de desvio de pelo menos R$ 1,2 bilhão por meio de empresas que prestavam serviços ao SES via terceirização, num esquema identificado pela Polícia Federal como uma “organização criminosa”.
O dado bombástico da ação de ontem da PF no Maranhão foi a prisão do ex-deputado estadual e ex-secretário de Saúde Ricardo Murad, cunhado da ex-governadora Roseana Sarney e, sem dúvida, a figura mais evidente e controvertida do Grupo Sarney, que com o fato sofre mais um duro golpe depois de ter sido praticamente dizimado nas urnas. Provavelmente informado de que seria preso em casa no início da manhã, Ricardo Murad deixou sua residência antes da chegada da PF, livrou-se do vexame de ser levado como um preso comum, e apresentou-se logo depois como quem estava em busca de explicações para a operação. O ex-secretário passou toda a quinta-feira prestando depoimento a delegados da PF, e se não conseguir um habeas corpus, permanecerá por cinco dias encarcerado, podendo ter sua prisão prolongada pelo mesmo período, se a PF pedir e o juiz autorizar. Mas pode também ser liberado antes, se a PF julgar que seu depoimento tenha sido satisfatório para esta etapa da Operação Sermão dos Peixes. A investigação conta com a participação do Ministério da Transparência, Fiscalização e da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Receita Federal do Brasil.
A Operação Abscondito II colocou Ricardo Murad numa situação extremamente delicada, uma vez que a PF afirma, por fontes indiretas, que já teria montado o quebra-cabeça e que nele o ex-secretário de Estado da Saúde seria uma das figuras centrais da engrenagem criminosa que teria drenado milhões dos cofres públicos por meio de esquemas criminosos montados com as empresas terceirizadas. Ricardo Murad controlava a estrutura do SES com poderes totais, com o aval pleno da então governadora Roseana Sarney – que não é alvo da investigação, segundo informou sua assessoria ao Jornal Nacional da Rede Globo. Nos cálculos da PF, o grande esquema teria desviado cerca de R$ 1,2 bilhão. Ricardo Murad tem negado com veemência qualquer envolvimento, mas não conseguiu, pelo menos até aqui, convencer a PF da sua inocência. Tanto que, a seu pedido, a Justiça bloqueou R$ 15,3 milhões em bens dos suspeitos, baseada inclusive por indícios de que um dos envolvidos teria dilapidado os bens supostamente adquiridos com dinheiro sujo. A menos que seja um ato arbitrário da Justiça por indução da PF, e prisão temporária reforçou a suspeita de que o ex-secretário estaria envolvido.
A prisão é o mais duro golpe que Ricardo Murad sofreu na sua vida pública, que começou para valer em 1986, quando se elegeu deputado estadual e venceu a disputa para a presidência da Assembleia Legislativa. No comando do Legislativo e com as costas largas do Palácio do Planalto, onde o então presidente José Sarney efetivava a Nova República, Ricardo Murad mediu forças com o então governador Epitácio Cafeteira. Em 1990, tentou em vão cassar o então presidente da Casa, deputado Ivar Saldanha (PDS), que queria assumir o Governo no lugar do então vice licenciado João Alberto de Souza. Mais tarde, em meados dos anos 90, rompeu com o Grupo Sarney, transformando a Prefeitura de Coroatá em seu “território”. Foi candidato a Governador em 1988 fazendo uma campanha agressiva contra Roseana Sarney e a família dela. Repetiu a dose com a mesma agressividade em 2002, disputando com o então governador José Reinaldo, com quem fez um acordo pelo qual seus votos foram anulados, garantindo com isso a reeleição do governador no primeiro turno. Ganhou com o gesto a Gerência Metropolitana, da qual foi demitido por “atropelar” as orientações do governador José Reinaldo. Entrou no PDT, mas as diferenças abissais com o governador Jackson lago o convidaram a procurar outro partido.
Ricardo Murad restabeleceu relações pessoais e políticas com a família Sarney em 2009, quando Roseana Sarney assumiu o Governo com a cassação do governador Jackson Lago (PDT). Pediu e ganhou o comando do SES, realizando ali uma gestão arrojada, tendo concebido e iniciado a execução do mais ousado, discutível e caro programa para construir 52 hospitais de 20 leitos, vários de 50 leitos e quatro hospitais macrorregionais, a um custo previsto superior a R$ 1 bilhão. Foi nessa empreitada que criou as empresas terceirizadas de gestão hospitalar e agora focos de supostos desvios. Em 2010, deixou a SES para concorrer a uma cadeira na Assembleia Legislativa, tendo voltado ao cargo tão logo confirmou sua eleição e a reeleição da governadora. Entre 2011 e 2014, Ricardo Murad foi de longe o mais poderoso membro do Governo de Roseana Sarney, intensificando a implantação da rede hospitalar. Nas eleições de 2014 não foi candidato, preferindo permanecer no cargo até o fim do Governo, mas elegeu, como um rolo compressor, a filha Andrea Murad (MDB) e o genro Souza Neto (PSD) para a Assembleia Legislativa, sendo acusado de ter gastado milhões público na empreitada eleitoral. Mas em 2016, já sem o controle da máquina pública, não conseguiu reeleger a mulher, Tereza Murad, prefeita de Coroatá.
De lá para cá, o ex-deputado e ex-homem-forte do Governa Roseana Sarney, um político hábil, ousado e com queda pelo enfrentamento, vem enfrentado duros revezes: foi conduzido coercitivamente para depor da PF em uma das fases da Operação Sermão dos Peixes. Além disso, teve sua candidatura a deputado federal impugnada e viu seu mundo político desmoronar com a derrota acachapante de Roseana Sarney e a não reeleição da filha, deputada Andrea Murad. E completa agora a sequência de amargos reveses com a prisão cujos desdobramentos vão depender das investigações. Nesse momento, Ricardo Murad sofre as consequências do seu próprio arrojo: sem mandato, sem privilégio de foro, preso e exposto em cadeia nacional pela rede Globo, cujo braço maranhense ironicamente pertence à família Sarney.
PONTO & CONTRAPONTO
Othelino Neto dá boas vindas aos integrantes da nova Assembleia e ganha apoio de 35
Não há mais dúvida de que o presidente Othelino Neto (PCdoB) já costurou, com pontos seguros, o apoio necessário para ser o presidente da Assembleia Legislativa para o primeiro biênio (2019/2020) da nova legislatura, que será iniciada no dia 3 de fevereiro próximo. Isso ficou demonstrado num almoço de boas-vindas que ele ofereceu ontem em sua residência aos deputados eleitos e reeleitos. Compareceram nada menos que 35 dos 42 – entre os sete ausentes a maioria já de declarou apoio.
A deputada reeleita Ana do Gás, por exemplo, justificou o apoio à eleição presidente para mais um mandato dizendo que os parlamentares da atual legislatura se sentem seguros com o presidente: “Othelino sempre defendeu os deputados, tanto de Governo quanto de Oposição, sem fazer qualquer distinção. Nada mais justo que reconduzi-lo à presidência da Casa”. Na mesma linha, o deputado reeleito Glaubert Cutrim se manifestou sua posição: “Ele é uma pessoa que sempre respeitou a todos na Casa e temos certeza de que ele continuará fazendo um grande trabalho na próxima gestão”.
Eleito para o primeiro mandato, Leonardo Sá (PRTB) disse que o melhor nome para conduzir a Assembleia Legislativa é o de Othelino Neto, com quem cultiva sólida relação pessoal: “Já estamos fechados. Ele é meu candidato a presidente da Alema”.
Visivelmente satisfeito com a reunião e as manifestações de apoio, o presidente Othelino Neto comentou: “Agradeço a manifestação de apoio dos deputados eleitos que acreditam e reconhecem o nosso trabalho à frente da Presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão. Este momento é de confraternização para que comecemos a interagir com os colegas que estarão conosco nos próximos anos neste novo mandato”.
Em Tempo: Nos últimos dias, Othelino Neto recebeu apoio dos deputados eleitos Zé Inácio (PT), Helena Duailibe (Solidariedade), Welington do Curso (PSDB), Detinha (PR), Leonardo Sá (PRTB), Pará Figueiredo (PSL), Neto Evangelista (DEM), Mical Damasceno (PTB), César Pires (PV), Pastor Cavalcante (PROS), Wendell Lages (PMN), Cleide Coutinho (PDT), Duarte Jr (PCdoB), Zé Gentil (PRB), Márcio Honaiser (PDT), Dra. Thaíza (PP), Adriano Sarney (PV), Carlinhos Florêncio (PCdoB), Professor Marco Aurélio (PCdoB), Fernando Pessoa (Solidariedade), Andrea Rezende (DEM), Edson Araújo (PSB), Rafael Leitoa (PDT), Ana do Gás (PCdoB), Adelmo Soares (PCdoB), Rigo Teles (PV), Glalbert Cutrim (PDT), Paulo Neto (DEM), Daniella Tema (DEM), Vinícius Louro (PR), Yglésio Moisés (PDT), Hélio Soares (PR), Antônio Pereira (DEM), Ciro Neto (PP), Roberto Costa (MDB), Fábio Macedo (PDT), Rildo Amaral (Solidariedade) e Ricardo Rios (PDT).
Aluísio Mendes poderá ser o porta-voz de Jair Bolsonaro no Maranhão
Os fatos mais recentes indicam que se Jair Bolsonaro (PSL) for eleito presidente da República o seu principal interlocutor no Maranhão será mesmo o deputado federal reeleito Aluísio Mendes (Podemos). A informação dessa tendência publicada pelo jornalista Marco D`Eça no seu bem informado blog, faz todo o sentido e poderá turbinar ainda mais a carreira do agente da Polícia Federal que nasceu político dentro do Grupo Sarney e que hoje se movimenta intensamente para construir um espaço para que possa atuar com independência. Aluísio Mendes tornou-se uma espécie de porta-voz do presidenciável na Câmara Federal, devendo ampliar essa ação para o Maranhão, caso a eleição do candidato do PSL de confirme.
Aluízio Mendes é uma revelação na seara política. Chegou ao Maranhão nos anos 90 escalado pela Presidência da República como assessor do ex-presidente José Sarney. Nessa atividade, ganhou a confiança do ex-presidente e foi ocupando espaços que ultrapassaram muito os limites da assessoria direta ao ex-presidente. Nessa pisada, recebeu da governadora Roseana Sarney a tarefa de montar o Grupo Tático Aéreo (GTA), uma força especial da Polícia Militar, e pelo seu desempenho tornou-se secretário de Segurança Pública, realizando um bom trabalho na pasta. E foi como secretário que ele começou a articular apoio político no interior, elegendo-se deputado federal em 2014. Na Câmara, construiu laços com a chamada “bancada da bala”, formada por deputados oriundos da área de segurança, onde conheceu o deputado Jair Bolsonaro e o filho dele, deputado, Bolsonaro. No corre-corre para mudar de partido, Aluísio saiu do PSDC e entrou no Podemos, do senador Álvaro Dias. Chegou a lançar Maura Jorge candidata ao Governo pelo partido, mas ela logo deixou o Podemos e entrou no PSL, de olho no apoio a Jair Bolsonaro. Os dois romperam e ela foi ara o PSL para disputar o Governo. Reeleito, e com a vantagem de dobrado sua votação, foi procurado por alados de Jair Bolsonaro, entre eles o filho do presidenciável, que pediu o seu apoio para o pai. Aluísio Mendes fechou com o presidenciável do PSL e deve se tornar o porta-voz do presidente no Maranhão, o que poderá significar um salto enorme na sua carreira.
São Luís, 18 de Outubro de 2018.