Poucas pesquisas de avaliação de desempenho de Governo causaram tanto frenesi no meio político maranhense quanto à realizada pelo instituto Exata e segundo a qual 60% dos maranhenses aprovam o governador Flávio Dino (PCdoB). O Palácio dos Leões e seus aliados comemoraram intensamente a informação essa manifestação da opinião pública, enquanto seus adversários deixaram a cautela de lado e partiram para a desqualificação do levantamento, que ouviu 1.400 pessoas em todas as regiões do Maranhão. As reações refletiram com precisão o estado de ânimo das forças políticas do estado no momento em que suas lideranças tentam articular definições para o embate eleitoral do ano que vem. O PCdoB e o grupo partidário que mantém como aliado enxergam na avaliação da opinião pública expressada na pesquisa o gás que o governador Flávio Dino precisa levar à frente, com certa segurança, o seu projeto de renovar o mandato por mais quatro anos. O PMDB e os partidos que certamente apoiarão uma eventual candidatura da ex-governadora pemedebista Roseana Sarney reagiram usando todos os recursos ao seu alcance para, pelo menos, minimizar o impacto da avaliação.
A banda governista tem todas as razões do mundo para transformar os 60% de aprovação do governador em motivo de festa. Começa com o fato de que nenhum dos demais governadores tem aprovação tão elevada, o que torna Flávio Dino um quadro diferenciado num contexto dominado pelos reflexos negativos da crise, tanto na sua postura como chefe de Estado como no seu desempenho como chefe de Governo. E com um detalhe a mais: o presidente da República. Michel temer (PMDB) tem a aprovação de somente 10% da população.
Como chefe de Estado, o governador do Maranhão tem se destacado por um respeito evidente à ordem institucional, não se tendo conhecimento de qualquer atitude ou gesto para afrontar os postulados básicos da democracia, ainda que ideologicamente sua visão seja, em tese, diferenciada do status quo vigente. Como chefe de Governo, Flávio Dino tem cumprido à risca as suas funções de responsável maior pelo funcionamento até aqui equilibrado da máquina pública, que no ano passado, por exemplo, realizou um Orçamento de R$ 16 bilhões, em custeio, pessoal, compromissos e investimentos. E com um detalhe: não se teve o registro de qualquer suspeita de distorção que pudesse ser caracterizada como desvio, corrupção ou coisa parecida. Mesmo levando-se em conta o fato de que lisura é obrigação, não há como não ter a atenção chamada para esse diferencial, o que em parte explica a expressiva aprovação popular.
As forças comandadas pela ex-governadora Roseana Sarney reagiram mal à elevada aprovação de Flávio Dino, mas o fizeram politicamente, dentro dos limites aceitáveis de um confronto político. Afinal, esses 60% de aprovação são um indicador seguro de que até aqui o governador está credenciado para pleitear a renovação do mandato. Política que não dá um passo sem investigar o cenário por essa via, a ex-governadora Roseana Sarney conhece melhor que ninguém o poder de fogo de indicadores levantados em pesquisa de opinião. Pode até estar estimulando seus aliados a disparar dúvidas sobre os números divulgados pelo instituto Exata, mas sabe que que essas informações têm fundamento, e que o melhor caminho é se preparar para encarar a realidade de ter de enfrentar, se for o caso, um candidato fortíssimo, com posição de favorito.
Roseana Sarney tem consciência de que tem lastro pessoal e cacife político para pleitear mais uma temporada como inquilina do Palácio dos Leões, e sabe disso exatamente porque contrata pesquisas de opinião para monitorar a si e aos adversários, o que lhe dá segurança na avaliação dos cenários possíveis da disputa. O momento para ela é crucial, exatamente por ser o período em que procura os meios políticos de viabilizar sua candidatura. Daí não surpreender a reação tão dura aos 60% de aprovação do governador Flávio Dino encontrados pelo instituto Exata.
PONTO & CONTRAPONTO
Zé Inácio fortalece posição na briga pelo comando do PT
Depois de um longo período de maturação, conversas, consultas e entendimentos, o deputado Zé Inácio lançou sua candidatura à presidência do PT no Maranhão, consolidando sua posição de representante efetivo da corrente que segue a liderança do ex-presidente Lula da Silva, que hoje comanda o partido. Tendo como aliado o grupo comandado pelo atual presidente do partido, Raimundo Monteiro, Zé Inácio montou a chapa “Por um Maranhão mais justo para todos e para Lula”, o parlamentar assumiu de vez o projeto de propagar a provável candidatura presidencial do ex-presidente no estado, associado ao movimento liderado pelo governador Flávio Dino.
Um dos mais ativos quadros da nova geração de políticos do PT, o deputado Zé Inácio é um militante incansável, que mesmo diante das adversidades que o partido vem enfrentando, mantém o discurso petista sem abrir mão de nenhum dos postulados do partido. Sua candidatura não é um projeto pessoal, mas parte de um grande projeto nacional que tem por objetivo resgatar a identidade política e ideológica do PT e levar novamente Lula da Silva ao poder.
O projeto de candidatura de Zé Inácio ganhou peso nos últimos dias, quando depois de tentar de todas as maneiras, mas sem sucesso, unificar o PT em torno de um projeto comum, ele decidiu ir para o enfrentamento com outros candidatos: Chapa Mudança- Lobato (Mudança), Paulo Romão (Lula Presidente), Francimar (CNB na Luta) e Eri Castro (Piracema Já). A eleição será no domingo, dia 9.
Associação de ex-prefeitos. Para quê?
Em discurso fortemente dosado de emoção e preocupação, o deputado César Pires (PEN) fez ontem uma enfática defesa do fortalecimento de uma entidade absolutamente atípica, a União Nacional dos Ex-Prefeitos (UNEP), que instalou recentemente o seu braço no Maranhão. Surpreendeu mais ainda o fato de no seu discurso o parlamentar revelou que o objetivo maior da entidade não é estimular ex-prefeitos a usar sua experiência para contribuir para o aprimoramento das gestões municipais, mas pura e simplesmente procurar mecanismos que ajudem ex-dirigentes municipais a vencer dificuldades pessoais e ganhar melhores condições de vida!
Não se discute que possa haver boas intenções por trás de uma associação dessa natureza, mas não há como não discutir sua existência. Como é possível que, diante de tantos problemas que enfrenta, a sociedade venha a se preocupar com um ex-prefeito que esteja enfrentando dificuldades? O que tem o cidadão comum, dirigentes públicos ou detentores de mandato a ver com isso? No seu discurso, o deputado César Pires não deixou claro quais meios ele sugere para que ex-prefeitos sejam amparados. O parlamentar revelou que acreditava que a Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem) tivesse um braço com essa preocupação. Não o tem, exatamente porque não faz nenhum sentido tê-lo.
O associativismo é geralmente corporativo, usado para defender direitos e interesses de uma categoria profissional, um segmento social carente de amparo, ou coisa parecida. Mas seu uso foi tão vulgarizado, que acabou abrindo caminho para o surgimento de entidades do tipo Associação dos Ex-deputados Estaduais do Maranhão, abrindo caminho para a recém instalada Associação Nacional dos Ex-Prefeitos, que deve abrir caminho para a associação de ex-vereadores, se esta já não existir.
Se os autores e incentivadores acham importante defender interesses de ex-prefeitos, que os defendam; mas nem ousem pensar na tentadora ideia de levar a conta para o poder público bancar.
São Luís, 04 de Abril de 2017.